Operação Lava-Jato
NUNCA ANTES NA HISTÓRIA DESTE PAÍS UM SENADOR
FOI PRESO EM PLENO EXÉRCICIO DO MANDATO
A prisão, feita a pedido do Ministério
Público Federal, autorizada pelo STF
AFONSO BENITES Brasília 25 NOV 2015
Para El País – O
jornal Global
Blog do Facó: O
Brasil está com mais lama do que Mariana (MG)
O
senador Delcídio do Amaral, em imagem de setembro. / WILSON DIAS (AGÊNCIA BRASIL)
A Polícia Federal prendeu preventivamente, no início da manhã
desta quarta-feira, o senador Delcídio do Amaral (PT-MS), 60 anos, por suspeita
de tentar obstruir as investigações da operação Lava Jato, que investiga o esquema de desvios bilionários na Petrobras. O senador foi preso em Brasília após um pedido do Ministério Público
Federal, e foi levado à Superintendência da Polícia Federal, onde permanece
detido. A prisão de Amaral é mais um duro golpe contra o Partido dos
Trabalhadores, já que ele é líder do Governo Dilma Rousseff no Senado.
O banqueiro
André Esteves, do BTG Pactual, também foi detido na operação. A prisão ocorreu
no Rio de Janeiro e, segundo a PF, Esteves estava destruindo provas das
investigações da Lava Jato, assim como o senador petista.
Em seu pedido, o Ministério Público Federal
argumentou que Amaral agiu para atrapalhar as investigações da Lava Jato, algo
que é considerado crime permanente. Dessa forma, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao Supremo Tribunal Federal que autorizasse
a sua prisão preventiva.
Trata-se da primeira vez que um senador federal é
preso durante o exercício do seu cargo. A Constituição brasileira prevê que parlamentares
só podem ser detidos em caso de flagrante. A Justiça obteve gravações de
Amaral, em que ele planejava a fuga do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, que está preso por ligação com
os desvios na estatal, de não realizar a delação premiada – e assim não revelar
à Justiça os detalhes das irregularidades. Cerveró acusou Amaral de participar
de um esquema de desvio de recursos envolvendo a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.
A conversa
foi gravada pelo filho de Cerveró, Bernardo Cerveró, e entregue à Justiça.
Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o senador propôs um plano de
fuga que envolveria a ida de avião até o Paraguai e, posteriormente, para
Madri. Cerveró tem cidadania espanhola e conseguiria morar no país. Na conversa,
Amaral afirma que ministros do Supremo estariam dispostos a soltar envolvidos
na Lava-Jato que estão presos no momento, o que facilitaria o plano.
Além do
senador e do banqueiro, o Supremo também autorizou a prisão do chefe de
gabinete do petista, Diogo Ferreira, e de um advogado de Cerveró, Edson
Ribeiro, que também estaria na reunião. A Segunda Turma do Supremo se
reuniu na manhã desta quarta para avaliar a decisão inicial sobre a prisão,
dada pelo ministro Teori Zavascki. Segundo ele, "não haveria outros
meios de se preservar as investigações, que não sejam as prisões, uma vez que,
conforme relatou o Ministério Público Federal, os envolvidos estariam
pressionando Nestor Cerveró a desistir de firmar acordo de delação premiada no
âmbito da Operação Lava-Jato". No final da manhã, o colegiado, formado por
mais quatro ministros (Cármen Lúcia, Gilmar Mendes, Celso de Mello e Dias
Toffoli) referendou, por unanimidade a decisão.
Na lista dos
homens mais ricos do Brasil, André Esteves, matemático de formação, filho de
uma família de classe média carioca, fez fama e fortuna a partir de 2008,
quando fundou o banco BTG em sociedade com Pérsio Arida, ex-presidente do Banco
Central de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). No ano seguinte, o
BTG comprou o banco Pactual e passou a se chamar BTG Pactual, que no ano
passado faturou 6,5 bilhões de reais no primeiro semestre. Reconhecido como um
homem bem sucedido e de perfil agressivo no mundo dos negócios, Esteves também
era famoso por ser discreto com a vida pessoal, workaholic e
por diversificar investimentos em áreas estratégicas. Ele tem participação em
mais de 20 empresas.
Em nota, o
BTG Pactual afirmou que está à disposição das autoridades para prestar todos os
esclarecimentos necessários e disse que vai colaborar com as investigações.
Já Amaral
exerce seu segundo mandato como senador da República pelo Mato Grosso do Sul.
Em entrevista em junho, ele criticou o que chamou de "processo de criminalização" do PT. "Essa criminalização é
para prejudicar nosso projeto para 2018. Não digo que não erramos. Erros
aconteceram e procuramos aprender com eles. Mas há um desejo forte de
desqualificação do PT para 2018", afirmou, na ocasião.
A
investigação sobre Delcídio do Amaral está sob sigilo. Seu nome havia aparecido
na primeira lista de políticos investigados, mas foi retirado por falta de
provas inicialmente. O Palácio do
Planalto deverá se pronunciar sobre o caso ainda nesta quarta, quando vai
anunciar um novo líder do partido no Senado.
As prisões ocorrem um dia após a Polícia Federal deter, também em
Brasília, o pecuarista José Carlos Bumlai, por suspeita de fazer tráfico de
influência usando o nome do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, de quem ele era amigo.
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