Música popular americana
Publicado por José Luis Marques,
“Vira o disco, mas não toca o
mesmo.”
Miles Davis mudou a face
do jazz como a conhecemos. Aventureiro e explorador incansável ao longo da sua
extensa carreira, o trompetista americano foi o responsável pela união de
outras sonoridades às linguagens jazzísticas clássicas. In a Silent Way, obra
de 1969, marcou o início do chamado período "eléctrico" de Miles e é
considerada uma das pioneiras do jazz de fusão. Retrato de um disco
revolucionário.
In a Silent Way ocupa um lugar peculiar na interminável
discografia de Miles Davis. Arrumado entre os indícios de fusão de Filles
de Kilimanjaro e o monumental Bitches Brew, este álbum de
1969 pode ser reconhecido como o primeiro disco eléctrico do
maior trompetista de jazz de todos os tempos.
É uma obra discreta, noturna e algo
misteriosa. Arrasta consigo um luar majestoso e uma aura de film noir.
Possui a estrutura de uma sinfonia clássica, com os seus dois temas
subdivididos em 3 movimentos cada, ouve-se como um disco de rock progressivo e
sente-se como um disco de jazz. Parece confuso, mas quando chegamos a It's
About That Time, segundo movimento da circular In a Silent Way, tudo
se conjuga com uma limpidez ofuscante. Piano eléctrico, guitarra eléctrica,
órgão, trompete, baixo e bateria fundem-se, complementam-se, afastam-se e enlaçam-se,
soprando-nos ao ouvido que estamos perante a mais bela abstração musical que
foi inventada. Algo intemporal e indefinido, mas que não apetece parar de
ouvir, tal como olhar para um quadro de Jackson Pollock e não tentar explicar.
Antes disso, embrenhámo-nos na cinemática e
hipnótica Shhh/Peaceful, peça que se move como um felino na noite,
deslizando pelas sombras como a trompete de Miles e sempre de atalaia como os
címbalos incessantemente varridos de Tony Williams. É música pintada de negro e
azul, quente e sensual, uma especiaria sonora. In a Silent Way é
um disco para ser ouvido do princípio ao fim, sem interrupções que quebrem a
espiral do seu círculo e o feitiço que conjura. O seu ecletismo transforma-o
num disco para noites solitárias, para um uísque à média-luz, ou para fazer
ressoar como seda em íntima cumplicidade. A partir daqui, já não sabemos se
pode continuar a chamar jazz à arte de Miles Davis. Sabemos, isso sim, que se
seguiu uma imensidade de música genial, única e pioneira. Acólitos fiéis como
Jaga Jazzist ou Cinematic Orchestra ainda andam por aí a comprová-lo...
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