Ciência
O MAIOR OBJETO DO UNIVERSO
Marcus WooDa
BBC Earth
Há mais de dez anos, enquanto mediam a temperatura do Universo,
astrônomos encontraram algo estranho: uma faixa do espaço com uma largura
equivalente a 20 luas e que era extraordinariamente fria.
A descoberta ocorreu quando esses cientistas exploravam a radiação de micro-ondas que envolve todo o Universo, conhecida como Radiação Cósmica de Fundo em Micro-ondas (CMB, na sigla em inglês). É a região que temos mais parecida com o que era o Universo quando ele foi criado.
A
CMB permeia o espaço e tem praticamente o mesmo aspecto em todas as áreas,
emitindo uma temperatura fria de 2.725 kelvins ─ apenas alguns graus a mais do
que 0oC. Com o uso novos satélites com sondas para micro-ondas (WMAP, na sigla
em inglês), os astrônomos passaram a tentar descobrir as mínimas variações de
temperatura nessa massa.
Foi
ali que eles encontraram essa área fria, que, apenas recentemente, foi atribuída
a uma gigantesca caverna vazia, chamada de "supervazio" cósmico ─ tão
grande que pode ser o maior objeto existente em todo o Universo.
Segundo
a teoria, um vazio tão enorme, onde não existe nem uma mera estrela, pode
deixar uma marca glacial na CMB.
A formação da área fria
Tudo
o que existe no cosmos ─ galáxias e matéria negra invisível ─ se espalha pelo
espaço em uma vasta rede de filamentos. Entre eles, há bolsões de vazio de
várias formas e tamanhos.
Um
vazio realmente grande pode atuar como uma lente, fazendo o CMB parecer mais
frio do que é.
Assim
como a maioria das coisas, a luz também está sujeita à influência da gravidade,
que age sobre os fótons em seu trânsito. Mas dentro do vazio, a escassez de
matéria faz com que não exista praticamente gravidade. Quando um fóton penetra
no vazio, ele perde energia, mas depois pode recuperar a energia perdida.
Enquanto
um fóton navega por um vazio, o Universo continua a se expandir. Quando o fóton
sai do vazio, encontra a matéria mais espalhada. Por isso, o efeito da
gravidade sobre ele não é tão forte.
Físicos
descreveram esse fenômeno pela primeira vez no fim dos anos 60, mas ninguém
nunca o observou. Depois da descoberta da área fria, astrônomos como Istvan
Szapudi, da Universidade do Havaí, começaram a buscar provas desse
comportamento, chamado efeito de integração Sachs-Wolfe (ISW), e as encontrou
em 2008.
Szapudi
e sua equipe procuraram pelo efeito ISW na análise estatísticas de cem vazios
ou aglomerações de galáxias, e descobriram que o fenômeno muda a temperatura da
CMB em cerca de 10 milionésimos de kelvin (ou 10 microkelvins).
Em
comparação com a área fria, que tem uma temperatura 70 microkelving mais fria
do que a média da CMB, trata-se de um efeito pequeno. Mas os cientistas
conseguiram mostrar que os vazios podem criar áreas frias ─ e um supervazio
seria capaz de formar uma grande área fria.
Para
procurar pelo supervazio, Szapudi e seus colegas varreram uma área que cobriria
o local onde estaria a área fria. Eles a encontraram a menos de 3 bilhões de
anos-luz da Terra, e descobriram se tratar de um objeto gigantesco.
Seu
raio mede mais de 700 milhões de anos-luz, o que faz dele provavelmente a maior
estrutura física do Universo.
Segundo
o astrônomo, um vazio tão enorme não é comum, assim como é raro que uma área
fria esteja coincidentemente alinhada com o vazio. "É muito mais provável
que o vazio esteja gerando a área fria", diz ele.
Dúvidas sobre a estrutura
Mas
outros astrônomos ainda duvidam que se trate de um supervazio.
Patricio
Vielva, da Universidade da Cantábria, na Espanha, que liderou a descoberta da
área fria em 2004, acredita na possibilidade de essa região ser o resultado de
uma textura cosmológica, um defeito no Universo semelhante às fissuras
encontradas no gelo.
Segundo
teoria, um vazio tão enorme no espaço pode deixar uma marca glacial na CMB
Em
2007, Vielva conseguiu demonstrar que se existe uma textura no Universo, ela
poderia criar a área fria através do efeito ISW.
Já
o astrônomo Rien van de Weijgaert, da Universidade de Groningen, na Holanda,
acredita que a textura seja mera especulação.
"Para
a maioria de nós, o supervazio ainda parece ser a melhor explicação para a área
fria", afirma o holandês.
Para
entender mais, é necessário coletar mais dados. Por enquanto, fazendo mais
observações que possam trazer medidas mais precisas do tamanho e das
propriedades do supervazio.
Se
o supervazio for realmente confirmado, ele será a primeira medida de um objeto
que deixa uma marca na CMB através do efeito ISW. Isso é importante não apenas
pelo tamanho extraordinário da estrutura. "Teremos com ele uma maneira a
mais para estudar a energia negra, que é uma das coisas mais intrigantes do
Universo", afirma Szapudi.
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