Religião
Não houve no nordeste,
ate hoje, nenhuma personalidade que desfrutasse da credibilidade o da liderança
exercida por Padre Cícero que, até hoje,
leva milhares de romeiros à Juazeiro do Norte-Ceará, para reverenciá-lo
Em março de 2001, foi
escolhido "O Cearense do Século" em votação promovida pela TV Verdes Mares em
parceria com a Rede Globo de televisão.
Em julho de 2012, foi
eleito um dos "100 maiores brasileiros de todos os tempos" em
concurso realizado pelo SBT com a BBC.
Proprietário de terras, de gado e de diversos
imóveis, Cícero fazia parte da sociedade e política conservadora do sertão do Cariri. Sempre teve o médico Floro Bartolomeu como o seu braço direito, e integrava o
sistema político cearense que ficou sob o controle da família Accioli durante mais de 2 décadas.
Nascido no interior do Ceará, era
filho de Joaquim Romão Batista e Joaquina Vicência Romana, conhecida como dona
Quinô. Ainda aos 6 anos, começou a estudar com o professor Rufino de Alcântara
Montezuma.
Um fato importante
marcou a sua infância: o voto de castidade feito aos 12 anos, influenciado pela
leitura da vida de São Francisco de Sales.
Em 1860, foi
matriculado no colégio do renomado padre Inácio de Sousa Rolim, em Cajazeiras na Paraíba. Aí pouco demorou, pois a inesperada morte de seu
pai, vítima de cólera em 1862, o
obrigou a interromper os estudos e voltar para junto da mãe e das irmãs
solteiras. A morte do pai, que era pequeno comerciante no Crato, trouxe sérias
dificuldades financeiras à família de tal sorte que, mais tarde, em 1865,
quando Cícero Romão Batista precisou ingressar no Seminário da Prainha, em Fortaleza, só o fez graças à ajuda de seu padrinho de
crisma, o coronel Antônio Luís Alves Pequeno.
Durante o período em que esteve no seminário, Cícero era considerado um aluno mediano e,
apesar de anos depois arrebatar multidões com seus sermões, apresentou notas
baixas nas disciplinas relacionadas à oratória e eloquência.
Cícero foi ordenado padre no dia 30 de novembro de 1870. Após
sua ordenação retornou ao Crato e, enquanto o bispo não lhe dava paróquia para administrar, ficou a ensinar latim no
Colégio Padre Ibiapina, fundado e dirigido pelo professor José Joaquim Teles Marrocos, seu primo e grande amigo.
Estátua do Padre Cícero na colina do
Horto, em Juazeiro do Norte
No natal de 1871,
convidado pelo professor Simeão Correia de Macedo, o padre Cícero visitou pela
primeira vez o povoado de Juazeiro (numa fazenda localizada na povoação de
Juazeiro, então pertencente à cidade do Crato), e ali celebrou a tradicional missa do galo.
O padre visitante, então aos 28 anos, estatura
baixa, pele branca, cabelos louros, penetrantes olhos azuis e voz modulada,
impressionou os habitantes do lugar. E a recíproca foi verdadeira. Por isso,
decorridos alguns meses, exatamente no dia 11 de abril de 1872, lá estava de
volta, com bagagem e família, para fixar residência definitiva no Juazeiro.
Muitos livros afirmam que Padre Cícero resolveu
fixar morada em Juazeiro devido a um sonho (ou visão) que teve, segundo o qual,
certa vez, ao anoitecer de um dia exaustivo, após ter passado horas a fio a
confessar as pessoas do arraial, ele procurou descansar no quarto contíguo à
sala de aulas da escolinha, onde improvisaram seu alojamento, quando caiu no
sono e a visão que mudaria seu destino se revelou. Ele viu, conforme relatou
aos amigos íntimos, Jesus Cristo e os doze apóstolos sentados à mesa, numa disposição que lembra
a última Ceia,
de Leonardo da Vinci. De repente, adentra ao local uma multidão
de pessoas carregando seus parcos pertences em pequenas trouxas, a exemplo
dos retirantes nordestinos. Cristo, virando-se para os
famintos, falou da sua decepção com a humanidade, mas disse estar disposto
ainda a fazer um último sacrifício para salvar o mundo. Porém, se os homens não
se arrependessem depressa, Ele acabaria com tudo de uma vez. Naquele momento,
Ele apontou para os pobres e, voltando-se inesperadamente ordenou: - E
você, Padre Cícero, tome conta deles!
Imagem em Agrestina
Uma vez instalado, formado por um pequeno
aglomerado de casas de taipa e uma capelinha erigida pelo primeiro capelão-padre Pedro Ribeiro de Carvalho, em honra a Nossa Senhora das Dores, padroeira do lugar, ele tratou inicialmente
de melhorar o aspecto da capelinha, adquirindo várias imagens com as esmolas
dadas pelos fiéis.
Depois, tocado pelo ardente desejo de conquistar o
povo que lhe fora confiado por Deus, desenvolveu intenso trabalho pastoral com
pregação, conselhos e visitas domiciliares, como nunca se tinha visto na
região. Dessa maneira, rapidamente ganhou a simpatia dos habitantes, passando a
exercer grande liderança na comunidade.
Paralelamente, agindo com muita austeridade, cuidou
de moralizar os costumes da população, acabando pessoalmente com os excessos de
bebedeira e com a prostituição.
Restaurada a harmonia, o povoado experimentou,
então, os passos de crescimento, atraindo gente da vizinhança curiosa por
conhecer o novo capelão.
Para auxiliá-lo no
trabalho pastoral, o padre Cícero resolveu, a exemplo do que fizera Padre Ibiapina,
famoso missionário nordestino falecido em 1883,
recrutar mulheres solteiras e viúvas para a organização de uma irmandade leiga,
formada por beatas, sob sua inteira autoridade.
Atuou sempre com zelo na recepção dos imigrantes,
dentre eles pode-se destacar José Lourenço Gomes da Silva, líder do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto.
No ano de 1889, durante
uma missa celebrada pelo padre Cícero, a hóstia ministrada
pelo sacerdote à religiosa Maria de Araújo se transformou em
sangue na boca da religiosa.
Segundo relatos, tal fenômeno se repetiu diversas vezes durante cerca de dois
anos. Rapidamente espalhou-se a notícia de que acontecera um milagre em
Juazeiro.
Estátua do Padre Cícero na Serra do Quincuncá
em Farias Brito
A pedido de padre Cícero a diocese formou uma
comissão de padres e profissionais da área da saúde para investigar o suposto
milagre. A comissão tinha como presidente o padre Clycério da Costa e como secretário
o padre Francisco Ferreira Antero, contava, ainda, com a participação dos
médicos Marcos Rodrigues Madeira e Ildefonso Correia Lima, além do farmacêutico
Joaquim Secundo Chaves. Em 13 de outubro de 1891, a comissão encerrou as
pesquisas e chegou à conclusão de que não havia explicação natural para os
fatos ocorridos, sendo, portanto, um milagre.
Insatisfeito com o parecer da comissão, o
bispo Dom Joaquim José Vieira nomeou uma nova comissão para
investigar o caso, tendo como presidente o padre Alexandrino de Alencar e como
secretário o padre Manoel Cândido. A segunda comissão concluiu que não houve
milagre, mas sim um embuste.
Dom Joaquim se posicionou favorável ao segundo
parecer e, com base nele, suspendeu as ordens sacerdotais de padre Cícero e
determinou que Maria de Araújo, que viria a morrer em 1914, fosse
enclausurada.
Em 1898, padre Cícero foi a Roma, onde
se reuniu com o Papa Leão XIII e com membros da Congregação do Santo Ofício,
conseguindo sua absolvição. No entanto, ao retornar a Juazeiro, a decisão
do Vaticano foi revista e padre Cícero teria sido
excomungado, porém, estudos realizados décadas depois pelo bispo Dom Fernando Panico sugerem que a excomunhão não chegou a ser aplicada de fato.
Atualmente, Dom Fernando conduz o processo de reabilitação do padre Cícero
junto ao Vaticano.
Em 13 de dezembro de 2015, Padre Cícero recebeu
perdão da Igreja Católica.
Em 1973, foi
canonizado pela Igreja Católica Apostólica Brasileira (diferente da Igreja Católica Apostólica
Romana).
Era filiado ao extinto Partido Republicano Conservador (PRC). Foi o primeiro prefeito de Juazeiro do
Norte, em 1911,
quando o povoado foi elevado a cidade. Em 1926 foi
eleito deputado federal, porém não chegou a assumir o cargo.
Em 4 de outubro de 1911, o
padre Cícero e outros 16 líderes políticos da região se reuniram em Juazeiro e
firmaram um acordo de cooperação mútua bem como o compromisso de apoiar o
governador Antônio Pinto Nogueira Accioli. O encontro recebeu a alcunha de Pacto dos
Coronéis, sendo apontado como uma importante passagem na história do coronelismo brasileiro.
Em 1913, foi
destituído do cargo pelo governador Marcos Franco Rabelo, voltando ao poder em 1914,
quando Franco Rabelo foi deposto no evento que ficou conhecido como Sedição de Juazeiro. Foi eleito, ainda, vice-governador do
Ceará, no Governo do General Benjamin Liberato Barroso.
Ao fim dos anos 20, o padre Cícero começou
a perder a sua força política, que praticamente acabou depois da Revolução de 1930. Seu prestígio como santo milagreiro,
porém, aumentaria cada vez mais.
Floro Bartolomeu e Padre Cícero.
Virgulino Ferreira da Silva, o
Lampião, era devoto de padre Cícero e respeitava as suas crenças e conselhos.
Os dois se encontraram uma única vez, em Juazeiro do Norte, em 1926.
Naquele ano, a Coluna Prestes,
liderada por Luís Carlos Prestes, percorria o interior
do Brasil desafiando o Governo Federal. Para combatê-la foram criados os chamados Batalhões
Patrióticos, comandados por líderes regionais que muitas vezes
arregimentavam cangaceiros.
Existem duas versões para o encontro. Na primeira,
difundida por Billy Jaynes Chandler, o sacerdote teria convocado Lampião para
se juntar ao Batalhão Patriótico de Juazeiro, recebendo em troca, anistia de
seus crimes e a patente de Capitão. Na outra versão, defendida por Lira Neto e Anildomá Willians, o convite teria sido
feito por Floro Bartolomeu sem que padre Cícero soubesse.
O certo é que ao chegarem a Juazeiro, Lampião e os
49 cangaceiros que o acompanhavam, ouviram padre Cícero aconselhá-los a
abandonar o cangaço. Como Lampião exigia receber a patente que lhe fora
prometida, Pedro de Albuquerque Uchoa, único funcionário público federal no
município, escreveu em uma folha de papel que Lampião seria, a partir daquele
momento, Capitão e receberia anistia por seus crimes. O bando deixou Juazeiro
sem enfrentar a Coluna Prestes.
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