Colaboração de Fernando Alcoforado*
A presidente Dilma Rousseff está a sofrer processo de
impeachment porque é acusada do crime de responsabilidade nas esferas
financeira e administrativa devido às maquiagens nas contas públicas feitas, de
forma ilegal, pelo seu governo orientadas a passar para a nação e também aos
investidores internacionais a sensação de que o Brasil estaria economicamente
saudável. Dilma Rousseff é responsabilizada de praticar crime continuado
iniciado no primeiro mandato que teve prosseguimento em 2015 com a assinatura ilegal
de seis decretos que autorizaram créditos suplementares ao Orçamento da União
sem previsão na Lei de Diretrizes Orçamentárias e, portanto, sem autorização do
Congresso Nacional. A afirmativa de que o processo de impeachment, patrocinado
pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal, é golpe,
proclamada pelos partidários do governo Dilma Rousseff, não tem, portanto,
sustentação.
Está em marcha o processo que visa impedir o impeachment da
presidente Dilma Rousseff. A decisão recente (17/12/2015) do Supremo Tribunal
Federal, que anula a Comissão Especial eleita por grande maioria de oposição ao
governo Dilma Rousseff na Câmara Federal e a atribuição ao Senado Federal, onde
o governo federal tem maioria, de poder aceitar ou rejeitar a autorização da
Câmara Federal para processar a presidente da República pelo crime de
responsabilidade acima descrito, representa o primeiro passo adotado pelos
partidários do governo Dilma Rousseff e
seus aliados para evitar o impeachment. Isto significa dizer que, não se
materializando o impeachment, a nação brasileira terá que conviver com um
governo que está levando o Brasil à depressão econômica que, além de promover a
quebradeira de empresas e o desemprego em massa, reduzirá ainda mais as
receitas do Estado que exigirão cortes no orçamento do governo e o aumento de
impostos.
Muito provavelmente, nenhum investidor interno e externo
investirá no Brasil com uma economia estagnada como se encontra no momento e
com um governo sitiado por sua população como o de Dilma Rousseff. O Brasil já
teve sua nota de crédito rebaixada pelas agências Standard & Poor's
(S&P) e Fitch fazendo com que o País perca o status de bom pagador, fato
este que deve resultar na fuga de capitais do País e na inviabilização da
atração de capitais externos para investimento. A estagnação da economia
brasileira em que ela se encontra faz com que ocorra também queda da
arrecadação do governo em todos os níveis o que implica em não haver recursos
públicos para investimento em quantidade suficiente para investir na
infraestrutura econômica e social, bem como para atender suas necessidades mais
elementares.
A primeira e grande consequência do desastroso governo Dilma
Rousseff já se manifesta na elevação dos níveis de desemprego que já alcançou
10 milhões de trabalhadores e na elevação da taxa de inflação que já supera os
10% anuais. Um fato que chama a atenção de qualquer analista econômico diz
respeito à decisão do governo Dilma Rousseff de promover a ajuste fiscal sem a
adoção simultânea de medidas que contribuam para a retomada do desenvolvimento
do Brasil. A incompetência do governo Dilma Rousseff extrapola todos os limites
ao não propor, além do ajuste fiscal, um plano de desenvolvimento para o Brasil
que acene para a população e para os setores produtivos uma perspectiva de
retomada do crescimento econômico. É a inexistência deste plano um dos fatores
que levam à imobilidade do setor privado na realização de investimentos
levando-os a uma verdadeira paralisia.
Sobre o ajuste fiscal do governo federal, trata-se de uma
falácia afirmar que é o único ajuste capaz de fazer o Brasil superar a crise
atual. Na realidade, o ajuste fiscal proposto pelo governo fragilizado de Dilma
Rousseff é que poderá levar o País à bancarrota pelo simples fato de que, ao
promover a recessão para combater a inflação, estará contribuindo para a queda
no nível da atividade econômica em geral, a “quebradeira” geral de empresas e,
em consequência, o desemprego em massa que já está em curso. O verdadeiro
ajuste fiscal que deveria ser realizado no País é o que contemplaria: 1) a
tributação das grandes fortunas previsto na Constituição de 1988 e que nunca
foi aplicado; 2) o aumento do imposto sobre as instituições financeiras; 3) a
redução drástica dos gastos de custeio do governo federal; e, 4) redução dos
encargos do governo federal com o pagamento da dívida pública que correspondeu
em 2014 a 45,11% do orçamento da União.
O Brasil está à beira da falência porque convive com a mais
grave crise econômica dos últimos 85 anos, similar à que abalou o País em 1930.
O Brasil é um país que está em estágio terminal, como bem afirmou o jornal
britânico Financial Times recentemente. A situação do Brasil é tão crítica que
o HSBC, maior banco europeu e o sétimo maior do mundo, decidiu abandonar o
Brasil vendendo seus ativos abaixo do valor de mercado ao Bradesco. Associe-se
a tudo isto, a ocorrência de uma vertiginosa onda de desemprego e falência
generalizada que pode ocasionar uma convulsão social sem precedentes na
história do Brasil. A maioria das empresas está altamente vulnerável e a
instabilidade dos mercados com a alta do dólar e a queda das receitas de
exportação pode levar o País à bancarrota. A situação financeira do governo
federal, governos estaduais e prefeituras municipais já está sendo bastante
comprometida com a queda vertiginosa da arrecadação de impostos resultante da
retração da atividade econômica do Brasil.
Tudo o que acaba de ser descrito coincide com a existência
de um governo fraco sob a direção incompetente de Dilma Rousseff que não possui
a liderança política nem a capacidade administrativa necessária para realizar
as transformações exigidas para o Brasil na quadra atual haja vista ter a
rejeição de 90% da população brasileira que deseja sua deposição do poder. Tudo
leva a crer que se Dilma Rousseff não for destituída do poder através de
impeachment pelo crime de responsabilidade descrito linhas atrás, o Brasil
poderá ser palco de convulsão social com o confronto entre a esmagadora maioria
do povo brasileiro que deseja sua deposição e os partidários do governo de
consequências imprevisíveis. É preciso considerar as lições da história que nos
ensina que a convulsão social pode levar à instauração de ditaduras. Este é o risco que ameaça a sociedade
brasileira. O Brasil se defronta com a possibilidade de um trágico futuro
econômico e político? Este cenário depende do desfecho que venha a ocorrer com
relação ao impeachment da presidente Dilma Rousseff.
* Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de
Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento
Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor
nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros
Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a
Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São
Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de
doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e
Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do
Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea(EGBA,
Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento
Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador,
2010),Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os
Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV,
Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática
Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).
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