segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

OUTONO EM NOVA YORK

Arte cinematográfica


Publicado por Fernanda Villas Boas





Will Keane (Richard Gere) é um playboy cinquentão que tem como promessa nunca ter um compromisso sério com uma mulher. Quando ele conhece Charlotte Fielding (Winona Ryder), uma jovem que tem a metade da sua idade, imagina que terá com ela outro rápido e fácil romance. Mas nada no relacionamento de ambos é fácil ou rápido. Apesar da diferença de idade, eles terminam se apaixonando perdidamente e fazendo com que Will resolva abandonar sua decisão de nunca assumir um compromisso amoroso. Mas Charlotte tem um sério motivo para recusar a proposta de ter uma relação com Will.


O filme Autumn in New York, Outono em Nova York em português, dirigido por Joan Chen e lançado em 2000 conta o encontro inusitado de um rico cinquentão com uma jovem de 25 anos que ao se conhecerem no aniversário dela, sentem-se atraídos um pelo outro através do olhar. Ele, Will, é dono do restaurante onde se encontram. A avó de Charlotte conhece Will porque ele no passado, foi amigo de Liz, mãe da jovem.

Outono, porque é a estação de mudança do corpo e da alma. Quando nos aproximamos do por do sol, e as folhas amarelas, laranjas, em vermelho e vinho decoram o Central Park em Nova York. Com esta conotação de amadurecimento, Will marca um encontro com ela, sob pretexto de querer um chapéu para sua partner em um baile. Ela acredita e vai ao seu apartamento entregar a encomenda. Ele se diz desapontado pois não tem mais seu par. Ela adoeceu. A jovem fica atônita sem saber o que dizer até que entre silêncios, ele a convida para acompanhá-lo ao baile. Tudo até aí é bem cor de rosa, com clichês que em outro filme, faria do mesmo um mero drama enlatado.

Por causa do enredo e da forma como o casal se envolve, passamos a perceber a transformação gradativa de Will. Isto porque ele é um quarentão que se envolve com várias mulheres e nunca assumiu um compromisso que envolvesse amor por uma mulher. Neste caso, sem perceber, está apaixonado pela jovem, que poderia ser até sua filha até vir a saber que ela tem pouco tempo de vida devido a um câncer no tórax. Apesar do choque, continuam se encontrando, muito embora, Will tente atingi-la, através de chistes, e travam uma boa batalha de palavras acerca da diferença de idade.

Devido ao fato de estar menos defendido, Will vai ao encontro da filha Liz que ele nunca havia assumido e ela cobra dele alguma resposta ao total abandono. Ele se desculpa e sentimos que esta analogia, diz respeito também ao seu caso de amor. Estaria se protegendo de um amor quase incestuoso? Faz o possível para magoar Charlotte, inclusive, em uma festa, ele transa com outra mulher, como uma forma de afastá-la de sua vida. Com muita raiva e palavras afiadas, ela diz que ele é um medroso. Ela faz questão de mostrar-se heroína na história e luta pela vida enquanto está viva.

Afastam-se. Neste clímax, Will se vê realmente apaixonado por uma mulher ao ponto de querer, cuidar dela, protegê-la e salvá-la, o que também o faz herói. Desse modo, Will, busca junto à filha o melhor cirurgião em Ohio para que quando fosse a hora pudesse operar com risco de Charlotte viver ou morrer.


Eles ainda passam muitos momentos juntos, o suficiente para terem muita intimidade e uma relação amorosa sincera, corajosa e romântica. A ideia de saber que quem você ama pode morrer a qualquer momento, requer desapego e esperança, coragem e flexibilidade. É uma estação onde tem-se Eros em seu estado mais maduro e consciente da estação final, que seria o inverno da vida.


Segundo C.G.Jung, a transformação se dá através do cultivo da alma, a instância geradora e organizadora de imagens. Ao mesmo tempo, sutil, consciente e inconsciente, tal processo identifica-se com a experiência estética, caracterizada pela convergência entre os dois amantes, o que resulta na catarse entre os envolvidos.


Há um epifania de conhecimento de si e do mundo. Algo nasce do caos, permitindo a passagem de um comportamento para outro que antes estava reprimido. Envolvidos neste drama, Will e Charlotte confundem-se por meio de suas almas, antes esquecidas. A alma gera as imagens de que a cognição se apropria para modelar o real e encarar nossa finitude, se medo de perder sua subjetividade. Não há espiritualização sem imaginação que imagina o espírito e a expectativa da separação através da morte de Charlotte. Há entrega consciente do fim, da passagem para a eternidade. Com a morte de Charlotte, Will resgata sua filha e seu neto dando, pois, continuidade à vida. Através do amor por Charlote, Will se transforma no homem que ele havia desconectado de sua alma: gentil, amoroso e humano.


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