Literatura/romance
Flaubert inventou um estilo totalmente novo e moderno, praticando uma
escrita que, ao longo de cinco anos de trabalho, levaram-no produzir a obra
mestra de que trata este artigo.,
(madame Bovary foi uma das mais marcantes personagens da literatura
universal)
Publicado por Pamela Camocardi
A época exigia romances doces e açucarados,
mas a França estava prestes a conhecer um escritor audacioso, inovador e
corajoso, disposto a mudar o cenário da literatura mundial e a expor a
realidade da sociedade francesa: Gustave Flaubert.
O marco do realismo
francês tem um enredo aparentemente simples: o romance conta a história de
Emma, uma mulher sonhadora pequeno-burguesa, criada no campo, que aprendeu a
ver a vida através da literatura sentimental. Bonita e requintada para os
padrões provincianos, casa-se com Charles, um médico interiorano tão apaixonado
pela esposa quanto entediante. Porém, a vida para ela era monótona a ponto de
nem mesmo o nascimento da filha fazer esse quadro mudar. Emma, cada vez mais
angustiada e frustrada, encontra no adultério uma forma de ser feliz ou, pelo
menos, tentar ser.
O livro seria, pelo resumo acima, um romance
sem grandes expectativas, se não fosse um detalhe: o romance, que demorou cinco
anos para ser escrito, foi lançado em 1857, um ano em que os bons costumes eram
norteados pela igreja e pela intocável sociedade francesa.
Acusado de ter escrito uma "obra
execrável sob o ponto de vista moral", Flaubert foi levado aos tribunais,
mas absolvido pela Sexta Corte Correcional do Tribunal do Sena, em Paris, em
fevereiro de 1857. "Madame Bovary sou eu" disse Gustave Flaubert
quando lhe perguntaram quem teria sido o modelo da sua personagem, durante o
seu julgamento, em 1856.
Mestre com as palavras o autor foi minucioso
nas descrições das personagens. Para cada um dos personagens teve o cuidado de
constituir uma ficha médica, relacionando-se a seus antecedentes hereditários e
às manifestações de seu temperamento. A protagonista, Emma, por exemplo é tão
complexa e tão bem construída que o leitor tem a impressão que a conhece
intimamente. Através de Emma, Flaubert provou que nem toda heroína é perfeita e
nem vem acompanhada de histórias felizes. Com uma excessiva preocupação com a
forma da escrita e com o significado das palavras, Flaubert mudou a forma da
estrutura dos romances mundiais, criando narrativas claras e objetivas.
"A mulher de trinta anos" de Balzac
tinha todos os requisitos para ser o marco inicial do realismo francês, mas
Gustave Flaubert publicou "Madame Bovary" e mudou o cenário da
literatura francesa. Por várias vezes encontramos traços marcantes das
narrativas de Balzac e isso se dá pelo fato de Flaubert ter sido um grande
admirador da literatura do autor. Porém, enquanto Balzac segue uma linha mais
clássica, Flaubert procura proporcionar uma leitura mais clara e simples.
Algo relevante nessa obra são as ironias do
autor que só são entendidas pelas leituras das notas de rodapé. O sentido das
ironias de Flaubert é mais evidente no texto original, que é quase
imperceptível no português. Por isso é tão importante ler as notas de rodapé e
explicações da obra que variam em cada tradução.
Afirmar que Flaubert defende o adultério é o
mesmo que dizer que não entendeu nenhuma das mensagens que o autor deixou. Pelo
contrário, os casos de Emma foram descritos como conflitos psicológicos entre o
sonho e realidade. Madame Bovary é uma obra sofisticada, objetiva e audaciosa
que leva o leitor à reflexões profundas sobre o que é ser feliz e a busca
incessante pelo sentimento.
Otto Maria Carpeaux, em seu ensaio sobre o
romance, diz: “... com efeito, embora o romancista desprezasse sua personagem,
sofreu com ela, contou-lhe a história. O enredo, de tanta simplicidade,
desbordou. Flaubert, grande artista, teve o trabalho imenso para refreá-lo.”
Madame Bovary é uma obra de arte transformada
em livro. Um grande livro!
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