Política nacional
(O movimento é contra a
crise, e Dilma é a própria crise.
Estes subtítulo e grifo são deste Blog)
Expectativa é que Cunha arquive
pedidos, e oposição entraria com recurso
GIL ALESSI São Paulo
El País – O Jornal Global
A oposição
à presidenta Dilma Rousseff voltou à carga com a
estratégia de colocar o processo de impeachment na pauta do Congresso. O rebaixamento da nota de investimento do país, divulgado pela
agência Standard & Poor’s, e o anúncio do orçamento com um déficit de 30
bilhões de reais para 2016, fez o assunto voltar com força. As engrenagens que
movem o processo de uma eventual cassação da presidenta andam rápido ou devagar
de acordo as idas e vindas da crise do Governo. Se por um lado o acordo do
Planalto com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e a já esquecida Agenda Brasil ajudaram a arrefecer os ânimos do Congresso,
os episódios dos últimos 15 dias colocaram mais lenha na fogueira. Assim, esta
semana pode ser decisiva para o futuro do Governo.
Na Câmara dos Deputados a expectativa é de que haja movimentação
dos pedidos de impeachment enviados à Casa. Os parlamentares da oposição –
e alguns dissidentes da base - esperam que o presidente Eduardo Cunha(PMDB-RJ) arquive alguns dos requerimentos para
colocar sua estratégia em andamento. A ideia é entrar com um recurso para
derrubar a decisão do líder peemedebista, e então dar continuidade à tramitação
dos pedidos. Dessa forma, Cunha, que rompeu com o Planalto meses atrás, não
ficaria com a pecha de artífice do impeachment, mas colheria os frutos do
impedimento.
Caso a
estratégia traçada tenha sucesso, Dilma terá o prazo de 10 sessões para se
defender, e em seguida uma comissão especial de deputados daria seu parecer
sobre o assunto, que em seguida vai para votação no plenário. Caso dois terços
dos deputados votem favoravelmente, será instaurado um processo de impeachment,
que segue para o Senado. Dependendo da celeridade dada por Cunha às sessões, todo
o processo descrito acima pode chegar ao seu desfecho em questões de semanas,
tendo em vista que o presidente da casa pode abrir e encerrar várias sessões em
um mesmo dia. Ele nega que irá arquivar pedidos de impeachment nesta semana. Ao
blog do jornalista Fernando Rodrigues ele afirmou que “Não está no meu
horizonte proferir decisão nesta semana”. Mas o histórico de enfrentamento
entre ele e o Planalto e o desgaste do Governo levam a crer que o assunto pode
avançar na Câmara.
Além disso,
ele será pressionado para agir com celeridade. O deputado Marcus Pestana
(PSDB-MG), afirma que “a oposição pretende instar o Cunha a se manifestar
sobre o pedido do Hélio Bicudo, anexado com o parecer do Miguel Reale Junior, ainda nesta semana”. Bicudo é um dos fundadores
do PT, que rompeu com o partido em 2005. Pestana não acredita, no entanto, que
o processo de abertura de recurso e o prazo para que a presidenta se manifeste
será finalizado ainda nesta semana.
A oposição
pretende instar o Cunha a se manifestar
sobre o pedido do Hélio Bicudo ainda nesta semana
O anúncio da
equipe econômica nesta segunda de que o Governo vai apertar mais o cinto
poderia dar tempo à presidenta, acredita Luciano Dias, do Instituto Brasileiro
de Estudos Políticos. “[O pedido de impeachment de Dilma na Câmara] é uma manobra
regimental trivial, é só uma questão de oportunidade. Como o Governo está anunciando cortes, acho que a oposição vai avaliar
antes de agir”, afirma o cientista político. Ele acredita que caso o Planalto
aposte na redução de custos e não no aumento de impostos, haverá uma tendência
a arrefecer os ânimos. “Até porque o impeachment é definido pelo número de
votos que eles conseguem arregimentar. E no momento não me parece que a
oposição tenha os votos para isso”, diz. Pestana discorda. Para ele, ainda que
o Governo tenha mostrado disposição para ampliar cortes, o ímpeto da oposição
não deve ser apaziguado: “o Governo é tão ruim, que mesmo quando faz a coisa
certa faz do jeito errado. Cada semana para o Planalto é uma emoção”.
Já o
deputado Mendonça Filho, líder do DEM na Câmara e uma das vozes mais ativas na
defesa do impeachment, acredita que esta semana ainda será preciso tirar
dúvidas com relação ao procedimento. “Esta semana vamos protocolar uma questão
de ordem para entender o passo a passo: prazos para recurso, quem tem
legitimidade para fazer este questionamento, se é só o autor do pedido ou os
deputados”, afirma. Ele acredita que o pedido do Hélio Bicudo reforçado por um
parecer do TCU com relação às pedaladas é o melhor caminho para tirar Dilma do
poder. “Acho pouco provável que a impugnação da chapa Dilma/Temer avance no
Tribunal Superior Eleitoral”, diz, mencionando uma ação que o PSDB move na corte para investigar
financiamento irregular e abuso de poder da campanha da petista em 2014. O
processo é turbinado pelas investigações da Lava Jato. A dúvida, porém, é como
um pedido de impeachment com base em pedaladas cometidas no ano passado,
ou seja, no último ano do primeiro mandato, pode bloquear o segundo mandato. No
entendimento de diversos juristas, a cassação de mandato de um presidente só
pode acontecer a partir de erros cometidos durante o mesmo mandato que estiver
em julgamento.
No dia 10,
um dia depois da perda do grau de investimento do Brasil, cerca de 50 deputados
da oposição e dissidentes da base de Dilma criaram uma frente parlamentar pelo
impeachment. No ato de lançamento da iniciativa, Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) afirmou que “a saída da presidente
é inevitável, e é importante que o PMDB tome consciência disso para dar o
exemplo”. A saída da presidenta, no entanto, não é consenso dentro da legenda
de Vasconcelos. O próprio vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP), em viagem oficial a Moscou, afirmou que a petista irá
completar o mandato, e o líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani, assinou
um manifesto de apoio à mandatária nesta terça, ao lado de parlamentares do PC
do B, PP, PSD e Pros. No ato, ele garantiu que Dilma está “100% forte no
cargo”.
Ainda nesta semana delator da Lava Jato que afirmou
ter camuflado propina como doação oficial ao PT irá à CPI da Petrobras
O
senador Aécio Neves não compareceu ao evento da frente
anti-Governo, embora não perca a oportunidade de apoiar um processo do gênero
quando questionado. No ato da oposição também foi lançado um site para coletar
assinaturas para uma petição pró-impeachment. O grupo aposta suas fichas no
requerimento de impeachment feito pelo fundador do PT Hélio Bicudo. No texto, o
advogado fundamenta seu requerimento citando as pedaladas fiscais do Governo Dilma – que usou recursos de
bancos públicos para pagar programas sociais – e o eventual conhecimento da
mandatária com relação ao escândalo da Petrobras.
Na
sexta-feira, os movimentos pró-impeachment Nas ruas, Movimento Liberal Acorda
Brasil, Brasil Melhor e Avança Brasil Maçons chamaram a imprensa para anunciar
que iriam pedir a Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para anexar seus pedidos de
impeachment ao pedido que Bicudo protocolou no último dia 1. "Do ponto de
vista social é de grande importância [essa junção dos pedidos]", afirmou
Carla Zambelli, dos nas ruas. Ela disse ainda que o pedido do Hélio Bicudo
"é muito importante, porque ele começou uma história como fundador do PT,
e achamos relevante que agora ele finalize essa história", informou Marina Rossi.
A linha de
ação da oposição ganhará ainda mais força caso o Tribunal de Contas da União rejeite as contas de
Dilma relativas a 2014 em função das pedaladas fiscais. Isso fortaleceria a abertura de
um processo de impeachment por suposto crime de responsabilidade. Na semana
passada o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, entregou à corte a nova
defesa do Governo, após o relator do processo, ministro Augusto Nardes,
questionar alguns pontos da justificativa anterior. No novo texto o Planalto se
compromete a acolher recomendações do TCU, mas também insiste na tese de que as pedaladas
foram adotadas por outros governos e nunca foram questionadas. Nos bastidores,
porém, petistas já dão a derrota na corte como certa.
No front da
Lava Jato, o Planalto também se prepara para mais notícias desagradáveis.
Também para esta terça-feira está marcado o depoimento do empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC na CPI da Petrobras da
Câmara. Ele é apontado pelo Ministério Público e pela Polícia Federal como o
coordenador do cartel de empreiteiras que atuava na Petrobras - embora a Odebrecht seja apontada como a empresa líder do cartel - , e em depoimentos
prestados em decorrência de seu acordo de delação premiada teria afirmado que
pagou propina por meio de doações oficiais a partidos e políticos. O PT teria
sido beneficiário de 3,6 milhões de reais, e segundo o executivo o partido
recebe dinheiro de propina desde 2004. Na comissão ele deve ser pressionado a
falar sobre pagamentos feitos à campanha de Dilma, o que pode desgastar ainda
mais a petista.
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