Publicado por Mônica Montone
Se toda mulher fosse meio Leila Diniz certamente o mundo seria mais feliz - essa é a conclusão a que se chega ao ler sua biografia escrita por Joaquim Ferreira dos Santos.
Dela ficou a imagem da menina que trepava em qualquer esquina com qualquer um simplesmente porque ela falava demais.
Quantas Marias-sem-vergonha não se esfregam nos muros por aí, se fingindo de flor pequena e rósea, sem que ninguém saiba?
De sua boca não saíam apenas palavrões, mas também poemas que costumava recitar nos bares com um copo de chope nas mãos.
Foi amiga de Manuel Bandeira, poeta que, aliás, a tirou do xilindró aos 15 anos de idade após uma prisão por atentado ao pudor por conta de um belo amasso na praia de Copacabana.
Achava as músicas de Edu Lobo tristes demais e, sobre os intelectuais, dizia: “São uns pentelhos, uns caras velhos. Intelectual não fode, fica só pensando, lendo”.
Arrependimentos? Segundo ela somente o que deixou de fazer por neurose e medo.
Adorava crianças. Gostava de cachaça. Amava o mar. Escrevia em diários - hoje guardados com Marieta Severo - e num deles escreveu: “Se a gente sabe das coisas, se vira, a realidade é um troço bacana”; “somando, subtraindo, dividindo, multiplicando, tanto faz. Me interessa o saldo”. Sonhava em ser mãe.
Não queria salvar o mundo, nem ser exemplo. Vivia o comportamento em época de engajamento.
De seu affair não consumado com o rei Roberto Carlos, concluiu: “Se ele quiser, mesmo, que faça à moda antiga, toca a campainha do portão”.
Foi professora primária, vedete, atriz, jurada de programa de TV, dona de butique, esposa, amante, fugitiva da polícia, mãe.
Podia ter sido uma Maria qualquer se sua boca tivesse tramela, mas, como não tinha, foi o que não poderia deixar de ter sido: Leila Diniz.
Foi “todas as mulheres do mundo” em apenas 27 anos de existência e exuberância. Essa é a conclusão a que se chega ao ler sua biografia, escrita pelo jornalista Joaquim Ferreira dos Santos (Editora Companhia das Letras).
Ao longo das 286 páginas do livro "Leila Diniz", somos convidados a um mergulho na vida do mito Leila Diniz - que levou o Pasquim à extraordinária marca de 117 mil exemplares vendidos na edição com sua entrevista; que fez com que o ex-marido Domingos Oliveira rodasse um filme somente para tentar reconquistá-la e que foi rejeitada pela Rede Globo, pelas feministas, pela turma do Cinema Novo, pelos comunistas e pela polícia de direita, que a via como uma ameaça aos bons costumes.
Além disso, reencontramos na biografia escrita por Joaquim Ferreira dos Santos uma Ipanema que o tempo não pode trazer de volta e conhecemos histórias da menina que andava de maria-chiquinha e que na infância conversava com uma montanha que apelidou de ursinho Cherri.
A narrativa jornalística e repleta de deliciosos depoimentos bem amarrados faz com que nos aproximemos ainda mais dessa bela dona que, por ter optado pela alegria, acabou se tornando um antiácido diante de tanta hipocrisia.
Se toda mulher fosse meio Leila Diniz certamente o mundo seria mais feliz.
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