Por Helô Sampaio
A autora é jornalista, colunista da Tribuna da Bahia
Helô Sampaio, ao lado de uma linotipo, máquina de
composição
tipográfica, na sede de A Tarde
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A vida é um misto de dias de
alegria, de trabalho, aconchego, aporrinhação, sedução e até de dores. O povo
da minha terra dizia que ‘não há bem que sempre dure nem mal que nunca
termine’. Sábias palavras. Pena que nós, humanos, somos normalmente egoístas e
nunca ligamos para a sapiência do nosso povo.
Nem ligamos para a beleza da
vida. Você já prestou atenção na beleza daquele coqueiral do Jardim de Alah? Ou
já, num final de tarde, passou pela orla, sem pressa, observando os diferentes
tons de cores das águas, ou a suavidade ou força das ondas?
Já percebeu como as margaridinhas
amarelas conseguem sobreviver - e nos deslumbrar com a sua singela beleza nos
canteiros das pistas de rolamento –, mesmo com tanta poluição sobre elas?
Já olhou por alguns minutinhos as
piruetas dos beija-flores ou os desenhos engraçados feitos pelas nuvens? Já
parou o trabalho um pouquinho para apreciar o pôr do sol?
Não. A gente não tem tempo para
estas bobagens. Temos que dar conta do trabalho, da conta do mercado, da
família e das obrigações. Essas infantilidades são para desocupados ou
intelectuais. Não é pra nós, trabalhadores, responsáveis. Imagina só, ficar
olhando pôr do sol ou as margaridinhas das beiras de estrada...
Pois é uma pena, meu lindinho,
que você não tenha tempo para ver essas delicadezas que a Natureza lhe
presenteia, sem cobrar nada; que não consiga ver, quando abre a sua janela, os
diferentes tons de azul do céu.
A gente só liga pra isso quando
tem que parar por alguma bordoada da vida. A mesma displicência a gente
tem no lidar com as pessoas, e nunca se lembra de dizer, ‘eu te amo’, ‘você é
maravilhoso’, ou ‘é muito bom ser seu amigo’. Quase que só fazemos isso quando
perdemos a pessoa.
Ainda bem que eu sempre beijava
muito meus pais (devia ser uma chatice essa ‘beijação’ toda), beijo os meus
amigos e digo sempre que eu os amo muito. Desde pequena sempre fui melosa,
carinhosa e chorona.
Eu aprendi a dar valor às coisas
muito cedo: pouco antes de completar 20 anos, sofri um acidente grave, junto
com minha irmã e primos. Tive fraturas múltiplas no quadril, femur e nas pernas
quando um irresponsável entrou na contramão e bateu no carro em que eu estava.
Fui arremessada para longe, para os pés do Cristo, na Barra. Após cirurgias,
fui engessada e fiquei na cama por quase cinco meses, com apenas o privilégio
de ver, pela janela, algumas nuvens e os muitos fios de um poste, que eu
contava todos os dias. Isso, no apogeu, no verdor dos vinte anos.
Ano passado, 2014, foi ano muito
duro pra mim: fiquei praticamente o segundo semestre todo no Hospital da Bahia,
e não fosse a perícia do Dr. Eduardo Napoli, guiado pelas mãos de Deus, eu não
estaria agora contando ‘abobrinhas’ para vocês. Após cada uma das três
cirurgias a que me submeti, eu só pedia que me pusessem em um apartamento que tivesse
vista para as nuvens. Era pra poder falar com Deus.
Meses atrás, eu fui ao Bonfim
para a missa de centenário de nascimento do Dr. Jorge Calmon, que foi um pai
profissional para mim. Eu ainda fazia a faculdade, quando fui estagiar em A
Tarde, na Praça Castro Alves. E logo comecei a querer mudar algumas coisas. Eu
era dublê de repórter e diagramadora. Com o ‘rebuliço’ que eu fazia, Dr. Jorge
passou a observar o meu trabalho. E talvez achar interessante as minhas
intromissões. Nos embates, ele ouvia os dois lados e... me apoiava. Aí, diziam
que eu era a ‘cria’, a 'protegida' dele. E acho que era, sim, com muita honra.
Lá, na sede velha da Praça,
trabalhávamos com a linotipo, máquina que compunha linha por linha, no chumbo.
Era um trabalho difícil para a diagramação, pois limitava muito a criatividade.
A gente tinha que fazer milagre para produzir uma boa página. Mas depois do
trabalho, cansados, a gente ia 'tomar uma' no Cacique ou Varandá; ou ia comer
alguma coisa no Ocê Que Sabe, do amigo Jaime ou no restaurante de Ruy, na
Ladeira da Praça. E enquanto virávamos a 'loirésima gelada', dávamos muitas
risadas contando os ‘causos’ de redação. Eu era a única mulher da ‘tchurma’.
Era a ‘foquinha’ amadinha dos veteranos.
Em 1975, mudamos da Praça Castro
Alves para a Avenida Paralela, a zona nova da cidade, que começava a ser
‘habitada’. A rodoviária estava recém-inaugurada e o Iguatemi em conclusão.
Enquanto trabalhávamos ou tomávamos algumas geladas em Mestre Guma, víamos
subir os grandes ‘prediões’. Em 76, comecei minha vida como professora da
Universidade Federal da Bahia, inicialmente no Vale do Canela e depois em
Ondina. A vida era corrida!
Já em 96, resolvi fazer um livro
com as crônicas que eu escrevia semanalmente para o Caderno Lazer e Informação.
A editora, Regina Zobiak, selecionou os artigos e fez um monte de sugestões
para o título. Eu escolhi ‘Bem Comida – Crônicas e Delícias da Bahia’. E fui a
Dr. Jorge pedir-lhe para fazer a apresentação. Ah! Ele gostou muito por eu
tê-lo escolhido. Eu sei que ele gostava muito de mim. Conversa vai, conversa
vem, ele me pergunta qual seria o título do livro.
- ‘Bem Comida’, Dr. Jorge...
- Bem Comida? O livro de uma
professora da Universidade Federal da Bahia? Você acha que fica bem esse
título?
- Dr. Jorge, a Helô, professora
universitária nem sabe desse livro. A ‘tadinha’ está lá, cuidando dos seus
aluninhos, das suas ‘paicas’. Esse livro é coisa só da jornalista, boêmia e
gozadora.
Ouvi quando ele falou baixinho:
“Essa Heloísa não toma jeito, mesmo”. E fez uma apresentação bem carinhosa para
a ‘pimpolhinha’ dele. Sinto muito a sua falta, pois o amava e admirava muito. E
sempre digo que ele contribuiu muito para o Jornalismo com a sua correção,
seriedade e competência.
O livro teve mais um ‘babado’
engraçado. A capa deveria ter o título e o subtítulo no alto e, no pé da
página, viria o meu nome. Sabem como Gentil, meu queridíssimo amigo, finalizou?
Colocou em cima o ‘Helô Sampaio’, logo abaixo o ‘Bem Comida’, seguido de uma
caricatura minha nuinha e sedutora, num tabuleiro de baiana. No pé da página
foi que veio o ‘Crônicas e Delícias da Bahia’. Como é que pode, meu? Dei dois
pulos. Fui atrás de Gentil. Quer dizer que ‘Helô’ é que passou a ser a ‘bem
comida’ e não a Bahia? É isso mesmo? E lhe enchi de beijos, feliz da vida. Amei
a mudança; adorei a sugestão safadinha do meu querido chargista. E foi assim
que o livro saiu. Fala sério, não ficou legal?
Em comemoração ao centenário do
Dr. Jorge, conversei com a editora Regina Zobiak, que já está toda animada e
começando a organizar um novo livro (quero ver o que é que Gentil vai aprontar
desta vez). Enquanto ela seleciona as crônicas que irão lhe divertir, meu
amadinho, vamos saborear este delicioso ‘pudim de padaria’ que Regina fez para
nós. É receita do Mauro Rebelo.
Pudim de
padaria
Ingredientes
-- 3 ovos
-- 8 colheres de sopa de açúcar
-- 4 colheres de farinha de trigo
-- 1/2 litro de leite fervendo.
-- 3 ovos
-- 8 colheres de sopa de açúcar
-- 4 colheres de farinha de trigo
-- 1/2 litro de leite fervendo.
Para a calda
-- 1 xícara de açúcar e água.
-- 1 xícara de açúcar e água.
Modo de
Preparo
-- Acender o forno no máximo e colocar lá dentro uma forma com uns dois dedos de água fria e verificar se a forma do pudim cabe lá dentro;
-- Colocar o açúcar na panela, juntar 1 xícara de café de água, mexer bem para dissolver o melhor possível o açúcar e levar ao fogo. Não mexer mais com a colher;
-- Quando a calda estiver de um dourado escuro, tirar do fogo e, com o auxílio de uma colher, caramelizar a forma de pudim, isto é, espalhar a calda em toda a forma, sem esquecer o cone central. Reservar;
-- Colocar no liquidificador os ovos e o açúcar e bater por 5 minutos, até que esteja bem fofo e claro;
-- Juntar a farinha de trigo, colher por colher, sempre batendo e o leite fervendo, aos poucos. Continuar batendo por mais uns dois minutos;
-- Despejar a massa obtida, quase líquida, na forma caramelizada e levar ao forno, colocando dentro da forma que estará com a água fervendo;
-- Deixar por 50 minutos ou uma hora, até que esteja bem dourado;
-- Retirar ainda quente, para que a calda não se solidifique, e saborear lembrando bons tempos que temos na vida.
-- Acender o forno no máximo e colocar lá dentro uma forma com uns dois dedos de água fria e verificar se a forma do pudim cabe lá dentro;
-- Colocar o açúcar na panela, juntar 1 xícara de café de água, mexer bem para dissolver o melhor possível o açúcar e levar ao fogo. Não mexer mais com a colher;
-- Quando a calda estiver de um dourado escuro, tirar do fogo e, com o auxílio de uma colher, caramelizar a forma de pudim, isto é, espalhar a calda em toda a forma, sem esquecer o cone central. Reservar;
-- Colocar no liquidificador os ovos e o açúcar e bater por 5 minutos, até que esteja bem fofo e claro;
-- Juntar a farinha de trigo, colher por colher, sempre batendo e o leite fervendo, aos poucos. Continuar batendo por mais uns dois minutos;
-- Despejar a massa obtida, quase líquida, na forma caramelizada e levar ao forno, colocando dentro da forma que estará com a água fervendo;
-- Deixar por 50 minutos ou uma hora, até que esteja bem dourado;
-- Retirar ainda quente, para que a calda não se solidifique, e saborear lembrando bons tempos que temos na vida.
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