Literatura
Publicado por Pamela Camocardi,
é professora por vocação, leitora por paixão e teimosa por natureza.
Objetiva em palavras e atitudes, defende a educação como prioridade e sempre
acredita na leitura como formadora de opiniões..
Influenciado
por William Shakespeare, Edgar Allan Poe e Lord Byron, Fernando Pessoa já
estava predestinado a se tornar um ícone literário. Porém, como nem sempre a
vida imita a arte, a fama veio tardia e o poeta, acomodado em sua solidão,
criou seus próprios amigos dando eles vida, personalidade e atitudes próprias.
Famoso e
aclamado pela crítica literária, Pessoa é considerado o maior poeta da língua
portuguesa. Viveu mais em seus versos do que a própria vida. Solitário, tímido
e inseguro, o poeta criou seus próprios personagens (heteronômios) e, através
deles, expôs sua visão de mundo como um grito de liberdade a seus pensamentos.
"Drama em gente" era assim que Pessoa denominava seus heteronômios.
Pessoa escrevia bem, mas isso não
bastava. Queria mais e assim fez. Revolucionou a Literatura Portuguesa criando
seus heteronômios e atribuindo, a cada um deles, personalidade e biografia
próprias. Os três, afirmados pelo próprio autor, são independentes e diferentes
do mesmo. Estão ligados apenas a alguns temas do próprio Pessoa: a realidade, a
unidade ou a pluralidade do eu, a sinceridade, a noção de realidade e a
impossibilidade diante da morte. São pensamentos, conselhos e atitudes que
trazem ao leitor uma visão ora irônica, ora sentimental da vida. São eles:
Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.
Segundo o próprio Pessoa, Alberto
Caeiro (1885-1915) é o Mestre, ingênuo em relação aos outros (Álvaro de Campos
e Ricardo Reis). Nasceu e morreu em Lisboa. Foi um poeta ligado à natureza, que
despreza qualquer tipo de pensamento filosófico, afirmando que pensar obstrui a
visão ("pensar é estar doente dos olhos"). Proclama-se assim um
anti-metafísico e como um simples "guardador de rebanhos". É um poeta
de completa simplicidade e uma visão subjetiva.
Ricardo Reis, por sua vez,
utiliza estilo refinado na forma poética, mediado pela frieza e pelo controle
emocional. Oferece reflexão sobre as coisas, define a vida como passageira
embora fosse averso à religião. Defendia que a natureza é a pluralidade das
coisas. Predominando a razão sobre a sensibilidade e, diante da morte, o homem:
“Abdica e sê/ Rei de ti mesmo.” Nasceu no Porto, estudou num colégio de
jesuítas, formou-se em medicina e, escolheu viver no Brasil. Na sua biografia
não consta a sua morte, no entanto José Saramago faz uma intervenção sobre o
assunto em seu livro O Ano da Morte de Ricardo Reis, situando a morte de Reis
em 1936.
Por fim, temos Álvaro de Campos,
que era o oposto de Ricardo Reis. Culpava o mundo por suas decepções e, embora
tivesse vivido intensamente seus momentos, deixou a depressão vencer e a
solidão nortear seus pensamentos. Para ele, “nada valeu a pena, tudo foi em
vão”. Não via beleza em nada e tinha um único esforço: conhecer a si
próprio.¨Nada me prende a nada/ Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo/ Anseio
com uma angústia de fome de carne / O que não sei que seja/ Definidamente pelo
indefinido/ Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto (LISBON REVISITED
(1926).
Talvez tenha sido uma tentativa
de fuga da realidade ou apenas uma forma de gritar seus ideias e suas crenças
ao mundo. A questão é, através dos heteronômios, Fernando Pessoa encontrou na
Literatura um escape de vida, já que a sua não era como sonhara. Com uma
personalidade solitária e com conflitos pessoais não solucionados: frustração
amorosa, profissional e endividado, possuía, como poucos o dom da escrita e
nela encontrou uma forma de viver seus sonhos:“ (...)Tenho pensamentos que, se
pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às
estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens” (O Eu
Profundo).
Fernando Pessoa, iniciou e
encerrou sua vida escrevendo. Vivia para a Literatura e defendia a filosofia de
que o significado das palavras está em quem as lê e não em quem as escreve. Sua
última frase, já no leito de morte, foi escrita em inglês: “I know not what
tomorrow will bring” ( “Eu não sei o que o amanhã trará”).
E, sobre isso, Pessoa, nem nós...
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