História
Os hunos foram uma antiga confederação eurasiática de nômades ou seminômades equestres, com a aristocracia de núcleo altaico. Algumas dessas tribos moveram-se para
a Europa no século
IV provavelmente devido a mudanças climáticas. Eles
eram excelentes criadores de cavalos e adeptos de combates a cavalo (com espada, lanças e arco).
Movendo-se com suas famílias e grandes rebanhos de animais domesticados e cavalos, eles migraram em
busca de novos pastos para se estabelecerem. Devido a sua
proeza militar e disciplina, mostraram-se imbatíveis, tirando todos do seu
caminho. Eles começaram uma corrente migratória anterior a deles pois outros povos
mudaram-se para sair do caminho dos hunos. Esse efeito dominó de
grandes populações contornou Constantinopla e o Império Romano do Oriente e chegou aos rios Danúbio e Reno e
resultou na tomada do Império Romano do Ocidente em 476, pelos hérulos chefiados por Odoacro.
Encontrando terras a seu gosto, os hunos
estabeleceram-se nas planícies húngaras, no leste europeu, tomando a cidade de Szeged,
no rio Tisza, como seu quartel general. Eles precisavam
de vastas áreas de pasto para obter forragem para os cavalos e outros animais. Dessas áreas
de pastagens, os hunos controlavam, através de alianças ou conquistas, um
império que se estenderia dos Montes Urais (na Rússia) ao
rio Reno (na França) e do Báltico ao Danúbio.
Como não construíam casas,
viviam em suas carroças e também em barracas que armavam nos caminhos que percorriam.
Campo Huno imaginado no livro do século
XIXYoung Folks' History of Rome escrito por Charlotte Mary Yonge.
Pesquisas e debates sobre os ancestrais asiáticos
dos hunos vêm acontecendo desde o século XVIII. Por exemplo, os
filologistas debatem até hoje sobre qual heterônimo de fontes chinesas e persas são
idênticas ao latim Hunni ou
o grego Chounnoi como evidência da
identidade dos hunos.
Recentes pesquisas genéticas mostram que a maioria
das grandes confederações de guerreiros não era inteiramente da mesma etnia, mas
provavelmente uma mistura entre clãs euro-asiáticos. Outro exemplo são as múmias de Tarim descobertas
em Taklamakan, na Ásia Central, que datam
de 1 800 a.C. a 200 d.C. A característica mais notável
dessas múmias é o seu tipo físico caucasóide. Entretanto, mais testes genéticos mostraram uma
complexidade nessa teoria. Segundo ela, aparecem características europeias e do
leste asiático.
Além disso, muitos clãs podem
simplesmente ter se autodenominado hunos em razão do prestígio e da fama do
nome, ou terem sido assim chamados pelos outros povos por causa de
características comuns, lugar de origem, ou reputação. Igualmente,
crônicas gregas e latinas podem ter usado "hunos" num senso mais
geral, para descrever características étnicas ou sociais ou
reputação. "Tudo que podemos seguramente dizer", disse Walter Pohl, "é que o nome ’hunos’, na antiguidade
clássica, designava prestigiosos grupos de guerreiros das
estepes". Antigas visões apareceram no contexto de um ensino
nacionalista e etnocêntrico de gerações passadas, que comumente presumiam que
homogeneidade étnica devia interligar povos social e culturalmente homogêneos.[8]Pesquisas
modernas mostram que cada uma das grandes confederações de guerreiros das
estepes (tais como citas, xiongnu, hunos, ávaros, casares, cumanos, mongóis, etc.) não eram homogeneamente iguais, mas uniões
de múltiplas etnias como as de turcos, ienisseianos, tungúsicos, úgricos, irânicos,mongólicos e muitos outros povos.
Evidências de pesquisas genéticas e etnogênicas contrastam com teorias
tradicionais baseadas em relatos chineses, arqueologia, linguística e outras evidências indiretas. Essas teorias
contêm diversos elementos, como que o nome "huno" primeiramente
descrito como um grupo nômade de guerreiros cujas origens étnicas eram a Ásia
Central, mais próximo de onde hoje é a Mongólia, e que eles eram possivelmente ligados, em parte,
aos Xiongnu (匈奴), derrotados pelo Império Han chinês, e que isso provocou a saída deles da Mongólia em
direção ao oeste, invadindo a Europa 200 anos depois. Evidências indiretas
incluem a transmissão de suporte em madeira para arco composto da Ásia central
para o oeste.
Essa narrativa está presente na historiografia
ocidental (e oriental), mas a evidência é às vezes indireta ou ambígua. Os
hunos não deixaram praticamente nenhum relato escrito. Não há nenhum documento
sobre o que aconteceu entre a saída deles da China e
a chegada na Europa 150 anos depois. A última referência aos Xiongnu do norte
foi a derrota deles pelos chineses em 151 no lago Barkol,
quando fugiram para as estepes do oeste em Kangju (centrado na cidade do Turquistão no Cazaquistão). Documentos chineses entre o século
III e IV sugeriam que uma pequena tribo chamada Yuebnan, remanescente dos
Xiongnu do norte, estava distribuída nas planícies do Cazaquistão.
Uma tendência recente de interpretação dá suporte a
uma ligação política e cultural entre Hunos e Xiongnu. Fontes centro-asiáticas
(sogdianas e bactrianas) do século IV traduziram
"hunos" para "Xiongnu" e vice-versa;
também, os caldeirões de Xiongnu e hunos eram virtualmente
idênticos e foram escondidos nos mesmos lugares (barrancos de rios) na Hungria e nos Ordos.
Os hunos foram talvez de origem turca (ou
pré-proto-turca). Essa linha de pensamento surgiu quando Joseph de Guignes no século
XVIII identificou os hunos com os Xiongnu ou (H)siung-nu. A
tese obteve o apoio de Otto Maenchen-Helfen,
baseado nos seus estudos linguísticos. O inglês Peter Heather chamou os Hunos de "o primeiro grupo de
nômades turcos, em oposição aos iranianos, a invadir a Europa".[13]O pesquisador turco Kemal Cemal amparou essa
afirmação com a comparação de palavras e nomes semelhantes nas línguas turca e huna, e
semelhanças nos sistemas de governo de tribos hunas e turcas. O
historiador húngaro Gyula Nemeth também apoiou esse ponto
de vista O historiador Uyghur Turghun Almas sugeriu uma ligação entre hunos e
os uigures, um povo de língua turcomana que habita a região de Xinjiang, na China.
Dioniso Perígetes descreveu
um povo que pode ser os hunos vivendo próximo ao Mar Cáspio no século II. Em 139, o geógrafo
europeu Ptolemeu escreveu sobre os "Khuni" vivendo
próximos ao Rio Dniepre e governados por "Suni". Ele
listou o século, embora não é certo se esse povo eram os hunos. No século
V, o historiador armênio Moisés de Corene, na sua História da Armênia,
pondo os Hunni próximos dos sármatas e descrevendo a captura da cidade de Bactro por
eles, em algum momento entre 194 e 214, o que explica o porque
dos gregos chamarem aquela cidade de Hunuk.
Prosseguindo com a derrota dos Xiongnu pelos
Han, a história daquele povo permaneceu desconhecida por um século, até quando
a família Liu do "Tiefu" dos Xiongnu do sul,
tentaram estabelecer um estado no oeste da China (ver Han Zhao). Os chionitas apareceram na Transoxiana em 320 imediatamente depois de Jin Zhuan
subjugar Liu Can, fazendo os Xiongnu entrarem num caos. Depois
Kidara surgiu para liderar os Chionitas na pressão contra o Império Cuchana.
No oeste, os ostrogodos entraram em contato com os Hunos em 358 Os
armênios mencionam Vund (em torno de 370): o primeiro líder huno na região
do Cáucaso. Os romanos convidaram os Hunos do leste da Ucrânia para estabelecerem-se na Panônia em 361, e em 372 eles foram para o oeste liderados
pelo rei Balímiro, e derrotados pelos alanos. No
leste, no começo do século V, Tiefu Xia foi a última dinastia dos Xiongnu
do sul na China Ocidental e os Alchon/ Huna apareceram
aonde hoje é o Afeganistão e o Paquistão. Nesse ponto decifrar as histórias hunas para os
multi-linguistas tornou-se fácil com eventos relativamente bem-documentados por
fontes bizantinas, armênias, persas, indianas e chinesas.
Uma pintura romantizada-à-cavalaria do século
XIV dos "hunos" cercando uma cidade. Notam-se os detalhes anacrônicos nas
armas, armaduras e no tipo da cidade. Chronicon Pictum da Hungria,1360.
Os hunos apareceram na Europa no século
IV, aparentemente vindos da Ásia Central. Eles primeiro apareceram no norte
do Mar Negro, forçando um grande número de Godos a
buscar refúgio no Império Romano; depois, os Hunos apareceram no oeste dos Cárpatos na Panônia, provavelmente em algum momento entre 400 e 410,
provavelmente provocando a massiva migração das tribos germânicas para o oeste e provocando a famosa travessia do Reno em Dezembro de 406.
O estabelecimento do Império Huno no século V marca historicamente o
inicio da migração com cavalos. Os hunos eram soberbos cavaleiros, treinados
desde a infância, e alguns acham que eles inventaram o estribo, instrumento crítico para aumentar o poder
de luta. Eles espalharam terror nos inimigos devido a velocidade em que eles podiam se movimentar, trocando de
montaria várias vezes ao dia para manter a vantagem. Uma segunda vantagem eram
os seus arcos compostos recurvados, muitos superiores a qualquer coisa usada
no ocidente. Apoiados em seus estribos, eles podiam atirar
para frente, para os lados e para trás. A principal fonte de renda dos hunos
era a prática do saque aos povos dominados. Quando chegavam numa região,
espalhavam o medo, pois eram extremamente violentos e cruéis com os inimigos.
Sua tática essencial era fazer ataques-surpresa relâmpago e garantir o terror
para os outros povos.
Os Hunos de Átila incorporaram grupos de povos
tributários. Na Europa, alanos, gépidas, esciros, rúgios, sármatas e tribos góticas todas unidas sob os hunos
pela coalizão de Arádrico na Batalha de Nedau em 454, atual Nedava.
Os Hunos, liderados por Átila, invadem a
Itália, como visualizado nessa pintura do século XIX de Ulpiano Checa (1860-1916).
A memória das conquistas hunas foi transmitida
oralmente entre os povos germânicos e é um componente importante nas Saga
de Völsung e de Hervarar, da Noruega Antiga, e na Canção dos Nibelungos,
conto alemão da Idade Média, todos sob o cenário do período das migrações dos povos bárbaros e datam de um milênio antes dos
documentos escritos. Na Saga de Hervarar, os godos fizeram
primeiro contato com os arqueiros hunos e os encontraram na épica batalha nas
planícies do Danúbio.
O apogeu do império huno aconteceu durante o
governo de seu principal líder, Átila, responsável
por diversas conquistas em guerras e batalhas. Ele tornou-se líder dos hunos
em 433 e
empreendeu uma série de incursões ao sul da Rússia e Pérsia. Ele
então dirigiu sua atenção aos Bálcãs,
causando suficiente terror e destruição em duas principais incursões para
serem subornados para sair. Em 450 ele se dirigiu ao
Império Romano do Ocidente, cruzando o Reno ao norte de
Moguntiaco com, provavelmente, 100.000 guerreiros.
Avançando numa frente de 100 milhas, ele
saqueou várias vilas no que é hoje a França setentrional. O general
romano Aécio levantou
um exército romano-visigótico e avançou contra Átila, que estava sitiando a
cidade de Orleães. Na principal batalha de Chalôns,
Átila foi derrotado, mas não destruído. Foi a última grande campanha militar do
Império Romano do Ocidente.
Átila então invadiu a Itália, procurando novos saques. Enquanto ele
passava, refugiados fugiam para ilhas na
costa do mar Adriático, iniciando povoação que mais tarde daria
origem à cidade de Veneza. As forças romanas estavam esgotadas e seu
exército principal continuava na Gália. Os
hunos também estavam fracos, esgotados por incessantes campanhas, doenças e fome na Itália. Numa reunião com o papa Leão I, Átila concordou em recuar.
O império desintegrou-se após a morte de Átila
em 453, com
nenhum líder forte para mantê-los unidos. Povos súbditos revoltaram-se e
facções dentro do grupo dos próprios hunos lutaram entre si pelo poder. Os
hunos eventualmente desapareceram da história após uma leva de novos invasores,
como os Ávaros.
Na Canção dos Nibelungos, Criemilda casa-se com Átila (Etzel,
em alemão) depois que seu primeiro marido Sigurdo foi
morto por Hagen, com a ajuda de seu irmão, Rei Guntárico. Ela então usou o seu
poder como mulher de Átila para armar uma sangrenta vingança, na qual não
apenas Hagen e Guntárico mas todos os guerreiros da Burgúndia foram mortos em uma festa que ela e Átila os
convidaram. Depois de uma relativa vitória sobre os hunos, que eram
numericamente superiores, os burgúndios finalmente sucumbiram, não pelos Hunos mas
por Rüdeger (austríaco), que morreu na batalha também, e por Teodorico de Verona (ostrogodo), ambos vassalos de Átila e relutantes quanto a lutar contra a
tribo amiga dos Burgúndios, mas depois foram forçados a tal por pressão de
Átila.
Na Völsunga saga, Átila (Atli,
em norueguês) derrotou o rei franco Sigeberto
I (Sigurõr ou Siegfried) e o rei burgúndio Guntram (Gunnar ou Gunther),
mas depois foi assassinado pela Rainha Fredegunda (Gudrunou Kriemhild),
a irmã do último rei e sua esposa.
Localização dos estados sucessores dos hunos
em 500
Muitas nações tentaram assimilar-se étnica e
culturalmente como sucessoras dos hunos. Por exemplo, a Nominália dos Cãs Búlgaros indica que eles acreditavam ser descendentes
de Átila. Os Búlgaros certamente foram parte da união tribal em algum momento,
e alguns devem ter criado a hipótese que a língua tchuvache (que se acredita ser descendente
da língua búlgara) é a língua sobrevivente mais próxima
da língua huna.
Os magiares (húngaros) também reclamam uma herança Huna.
Por causa dos Hunos que invadiram a Europa, que representou uma grande coalizão
de vários povos, é possível que os magiares tenham também feito parte dela. Até
o inicio do século XX, muitas histórias húngaras acreditavam que o
povo Székely era descendente dos Hunos.
Em 2005, um grupo de 2500 húngaros pediu ao governo
o reconhecimento do status de minoria como descendentes diretos de Átila. O ato
não foi concedido, mas deu certa publicidade ao grupo, formado no inicio da
década de 1990 e representava um ramo húngaro do misticismo. Os auto-proclamados "hunos" não tinham
em posse nenhuma cultura huna ou traços da linguagem dos mesmos, o que estaria
disponível em fontes históricas e místicas dos Húngaros modernos.[16]
O que é claro é que os hunos deixaram descendentes
por toda a Europa Oriental e a desintegração do Império Huno
mostra que eles nunca ganharam a glória perdida. Uma razão é que os Hunos nunca
instalaram completamente os mecanismos de um estado, como a burocracia e as taxas, como
fizeram os magiares e a Horda Dourada. Uma vez desorganizados, os Hunos foram absorvidos
por outros reinos, mais organizados.
Os turcos seljúcidas eram aparentados dos hunos.
Propaganda britânica da Primeira Guerra Mundial, onde cita os rivais
alemães como "hunos".
O termo "huno" foi também usado para
descrever os povos com nenhuma conexão histórica com o que os estudiosos
consideram ser os "hunos".
Em 27 de julho de 1900, durante a Revolta dos Boxers, na China,
o cáiser Guilherme II da Alemanha deu a ordem para "fazer o nome
Alemanha ser lembrado na China por mil anos, que nenhum chinês jamais ousasse
ao menos encarar de novo um alemão".[17] Esse
discurso, onde o cáiser Guilherme invocava a memória dos hunos
do século V, unido com o Pickelhaube, ou usando o capacete de
lança usado pelas
forças alemãs até 1916, que
era remanescente nos antigos capacetes hunos (e húngaros), dando suporte ao
posterior uso inglês do termo para designar os inimigos alemães durante a Primeira Guerra Mundial. Entretanto, outra razão foi dada pelo uso
inglês do termo que era o lema "Gott mit uns" ("Deus
conosco") que constava nos cintos dos soldados alemães durante a primeira
guerra mundial. "uns" foi mal-entendido como "Huns", e
acabou virando um jargão. Esse
uso foi reforçado pela propaganda dos Aliados durante a guerra, e muitos pilotos da RFC chamavam os seus inimigos de "Os
Hunos". Esse uso tomou força de novo durante a Segunda Guerra Mundial.
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