Raymundo Pinto, desembargador aposentado do
TRT, é escritor, membro da Academia de Letras Jurídicas da Bahia e da Academia
Feirense de Letras.
Como resultado de uma curta viagem turística
que fiz a Cuba e Panamá, publiquei aqui, há poucos dias, um artigo contendo
minhas observações sobre o primeiro país. Trago agora aos leitores algumas das
principais informações que consegui colher no segundo país, sem deixar de
acrescentar impressões pessoais. Antecipo que me surpreendi com a atual fase de
progresso acelerado e de futuro promissor em que vive o povo panamenho.
Por longo tempo, o país era bastante
conhecido apenas pelo seu famoso canal, ligando os oceanos Atlântico e
Pacífico. O recente surto de progresso está intimamente associado à extrema
importância para a economia local do referido canal. A primeira tentativa de
construí-lo data do final do século XIX, empreendida pelos franceses. O
fracasso, entre outros fatores, debita-se ao elevado número de mortes.
Calcula-se que mais de vinte mil operários teriam falecido durante as obras,
principalmente abatidos pela febre amarela e pela malária, além dos acidentes
do trabalho. Não havia, na época, vacinas para as duas doenças citadas.
Iniciado o século seguinte, os Estados Unidos apoiaram o movimento de
independência do Panamá, que se separou da Colômbia, e logo obtiveram a
concessão para retomar a construção do canal, inaugurado em 1914.
Considerada uma das sete maravilhas da
engenharia do mundo moderno, a via transoceânica, com extensão de 80
quilômetros, funciona com três eclusas. À primeira vista, a gente pensa que a
necessidade das eclusas seria pela desigualdade de nível dos oceanos. Visitando
aquela imponente obra, o turista fica sabendo que os construtores encontraram
no meio do caminho um obstáculo quase intransponível: um conjunto de montanhas
ocupando amplo território coberto por uma floresta. A solução foi represar um
rio, que formou o artificial Lago Gatún, o qual ficou com 26 metros acima do
nível dos oceanos. As eclusas, portanto, existem para que os navios sejam
elevados para atingir o lago e, em seguida, baixados a fim de alcançar o nível
do oceano de destino.
Em 1977, os governos dos Estados Unidos e do
Panamá celebraram um tratado, comprometendo-se o primeiro a entregar o canal de
volta ao segundo, o que ocorreu no último dia do ano de 1999. Foram, pois, mais
de noventa anos de dominação pelos EUA. É evidente que a passagem da
administração da via para o Panamá passou a ser um decisivo marco para o início
do atual rápido crescimento econômico do país, com reflexos indiscutíveis nas
demais áreas. Os seus sucessivos dirigentes, desde então, não desperdiçaram os
enormes recursos gerados. Basta dizer que cada navio grande que atravessa o
canal tem de pagar cerca de 400 mil dólares e são mais de trinta por dia.
Os turistas também pagam para ver a operação.
Os governos optaram por continuar investindo. Uma nova e gigantesca obra está
em andamento: ampliação do canal a fim de proporcionar a passagem de navios de
maiores calados, estando a conclusão prevista para o próximo ano.
A chegada à cidade do Panamá (capital que tem
o mesmo nome do país) surpreende, de imediato, o visitante pela grande
quantidade de edifícios, comerciais e residenciais, tanto no centro como em
certos bairros, alguns com mais de 60 andares. O número elevado de automóveis
novos e de marcas caras, em circulação, demonstra o alto poder aquisitivo do
povo. É claro que não faltam os inevitáveis congestionamentos. As ruas são
limpas e não vi mendigos. Diversos shoppings – um deles tendo corredores com
mais de dois quilômetros de extensão e considerado um dos maiores das Américas –
estão sempre cheios de consumidores. Empresa brasileira constrói o Metrô
(não se sabe quem recebeu propina...). O pequeno país – 77.000 km2 – conta com uma população em
torno de 3.800.000 de habitantes e, destes, pouco mais 1.500.000 residem na
capital. Esses reduzidos números concorrem para que seja facilitada a
distribuição da riqueza.
Além de ver o canal e visitar o museu anexo,
bem como comprar em shoppings com os preços das mercadorias, inclusive de
grifes, quase iguais aos que se cobram nos EUA, o turista tem a sua disposição
outras atrações, a exemplo do casario colonial do “Casco Antíguo” e as ruínas
de “Panamá Viejo”, que contam o que restou das origens do país. Recomenda-se
uma visita ao “Biomuseo” e apreciar sua arquitetura moderna e bem avançada.
Como aspectos negativos, cabe assinalar: a) o “balboa” é a moeda local, mas
pouco usada, pois, com o dólar americano, se adquire quase tudo que se queira
(nesse ponto, o país abdicou de sua soberania). b) os taxistas preferem
não utilizar o taxímetro e costumam explorar o turista; e c) o país abriga
alguns bancos que, em contas secretas, guardam o dinheiro de corruptos de
várias partes do mundo, ou seja, um “paraíso fiscal”.
Em suma, o Panamá, na atualidade, vive uma
longa fase de prosperidade, de que compartilha seu povo, e possui atrativos que
encantam o turista. Não há dúvida, portanto, em afirmar que se trata de um país
que está dando certo.
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