Cultura/História
brasileira
Laranjeiras é hoje o 3.254°
município em IDH do país. Mas guarda na memória os tempos que fizeram o
Imperador cruzar o seu caminho.
Mestre Rolinha
Por CARLA JIMÉNEZ Laranjeiras, SE 24 OCT 2015,
Publicado
Neste Blog
Por
Luiz Carlos Facó, EM HOMENAGEM A SERGIPE d’EL REI
Mestre Zé Rolinha, rei
dos Lambe Sujos, segura sua espada / MAURICIO
PISANI
O colonial município de
Laranjeiras
A intensa atividade cultural
rendeu-lhe o apelido de a Atenas Sergipana. Uma referência comum
para falar de Laranjeiras era a cidade rica, culta e negra. O papel central da
cultura entre as famílias abastadas fazia com que olhassem as festas
folclóricas dos negros com benevolência. Eram os pobres vivendo a sua
interpretação de arte. “Havia senhores de engenho que inclusive forneciam a
cachaça para embalar a festa dos Lambe Sujos”, conta Evandro Bispo.
Nessa época, outras festas
folclóricas nasceram e foram mantidas pela população pobre de Laranjeiras, algumas
sob a influência dos colonizadores, como a Chegança, celebrada até hoje, que relembra as conquistas
portuguesas do século XV, e a luta entre cristãos e mouros.
Mas, a cidade dinâmica, que prometia um futuro esplendoroso, foi
atropelada pela revolução industrial, quando os barcos a vapor levaram a
velocidade para o mundo. Esses navios mais sofisticados não tinham espaço para
navegar no rio Cotinguiba, até então a porta de entrada fluvial de Laranjeiras.
Foi o início do fim da época de ouro da cidade, que viveu um êxodo das famílias
ricas, e levou junto seu desenvolvimento. Jornais do início do século XX se
referiam a Laranjeiras como um “burgo podre”, segundo pesquisa da antropóloga
Beatriz Dantas.
Hoje, a região ainda vive de
engenhos de açúcar, e de algumas indústrias ali instaladas. Mas não é sombra do
que foi um dia economicamente. É o 3.254° município no ranking das 5.500 cidades brasileiras, com um
índice de desenvolvimento humano (0,64)– que inclui nível renda, educação e
longevidade – abaixo do nacional (0,74).
‘Chegança’ - Folclore
Os ecos do passado, porém,
alimentam seu patrimônio cultural. E a riqueza agora pode se medir de outra
forma. José Ronaldo de Menezes, mais conhecido como Mestre Zé Rolinha,
sintetiza bem esse novo momento. Zé Rolinha é um dos mais ilustres moradores de
Laranjeiras, devoto das tradições da sua terra desde criança, e por essa
dedicação ostenta o título. Ascendeu socialmente e transcendeu na vida como
ator da cultura popular. É também mestre na festa da Chegança.
Ser mestre em Laranjeiras nada
tem a ver com dinheiro. O valor de um líder popular é medido pelo tamanho do
seu amor pela história e as suas raízes. “Vivemos aquilo que vem dos mais
velhos, do passado, no presente. Meu dever é passar aos demais a cultura
brasileira”, afirma Zé Rolinha.
Pela própria raiz histórica, é fácil deduzir que os
Lambe Sujos cresceram à margem do poder local, sem recursos, com mais ajuda de
guardiões como o Mestre Zé Rolinha ou Bispo, que conservam as histórias e seus
mitos por tradição oral. O fotógrafo Lúcio Telles, de Aracaju, que retrata a
festa dos Lambe Sujos há 18 anos, tem uma leitura particular no debate
suscitado por esses personagens e por essa cidade escondida no menor Estado do
Brasil. “Num momento em que a política não tem moral, o folclore é o oposto”,
observa. “Tem prefeito, tem vereador, tem Governo, mas é tudo temporário, de
quatro em quatro anos. A cultura, a pureza do folclore não é sazonal, e
contrasta com essa decadência do poder político”, diz ele. Definitivamente, a
riqueza em Laranjeiras mudou de forma e de mãos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário