Crise econômica e política brasileira
Governo ameaça multar em quase 2.000 reais
quem bloquear estradas
AFONSO BENITES, Brasília,
El País – o jornal global – Facebook
Bloqueio em Valparaíso,
Goiás, nesta segunda-feira. / MARCELO
CAMARGO (EFE)
Os caminhoneiros autônomos que
pedem a renúncia da presidente Dilma Rousseff mantiveram na última quarta-feira 46 pontos de bloqueios em rodovias
de onze Estados brasileiros, conforme o Comando Nacional do Transporte, o grupo
que promove os atos. Este foi o terceiro dia de paralisação com uma pauta
política e sem reivindicações diretas voltadas para a classe.
De acordo com os organizadores do protesto, há bloqueios em estradas de São
Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina,
Goiás, Mato Grosso, Tocantins, Bahia e Ceará. Na segunda-feira, foram 49
bloqueios em 14 Estados, de acordo com o Governo federal. Diante das
paralisações, o ministério da Justiça orientou a Polícia Rodoviária Federal a
multar os caminhoneiros que impedirem o fluxo de veículos pelas rodovias
federais. A multa é de 1.915 reais.
“Essa é mais uma estratégia deste
governo autoritário para prejudicar um movimento pacífico. Eles usam a força ao
invés de usarem a argumentação”, afirmou Ivar Schmidt, um dos líderes do
Comando Nacional do Transporte. Schmidt, que na última semana disse que não
havia margem para conversas com a União agora diz que esperava ao menos uma
sinalização do Governo de que tem o interesse de “melhorar a economia” e
iniciar um diálogo. “Ao invés de nos intimidar, poderiam conversar”, ponderou.
A gestão Rousseff avalia que a
paralisação tem como única função desgastar o Governo e, por essa razão, ainda
não negociou com os manifestantes. Até o momento nenhuma entidade sindical que
representa os caminhoneiros aderiu aos protestos. “Consideramos imoral e
repudiamos qualquer mobilização que se utilize da boa-fé dos caminhoneiros
autônomos para promover o caos no país e pressionar o Governo em prol de
interesses políticos ou particulares, que nada têm a ver com os problemas da
categoria”, disse por meio de nota a Confederação Nacional de
Transportadores Autônomos que respondem por 50% do transporte de produtos duráveis e perecíveis
no país, segundo informação no portal da entidade.
Esta é a segunda onda de
paralisação dos caminhoneiros brasileiros. Entre fevereiro e março, dezenas de cidades ficaram sem abastecimento
de combustível e até alimentos por conta de uma série de protestos. Naquela
época entidades como a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos
(CNTA) e a União Nacional dos Caminhoneiros engrossaram os protestos que tinha
como pauta a redução do preço do óleo diesel, melhores condições de
financiamento dos veículos e a criação de um frete mínimo.
Na ocasião, vários caminhoneiros
também acabaram multados em até 10.000 reais por bloqueios em rodovias. Semanas
depois, porém, a Câmara dos Deputados aprovou uma lei que os anistiava da
punição. O projeto ainda não foi votado no Senado e as multas daquele período
permanecem.
Prejuízos
Em nota, o presidente-executivo
da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, informou
na segunda-feira a criação de um comitê de crise para tentar “viabilizar a
entrega de insumos nas granjas, o transporte de animais para o abate e de
produtos para distribuição no mercado interno e para as exportações”. A
preocupação do setor, segundo Turra, é que se repitam “os graves efeitos“ da
paralisação de fevereiro. Na ocasião, informa a ABPA, cargas não puderam ser
entregues, portos pararam, agroindústrias suspenderam abates e os estoques
ficaram lotados, num total de mais de 700 milhões de reais em prejuízos.
Diante das perdas já registradas
no ano, o mês de novembro era crucial, nos planos do setor, para se recuperar,
principalmente depois de outra paralisação, a dos fiscais federais
agropecuários, em setembro e outubro. “Neste mês, grandes importadores, como a Rússia, elevam suas importações para formação de estoques para enfrentar o
inverno, quando a atividade de portos é suspensa devido ao frio e ao gelo”, diz
Turra na nota. “A paralisação tem efeitos perversos no setor e, neste momento,
tememos que sejam ainda piores que os que sofremos no início do ano”, completa.
O presidente da Associação de
Comércio Exterior do Brasil (ACEB), José Augusto Castro, pondera, contudo, que
ainda é muito cedo para calcular prejuízos para o país. "Em termos de
exportação, o impacto tende a ser pequeno, porque a carga acaba sendo embarcada
com uma ou duas semanas de atraso. O que ocorre mesmo é um aumento de custo
para as empresas", diz Castro, que lamenta o aumento desse tipo de
mobilização em tempos de crise econômica.
Sem o apoio de entidades sindicais, os
caminhoneiros autônomos encontraram amparo em outros grupos que defendem a
saída de Rousseff. Nesta terça-feira, lideranças dos caminhoneiros se juntaram a representantes
do Movimento Brasil Livre que estão acampados em frente ao Congresso Nacional em Brasília
para aumentar o coro pelo impeachment.
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