Brasil/educação
Paula Adamo IdoetaDa BBC Brasil em São Paulo
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Especialista lembra que recursos do petróleo são finitos e, portanto, não podemos contar com ele para despesas fixas da educação. |
Em setembro de 2013, a presidente Dilma Rousseff assinou a
lei que destina a maior parte dos recursos dos royalties do pré-sal à educação
num momento de grandes expectativas: a economia brasileira ainda vivia tempos
de otimismo e o petróleo era cotado internacionalmente a US$ 110 o barril.
A lei determinou que 75% dos royalties do petróleo e 50% do
chamado Fundo Social do Pré-Sal sejam destinados à educação - uma espécie de
poupança feita com parte dos recursos originários da exploração petrolífera do
país, paga ao Estado brasileiro pelas empresas que exploram esse recurso.
Na ocasião, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante,
declarou que os royalties trariam a receita "mais promissora do Estado
brasileiro". E Dilma lembrou que se tratava de "darmos um salto de
qualidade de ensino no Brasil e em todas as atividades, da criação científica
até a economia".
Passados pouco mais de dois anos, porém, o cenário é bem
menos otimista: o preço internacional do petróleo vem despencando e, nesta
segunda-feira, o barril foi cotado a US$ 28, valor mais baixo em 12 anos.
Isso significa que, a cada barril extraído, será
substancialmente menor a receita de royalties obtida pelo governo brasileiro.
Segundo cálculos feitos até setembro pela consultoria
legislativa da Câmara dos Deputados, de uma previsão orçamentária inicial de R$
6 bilhões vindos de royalties para a educação, o país havia conseguido aplicar
apenas 15% desse valor em 2015.
E, ainda que a exploração do pré-sal tenha registrado alta
no ano passado e o dinheiro resultante disso já esteja pingando na conta do
Ministério da Educação (MEC), municípios brasileiros dizem ter tido suas
expectativas frustradas, alegando que os recursos estão ficando com o
ministério para suas despesas correntes e não estão chegando à ponta final da
cadeia.
Os municípios se queixam também que, por conta da crise
econômica, os repasses do MEC estão atrasados, dificultando investimentos no
setor.
Para complicar, uma pendência judicial contribui para a
incerteza quanto aos royalties: uma liminar do Supremo Tribunal Federal mantém
em suspenso a distribuição dos recursos nos termos definidos pela lei de 2013.
A ação, que não tem data para ser analisada em caráter
definitivo, foi solicitada pelo governo do Rio de Janeiro, Estado produtor de
petróleo, que questiona a distribuição dos royalties para os Estados
não-produtores.
Nesse cenário, como ficam as chances de o dinheiro da
exploração do petróleo poder de fato mudar o panorama orçamentário da educação
brasileira, como se esperava em 2013?
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Municípios se queixam de que, apesar de grandes expectativas, recursos vindos do pré-sal não estão chegando à ponta final da cadeia |
Orçamento e expectativas
Levantamento de Paulo César Ribeiro Lima, consultor da
Câmara dos Deputados para temas minerais e energéticos, calcula que, apesar de
no início de 2015 o orçamento ter previsto R$ 6 bilhões vindos dos royalties e
R$ 4,1 bilhões terem sido empenhados (ou seja, prometidos) pelo governo federal
até setembro, apenas R$ 872,5 milhões dessa fonte foram efetivamente gastos
pelo ministério.
Para Ribeiro Lima, a previsão orçamentária nasceu alta
porque ainda tinha como base o preço do petróleo ainda no patamar mais elevado.
E os municípios brasileiros, que costumam arcar com grande
parte dos gastos educacionais – nas escolas de ensino primário e fundamental -,
se queixam de que seus custos aumentaram, sem que as receitas petrolíferas
tenham chegado para socorrê-los.
"Os royalties foram anunciados como um recurso
adicional, (...) mas não temos respostas sobre como eles serão distribuídos
para Estados e municípios", diz Alessio Costa Lima, presidente da União
Nacional dos Dirigentes Municipais da Educação (Undime).
Segundo representantes da entidade, havia uma
"expectativa gigante" das prefeituras quanto à entrada de novos
recursos na educação, "mas o cenário neste momento não é nada
animador".
"A prioridade desse dinheiro não está sendo a educação
básica, como prevê a lei", queixa-se Daniel Cara, coordenador da Campanha
Nacional Pelo Direito à Educação. "O recurso tem entrado no orçamento do
Ministério da Educação e está sendo usado para gastos correntes."
Para Cara, o fato de o Fundo Social do Pré-Sal não ter sido
plenamente regulamentado abre brechas para que os recursos não sejam aplicados
necessariamente nas áreas mais importantes. "A lei de 2013 é razoavelmente
vaga para permitir isso."
O MEC informou à reportagem que a expectativa para 2016, no
Projeto de Lei Orçamentária Anual, é de que os royalties rendam R$ 4,4 bilhões
à União, mas essa previsão foi feita com base no preço do petróleo entre US$ 53
a US$ 60.
E a previsão do ministério é de os repasses de parte dos
recursos arrecadados com o petróleo só comecem a chegar aos estados e
municípios a partir de 2020.
Otimismo frustrado
A lei do pré-sal "gerou um clima de muito
otimismo" nos agentes educacionais quando foi aprovada, em 2013, diz à BBC
Brasil Alejandra Meraz Velasco, coordenadora-geral do movimento Todos Pela
Educação.
"Mas as expectativas de extração já mostravam que o
dinheiro seria insuficiente para cumprir os gastos estipulados no Plano
Nacional de Educação. Outra questão é que o petróleo é um recurso não
renovável, portanto não pode ser considerado uma fonte permanente de recursos à
educação."
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Dinheiro da exploração do pré-sal já cai na conta da União, mas queda no preço internacional do petróleo prejudica as receitas. |
Tanto Velasco quanto o professor Naércio Menezes Filho,
coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, dizem que mais recursos
são importantes para o Brasil melhorar seu desempenho na educação, mas alertam
que, mais do que contar com novas fontes de receita, o país precisa gerir com
eficiência os recursos já existentes.
"Em municípios exploradores de petróleo que já recebiam
receitas extraordinárias de royalties não houve (historicamente) avanço na
qualidade da educação", diz Menezes.
"Não é só uma questão de gastar mais, mas de melhorar a
gestão dos recursos, (por exemplo) criando incentivos para os professores serem
mais eficientes. Se a produtividade não melhorar, esse dinheiro acaba
desperdiçado."
Em seu estudo, o consultor legislativo Paulo César Ribeiro
Lima diz acreditar que o pré-sal tem se mostrado "um sucesso" do
ponto de vista empresarial, mas é uma "oportunidade perdida para, de fato,
ser o indutor de uma profunda transformação social no Brasil, principalmente
nas áreas de educação e saúde".
Ele opina que a lei de concessão das reservas petrolíferas
prevê uma baixa participação governamental direta nas receitas, ou seja, que o
Estado brasileiro ganha menos do que poderia com esse recurso natural. E que,
somado a disso, o dinheiro é mal distribuído.
Ainda assim, Ribeiro Lima mantém um grau de otimismo. Suas
previsões, de junho do ano passado, davam conta de uma receita petrolífera de
R$ 22,4 bilhões à educação e à saúde em 2030. No atual ritmo de preços do
petróleo, essa previsão se mantém?
"Pode se manter. O pré-sal ainda é um tesouro e vai produzir.
O momento é ruim, mas o preço do petróleo pode subir."
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