Arte pictórica
Publicado por Diana Caldeira Guerra,
gosta de
caracóis temperados no verão, canja de galinha no inverno e autores clássicos
em todas as estações do ano
Pode tudo ter nascido de uma
brincadeira: depois de escrever uma carta, Ben Heine reparou na transparência e
desenhos. O resultado é a estranha harmonia de cenários do papel e decidiu
criar uma série de imagens que colocassem em justaposição fotografias
fotográficos e desenhos com elementos surreais.
Com o software disponível hoje, todos nós
podemos dar uns retoques à realidade. Ajeitar uma coisa aqui, outra ali: basta
usar programas como o Photoshop. Depois, existem aqueles que dominam a arte
digital e conseguem criar imagens completamente novas a partir de uma
fotografia. Contudo, Ben Heine encontrou um caminho totalmente diferente daquele
a que estamos habituados para alterar a realidade da fotografia: de forma
inovadora, ele altera as imagens com simples desenhos feitos a lápis em folhas
brancas.
De forma quase artesanal, Heine muda e
complementa as suas fotografias com a grafite dos lápis, criando uma nova
realidade, imaginada por si. O trabalho Pencil vs Camera é,
por isso, o resultado da junção das suas duas paixões: a fotografia e o
desenho. Com 27 anos, estudou jornalismo, e aí descobriu a importância da
escrita e do lápis, mas também o impacto de uma fotografia. Depois de dez anos
a tirar fotografias e a desenhar, Pencil Vs Camera pareceu-lhe
o próximo passo na sua carreira artística.
A ideia de juntar as duas técnicas surgiu-lhe
no início de 2010, enquanto via televisão ao mesmo tempo que escrevia uma
carta. Ao reler o texto, antes de pôr a carta no envelope, reparou na
transparência do papel, que lhe permitia ver as imagens que passavam atrás, na
televisão. Apercebeu-se rapidamente que poderia fazer algo similar, juntando
duas ações diferentes e aí começou a trabalhar na sua ideia. O primeiro
trabalho desta série surgiu no mesmo dia. Juntou duas cadeiras e uma pequena
mesa no jardim para o cenário e começou a desenhar no papel a imagem que via à
sua frente. Depois, foi só tirar uma fotografia com o enquadramento correto.
Nas tentativas seguintes, Ben Heine começou a
introduzir diferentes elementos, estranhos à realidade, de forma a criar duas
dimensões diferentes em harmonia na mesma imagem. O truque está em dar uma
certa continuidade à fotografia no desenho, de forma a que o impacto visual
seja maior, e a partir daí introduzir novos elementos. O espectador esquece-se
do que está do detrás do papel e vê a imagem como um todo. Desenho e fotografia
tornam-se duas formas diferentes de expressão que se unem para o mesmo fim:
partilhar uma ideia, uma emoção ou uma mensagem.
Para chegar a estes resultados, Heine alterna
a técnica tradicional e a digital. Na primeira, todo o processo é feito sem a
ajuda do computador. Ele desenha primeiro num papel, segura-o e enquadra-o e,
finalmente, tira uma fotografia com a mão livre. A forma digital consiste em
usar software de tratamento de imagem, ou para enquadrar a imagem, ou para
desenhar tudo no computador. Claro está que esta últma opção requer muita
habilidade por parte do desenhador para criar o contraste entre lápis e
fotografia.
O objectivo deste artista visual nascido na
Costa do Marfim é chegar às 100 imagens para esta série. Considerando-se
autodidata, deixou o jornalismo e trabalha há oito anos nas artes gráficas em
Bruxelas, tendo já colaborado com revistas como o Daily Mail, Daily Mirror e a
Rolling Stone.
Imagens © Ben
Heine - 2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário