terça-feira, 26 de janeiro de 2016

A PETROBRAS TEM FUTURO COMPROMETIDO

Brasil


Colaboração de Fernando Alcoforado*

O valor de mercado da Petrobras encolheu em US$ 200 bilhões desde o início do governo Dilma Rousseff. Em 31 de dezembro de 2010, um dia antes da posse de Dilma Rousseff, a empresa valia US$ 228,211 bilhões. Ao final do pregão de 22/01/2016, o valor de mercado da Petrobras era de US$ 28,032 bilhões, isto é, uma queda de quase 90%. O ano de 2015 terminou com a empresa endividada em R$ 522 bilhões. Este é o resultado de 12 anos de incompetência gerencial e corrupção da gestão petista que transformou a Petrobras de modelo de eficiência empresarial em um abrigo de larápios segundo a Operação Lava-Jato. Os resultados desastrosos da Petrobras resultaram não apenas da má gestão e das decisões equivocadas de seus dirigentes nos investimentos realizados como, por exemplo, a aquisição das refinarias de Pasadena nos Estados Unidos e de Okinawa no Japão e a construção da refinaria Abreu e Lima no Brasil, mas também da corrupção. A Petrobras chega à pior situação de sua história ao se transformar na petroleira mais endividada do planeta.




A divulgação do balanço da Petrobras referente a 2014, devidamente auditado comprova que o assalto praticado pelo aparelhamento da empresa pelos governos petistas não foi apenas de R$ 6,2 bilhões contabilizados no balanço como perdas patrimoniais em função do superfaturamento de contratos firmados entre a companhia e o “clube de empreiteiras”, fonte que irrigou bolsos de altos funcionários e campanhas do PT, alguns partidos aliados dos governos petistas e políticos diretamente. A Petrobras informou que outros R$ 44,6 bilhões de prejuízos resultaram também da postergação dos projetos do Comperj (polo petroquímico em Itaboraí, RJ) e da Refinaria Abreu e Lima (PE), causados, entre diversos motivos, por “problemas na cadeia de fornecedores oriundos das investigações da Operação Lava-Jato”. (Ver o artigo O verdadeiro custo da corrupção na Petrobras disponível no website ).

Com mais de 70% de sua dívida em moeda estrangeira, a Petrobras está extremamente vulnerável à variação cambial a ela bastante desfavorável. Com o aumento da dívida, cresce a alavancagem da empresa, isto é, o tamanho dos débitos em comparação com o tamanho da companhia. Analistas olham para indicadores de alavancagem para estimar a capacidade de uma empresa pagar suas dívidas.

Segundo cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), com a alta do dólar, um desses indicadores, a relação entre o endividamento líquido e o patrimônio, chegaria a 58%. A Petrobras define como 35% o patamar aceitável para esse índice. Isto significa dizer que a Petrobras ultrapassou dos limites de alavancagem. Além de estar extremamente endividada, a Petrobras está sendo ameaçada pela redução de sua receita com as exportações de óleo bruto e com a venda de derivados de petróleo como nafta e querosene de aviação devido à queda no preço do barril de petróleo no mercado internacional. A redução de sua receita torna ainda mais duvidosa à realização dos investimentos em novos projetos de exploração e produção da Petrobras. Também afugenta os investidores com dúvidas sobre uma possível capitalização da empresa, a eficácia dos cortes de investimentos e da venda de ativos já anunciada pela empresa. Estas incertezas somam-se ao escândalo de corrupção revelado pela Operação Lava Jato e aos processos judiciais 2 em andamento nos Estados Unidos que podem resultar no pagamento de indenização bilionária aos acionistas norte-americanos da empresa.

A reação dos mercados financeiros a tudo isto foi imediata. O preço das ações da Petrobras voltou ao nível de 1999 nas bolsas de valores. Desde o final de 2010, a Petrobras perdeu 90% do valor de mercado. Esse desempenho tirou a estatal da lista de 500 maiores empresas de capital aberto do mundo, elaborado pela Bloomberg. Piorando a catastrófica situação em que se encontra a Petrobras, a agência Moody’s rebaixou em 24 de fevereiro de 2015 todas as notas de crédito da empresa, incluindo a da dívida em moeda estrangeira. Assim, a Petrobras perdeu o grau de investimento. O rebaixamento da Petrobras pela Moody’s para o grau especulativo é uma sinalização forte para o mercado da deterioração financeira da empresa e do aumento do risco de atrasos ou não pagamentos de sua dívida.

Os resultados práticos da perda do grau de investimento são o aumento do custo incorrido pela Petrobras para emitir novos títulos de capitalização, porquanto os credores exigirão maiores juros para comprar esses títulos e a redução da quantidade de potenciais credores, devido aos regulamentos de diversos fundos de investimentos, que vedam a aquisição ou manutenção de títulos de empresas com grau especulativo. Estas são duas consequências absolutamente inoportunas neste momento em que a Petrobras carrega uma das maiores dívidas empresariais do mundo e executa um plano de investimentos que exige recursos além de sua capacidade de geração de receita. Toda esta situação coloca em xeque o Plano de Negócios e Gestão da Petrobras, para o período de 2014 a 2018, que prevê investimentos de US$ 220,6 bilhões majoritariamente na área de Exploração e Produção, cuja meta principal é atingir a produção de 3,2 milhões de barris por dia de petróleo e líquido de gás natural em 2018.

O rebaixamento do rating da Petrobras pela agência Moody’s traz dificuldades para a Petrobras uma vez que a empresa previa captação de recursos externos, pois a geração de recursos próprios não é suficiente para garantir seus planos de investimento. Isto significa dizer que a Petrobras não terá capacidade financeira para arcar com as obrigações que lhe impõe o regime de partilha do pré-sal que prevê sua participação em no mínimo 30% dos investimentos. Para completar a situação catastrófica da Petrobras, ela se defronta com a possibilidade de inviabilização econômica de sua produção de petróleo. Isto se deve ao fato de a Petrobras ter um custo médio de produção de US$ 31 por barril, enquanto o preço do barril no mercado internacional se encontra abaixo de US$ 30 e tende para US$ 20. O custo médio de produção da Petrobras de US$ 31 por barril é obtido considerando o custo de produção de petróleo que é da ordem de US$ 28 por barril somado ao custo de refino que é da ordem de US$ 3 por barril.

Esta difícil situação em que se encontra a Petrobras coloca na ordem do dia a necessidade de repensar a exploração do Pré-sal. Há dois grandes problemas da Petrobras em relação ao Pré-sal: O primeiro é o de sua viabilidade econômica que fica comprometida em um cenário de baixa dos preços do petróleo no mercado internacional, já que a extração das reservas do pré-sal é tecnologicamente complexa e cara. O segundo resulta do fato de que as denúncias de corrupção e a situação administrativa da empresa dificultarão a captação de recursos para o financiamento dos projetos. Segundo a Petrobras, o Pré-sal seria viável com o preço internacional do barril do petróleo cotado a US$ 45. Considerando o fato do preço atual do barril de petróleo 3 no mercado internacional se encontrar abaixo de US30 com tendência a cair para US$20, a exploração do pré-sal  fica economicamente inviável.

Em face desta situação, a Petrobras teria que adotar uma das duas alternativas descritas a seguir: 1) vender ativos como já está ocorrendo com a venda da refinaria de Okinawa no Japão e da Transpetro e de sua participação na Braskem e se capitalizar atraindo recursos oriundos do setor privado com a consequente redução da participação do governo federal no capital da empresa; e, 2) capitalizar a empresa com recursos do governo federal. Na alternativa 1, a Petrobras caminharia na direção de sua privatização e/ou desnacionalização seja com a transferência para o setor privado de parte de seus ativos e o aumento da participação de recursos privados no capital da empresa e, na alternativa 2, a Petrobras continuaria estatal com o aumento da participação do governo federal no capital da empresa.
Dessas alternativas, o mais provável é que prevaleça a alternativa 1 porque o governo federal, acionista majoritário da empresa, pouco pode fazer para salvá-la da bancarrota, porquanto está também em situação pré-falimentar e sem capacidade de reverter o quadro atual da economia brasileira com o comando do País em mãos incompetentes. Diante de toda esta situação, a tendência é a Petrobras ser privatizada e desnacionalizada com a privatização de grande parte de seus ativos e o aumento da participação privada no capital da empresa para se safar da grave situação financeira em que se encontra. Este é o resultado da gestão temerária e incompetente do País e da Petrobras nos últimos 12 anos de gestão petista. A privatização e a desnacionalização da Petrobras só não acontecerão se o povo brasileiro lutar para reverter esta tendência.

* Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no BrasilEnergia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).

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