OS
FATORES DE SUCESSO DAS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO NA FINLÂNDIA E NA COREIA DO SUL
Colaboração de Fernando Alcoforado*
É de grande importância identificar os fatores de sucesso
nas políticas de educação da Finlândia e da Coreia do Sul porque ambos os
países costumam ocupar posições de destaque nos rankings do Programa
Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). A análise do artigo de Marcelo
Gonzatto Coreia do Sul e Finlândia são exemplos de como se investir em
educação, publicado no website , permite identificar os fatores básicos de
sucesso na educação da Finlândia e da Coreia do Sul que, com dimensões,
culturas e sistemas escolares bastante diferentes, vêm conseguindo resultados
similares, nas últimas décadas, na missão de educar crianças e adolescentes em
nível de excelência.
As lições da
Finlândia
Em cada escola finlandesa, os professores estão
permanentemente atentos ao aproveitamento dos alunos. Ao primeiro sinal de
dificuldade em aprender qualquer conteúdo, soa um alerta que mobiliza toda a
escola. O professor pede ajuda a um professor especial, dedicado a derrubar
barreiras à aprendizagem. Além disso, todos os casos são discutidos por um
“comitê de socorro” que pode incluir o diretor, psicólogo, outros professores e
até pais.
Esse tipo de estratégia desperta tanta confiança no sucesso
das escolas que o governo finlandês não impõe qualquer tipo de avaliação externa
– para surpresa dos milhares de estrangeiros que costumam visitar a Finlândia
em busca de receitas para seus próprios sistemas educacionais. Isso só é
possível graças a outro fator: a extrema qualificação dos educadores. Esse
nível de autonomia, que permite ainda a cada professor ajustar o currículo
básico nacional à sua realidade local, conta com uma força de trabalho
habilitada com diploma de mestrado e selecionada entre a elite dos estudantes
do país.
Na Finlândia a carreira do magistério atrai a elite dos
estudantes. Os melhores alunos viram professores na Finlândia. Como resultado
da grande procura apenas um em cada 10 candidatos consegue vaga nos cursos
universitários que preparam os educadores para atuar nas escolas. A formação é
outro diferencial do ensino finlandês porque todos os professores precisam
contar com o título de mestres em educação para conseguir trabalho.
Cada escola finlandesa conta com uma “tropa de elite” para
garantir que nenhum estudante fique para trás em rendimento. Ao primeiro sinal
de dificuldade, o professor pede a interferência de outro educador. Esse
colega, pelo sistema chamado de “educação especial”, se dedica a atender as
dificuldades específicas do aluno. Ao longo da vida escolar, não é raro
qualquer estudante finlandês ser encaminhado para o professor especial – e isso
não é encarado como fracasso. Diretor e professores se reúnem para discutir a
situação de cada aluno.
Na Finlândia, a profissão de professor tem status elevado. O
que faz o magistério competir em igualdade com outras carreiras de ponta é o
reconhecimento social, a autonomia e as boas condições de infraestrutura. O
governo nacional estabelece 2 definições gerais do currículo, mas cada
professor pode adaptá-lo às características locais. Isso cria um ambiente de
profissionais altamente motivados.
A Finlândia consegue
excelentes resultados mesmo sem grandes investimentos. O salário dos
professores se situa na média dos países europeus, assim como a verba da
educação por aluno. O segredo está em aplicar a maior parte do dinheiro
diretamente nas escolas e salas de aula. Isso é possível graças a um sistema
enxuto em que até os diretores costumam lecionar e há poucas instâncias
burocráticas. A estrutura administrativa inclui as autoridades federais da área
e os governos municipais, que respondem pela maior parte das escolas.
As lições da Coreia
do Sul
O modelo de educação implantado pela Coreia do Sul combina
um dos mais elevados investimentos governamentais do mundo – com 7,6% do PIB
destinado à educação – com a determinação das famílias do país de garantir um
aprendizado de alto nível para suas crianças e adolescentes. Para isso, os pais
costumam se envolver na gestão dos colégios. Os educadores, que são bem pagos e
trabalham em escolas com excelente infraestrutura, são auxiliados e monitorados
pelos pais dos alunos, em um dos maiores diferenciais do modelo coreano. Lá, as
famílias ajudam a organizar as escolas.
Os pais podem fazer parte do chamado Conselho da Escola com
um grau de autonomia que permite interferir na seleção e na promoção de
professores, organizar eventos de reciclagem profissional e outras atividades
cruciais para o funcionamento de uma instituição de ensino. O foco, público e
privado, é na Educação Básica. Assim, boa parte dos investimentos e dos
melhores educadores é destinada aos ensinos Fundamental e Médio, enquanto no
Brasil a excelência se concentra no Superior.
Uma explicação para os estudantes coreanos despontarem nos
exames internacionais enquanto os brasileiros apresentam desempenho medíocre se
situando nas últimas colocações resulta do fato de os orientais simplesmente
estudarem mais. Em média, enquanto um aluno brasileiro passa cerca de quatro
horas e meia na escola, no outro lado do mundo esse tempo chega a mais do que o
dobro. As crianças coreanas estudam em tempo integral perto de 10 horas, e
algumas ainda complementam com atividades extraclasse. No nível equivalente ao
Fundamental, mais de 80% das crianças contam com algum tipo de estudo
complementar.
Quase todas as escolas têm associações de pais atuantes, que
se encontram regularmente e escolhem representantes para cada sala ou série.
Esses "delegados" servem de ponte entre os demais pais e a
administração da escola. Outros atuam como voluntários em serviços de apoio,
como monitores de trânsito em frente à instituição, seguranças nos quarteirões
ao redor do colégio, nas cafeterias, bibliotecas ou em passeios. Como estão
constantemente nas escolas, acompanham de perto o que acontece na sala de aula,
conhecem o currículo e os recursos e assim, podem cobrar dos filhos e das
autoridades.
Um dos fatores para o sucesso de sistema educacional da
Coreia do Sul são os professores que são muito valorizados socialmente. Além de
serem bem pagos com a formação mínima exigida, contam com grande reconhecimento
da sociedade. Em 2005, o governo coreano começou a investir fortemente em
tecnologia da informação e comunicação nas escolas, distribuindo equipamentos
como laptops. Também lançou um programa pelo qual os alunos podem acessar o
conteúdo pela internet, a partir de qualquer computador. Agora, há um projeto
para digitalizar todo o conteúdo do currículo quando escolas de ensino
Fundamental e Médio contarão com livros didáticos em versão informatizada.
Pelo exposto, mesmo com sistemas distintos, os sistemas de
ensino da Finlândia e da Coreia do Sul que costumam ocupar posições de destaque
nos rankings do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), exame
que mede o quanto alunos de mais de seis dezenas de países aprendem em leitura,
matemática e ciências, podem servir de modelos para a educação brasileira que,
lamentavelmente, coloca o Brasil em 58º lugar entre 65 países.
* Fernando
Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de
Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento
estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de
sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora
Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo,
2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de
doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e
Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do
Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA,
Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento
Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010),
Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os
Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV,
Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no BrasilEnergia e Mudança Climática
Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).
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