quinta-feira, 19 de novembro de 2015

OS 100 ANOS DE INGRID BERGMAN EM DOSES MACIÇAS DE EMPODERAMENTO FEMININO*

Cinema




INGRAND BERGMAN, A DIVA





é jornalista, intérprete e mãe apaixonada. Na Suécia ou no Brasil, sempre de olho nos horizontes e afrontes.

Revolucionária, feminista, intempestiva? Um dos maiores ícones do cinema, a atriz sueca Ingrid Bergman, completaria 100 anos neste ano.


IMG_4698.jpgFoto: acervo Millesgården
Uma mulher desbravadora e que nunca pediu desculpas por alimentar as asas do pássaro que sempre a habitou. Assim era ela, Ingrid Bergman, atriz sueca que completaria 100 anos em agosto de 2015. “Eu sempre quis ter uma casa grande, espaçosa, com piscina. E, quando eu e Peter (Lindström, primeiro marido da atriz)construímos essa casa, eu já queria outra coisa”, explica a intempestiva Ingrid Bergman numa das cenas do recém lançado filme sobre sua vida, Jag är Ingrid, “Eu sou Ingrid”. Aclamado pela crítica sueca, o filme parece revelar tudo! Todas as faces da musa de Intermezzo estao lá, deliciosamente desmascaradas.
A personalidade dela gera em mim e, certamente, em muitas mulheres, uma familiaridade e inquietação qualquer. O não aceitar menos do que o coração precisa pra se satisfazer. O mudar de pólos. O recriar. O derrubar barreiras. Assim era Ingrid Bergman. Ia aonde o vento a levava: Hollywood, França, Itália, Suécia, Inglaterra. Ou melhor, pegava as rédeas do vento e decidia sobre seu curso. Alí, em carne, osso, e belade. Nela, havia uma revolucionária! Uma mulher que amedrontava alguns e inspirava outros tantos. Falando assim, parece que a vida e obra desse ícone, foi incontestavelmente de sucesso e desprovido deups and downs.
Propositalmente ou não, padrões, conceitos e formas de viver foram testados o tempo todo. Cansou da vida hollywoodiana, quis fugir. Entediou-se do casamento com Petter Lindström: abandonou-o. Impressionou-se pelo fotógrafo Robert Capa: caiu em seus braços! Encantou-se pelo charme e desestruturação cinematográfica de Rosselini: filmaram juntos, ficaram juntos e se separaram. E assim a vida seguiu, cheia de encantamentos e atropelos. E, a contar pela imagem pública da vulcânica Ingrid, seus rompantes geraram felicidade autêntica e saborosa.
IMG_4692.jpgFoto: acervo Millesgården
Mas e a vida em família versão full time? E o ser mãe presente, daquelas que escovam os dentes das crianças a cada dormir e acordar? A primeira filha, Pia Lindström, morou a vida inteira, praticamente, só com pai, pois a mãe mudou-se dos Estados Unidos pra Itália e elas ficaram sem se ver por 5 anos. Na época, Pia era uma menina de 13 anos que voltou a encontrar a mãe apenas aos 18. Do casamento com Roberto Rosselini, nasceram 3 filhos –um deles, a também atriz Isabella Rosselini. Juntos, Isabella, Ingrid e Renato Rosselini, tiveram que se adaptar à rotina de trabalho da mãe e do pai, que, às vezes, ficavam meses fora de casa. A situação complicou-se ainda mais após o rompimento com de Bergman e Rosselini.
O centenário de Ingrid Bergman vem de encontro à várias comemorações na Suécia. O filme, a exposição no Museu Millesgården, em Estocolmo, com fotos exclusivas da vida e obra de Ingrid e entrevistas com alguns dos filhos da atriz, na mídia sueca. Tanto o filme quanto uma entrevista realizada com a filha mais velha e hoje âncora da TV americana, Pia Lindström, revelam que talvez Ingrid não achasse, assim, tão edificante ser mãe. Pra muitas de nós, maternidade é o ápice da feminilidade. Não há nada mais cego e visceral que amor de mãe. No entanto, mãe nenhuma esta a salvo da descoberta da maternidade como aprisionadora de corpos, almas e ideias.
Ingrid parece não ter sentido culpa de ter sido a "mãe ausente". Ou até egoísta? Como assim? Já nos anos 30 era possível uma mulher respeitar vontades e desejos e, em sendo mãe, não se culpar por não ler livros infantis ao pé da cama das crias toda noite? Quando se é Ingrid, sim. Segundo a própria, sentia-se mais amiga do que mãe dos próprios filhos. Impressão essa, também compartilhada pelos filhos, quando falam da mãe no biográfico "Eu sou Ingrid". Inegavelmente, sentiram falta da mãe na infância, mas parecem ter aceitado que ela não teria sido uma boa mãe se só tivesse se dedicado a eles. Se tivésse cortado de si o ar que o ser atriz lhe garantia. A mãe de Ingrid morreu quando ela tinha apenas 3 anos e o pai, quando Ingrid tinha 13. Dele, herdou o interesse por fotos e filmes. Já na infância, criava personagens e historias em torno de si mesma e das tragédias familiares. IMG_4695.jpgFoto: acervo Millesgården
De algum modo, a mãe que mora e atua em mim, trava uma espécie de luta interna pra não depositar sentimento de culpa em Ingrid por ela ter deixado os filhos. Por ela preferir a excitacao de trabalhar com Roberto Rosselini, Alfred Hitchcock, Humpfrey Bogart e tantos outros ícones em detrimento do ser mãe presente. Por que nós, mulheres e mães, achamos que devemos sentir culpa quando trabalhamos além da conta? Por que tenho que me sentir com a alma dolorida por ir ao cinema numa segunda, num horário próximo à janta, sendo que fiz home office e não deixei nada preparado para as filhas e o marido comerem? Ingrid não se sentiria assim! Aliás, ela me aconselharia a ser mais crua, sentimental e rainha de vontades e desejos. A continuar apostando em incertezas para o mundo, desde que sejam certezas pra mim. Tenho o feeling de que Ingrid Bergman seria uma dessas amigas inspiradoras, sempre à minha espera. E sempre com uma garrafa de champanhe na geladeira de casa, do hotel ou em qualquer outro lugar do mundo que ela ordenasse ao vento, ou à sua brisa pessoal, que a levasse.


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