Arte Pictórica
Publicado por Sílvia Marques,
é paulistana , escritora , bacharel em Cinema, professora universitária
e doutora em Comunicação e Semiótica. Entre seus livros estão "Como
identificar e se livrar de um babaca: Guia de sobrevivência feminina,
"Hispanismo e erotismo: O cinema de Luis Buñuel", "O cinema da
paixão: Cultura espanhola nas telas" e "Sociologia da Educação",
indicado ao Jabuti 2013. Defendo a ideia de que filmes inteligentes e críticos
podem estimular em longo prazo novas atitudes, pensamentos e sentimentos. Autora do blog Garota desbocada.
Não existe separação
entre a obra e a vida de Frida: as duas se embolam e se engalfinham com uma
extrema sensualidade e senso de tragédia. Não sabemos onde termina a pintora e
onde começa a mulher. As duas são uma só e Frida pintou com a mesma paixão dolorida
com que viveu: quebrando a cara, se perdendo, se reencontrando em amores
passageiros, fazendo política , sexo, arte, alegria, escândalo, revolução.
A pintora mexicana Frida Kahlo que atualmente
é relembrada no museu Tomie Ohtake, foi muito mais do que uma artista altamente
criativa e irreverente. Frida foi politizada nos sentidos mais amplos da
palavra, readaptando todos os cinzas da realidade em cores vibrantes. Frida foi
mais do que politizada, ela viveu de acordo com as suas ideias. Frida era
intensa, passional, verdadeira dentro dos seus jogos de sedução.
Frida foi heterossexual apaixonada pelo
magnético pintor Diego Rivera com quem foi casada por quase toda a vida numa
relação altamente turbulenta e frutífera, trágica e cômica simultaneamente,
lúdica, pesada, criativa e companheira, tudo ao mesmo tempo, bem ao estilo das
dicotomias da América Latina.
Mas a sua heterossexualidade não a impediu de
vivenciar momentos com mulheres. Tudo que Frida vivia parecia realmente
ingrediente essencial de sua reinvenção. Frida, mais do que a maioria das
pessoas, precisava se reinventar constantemente. Primeiro por ser uma artista.
Em segundo lugar, por conta das consequências trágicas do acidente de bonde
sofrido na adolescência, que provocou danos terríveis à sua saúde, que a
acompanharam por toda a vida. Em terceiro, por seu encontro amoroso com Diego
Rivera foi uma via de duas mãos. Se por um lado foi a eclosão de sua
criatividade e passionalidade no nível máximo, por outro, gerou muito
sofrimento em sua vida. Apesar de muito devoto a ela e à sua arte, envolveu-se
sexualmente com muitas mulheres, incluindo uma irmã de Frida.
Não existe separação entre a obra e a vida de
Frida: as duas se embolam e se engalfinham com uma extrema sensualidade e senso
de tragédia. Não sabemos onde termina a pintora e onde começa a mulher. As duas
são uma só e Frida pintou com a mesma paixão dolorida com que viveu: quebrando
a cara, se perdendo, se reencontrando em amores passageiros, fazendo política,
sexo, arte, alegria, escândalo, revolução. Ela transformava a sua própria dor
em espetáculo e utilizou suas limitações físicas para fazer uma arte extremamente
pessoal. Frida fez muitos autorretratos. Frida recriou a sua própria tragédia e
mesmo extremamente machucada depois do acidente que comprometeu sua saúde por
toda a vida, a jovem jocosa conseguiu fazer piada. Uma barra entrou por seu
quadril e saiu por sua vagina. Ela brincou com o namorado dizendo que falaria
ao médico que fora desvirginada pela barra.
Diferentemente das moças casadoiras da sua
época , inicio do século XX, Frida não via no casamento o melhor ou o único
caminho. Desejou ser mãe sem conseguir devido às consequências de seu acidente,
mas não permitiu que as impossibilidades e limitações físicas e sentimentais
lhe roubassem o riso despudorado, o prazer pela boa comida, pela arte feroz,
pela música intensa, pela dança sensual, por política, pelo álcool, pelo sexo
apaixonado, pelo frenesi dos romances e dos momentos.
Cena
do filme Frida. Em retrato de família, a jovem Frida faz questão de se vestir
como homem. Tal atitude demonstra seu caráter lúdico, transgressor e seu
profundo senso de liberdade.
Frida afirmava que seus quadros não eram
surrealistas pois ela retratava apenas a realidade, a sua realidade. Porém, o
âmago da arte surrealista é revelar o mais comezinho, o mais real por meio do
sonho, do delírio.
O Surrealismo foi uma das importantes
vanguardas europeias e como todo artista de vanguarda que se preze, a
transgressão ultrapassa os limites das obras e inunda a vida ressignificando
tudo com cores vivazes e gostos gozosos.
Entender a obra e a vida de Frida é de certa
forma entender o espírito ambíguo, mestiço e extremamente apaixonado e
apaixonante do México e em menor medida da América Latina de um modo geral.
Casa azul: Residência da família de Frida na
Cidade do México foi transformada em museu
Casa azul: Residência da família de Frida na
Cidade do México foi transformada em museu
Frida sempre ressaltou muito esqueletos em
sua arte devido aos seus problemas de saúde.
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