quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

SÉTIMO SELO, DOM QUIXOTE E SERGIO MORO EM ANALOGIAS TROPICAIS

Literatura/cinema

Publicado por Geraldo Costa
“Resposta certa, não importa nada: o essencial é que as perguntas estejam certas...”






Dom Quixote, Antonius Block e Sergio Moro em analogias tropicais: Det sjunde inseglet (O Sétimo Selo) é um drama sueco de 1956, escrito e dirigido por Ingmar Bergman. O filme é baseado numa peça de teatro de autoria do diretor; Sérgio Fernando Moro, juiz federal brasileiro, conhecido por comandar o julgamento dos crimes identificados na Operação Lava Jato, a investigação do maior caso de corrupção do país; Miguel de Cervantes, romancista, dramaturgo e poeta castelhano.


O filme ambienta-se em um dos mais obscuros e apocalípticos períodos da Idade Média europeia. O título é uma remissão ao livro bíblico denominado Apocalipse ou Revelação. Segundo esta escritura, na mão de Deus há um livro selado com sete selos e a abertura de cada um destes selos implica num malefício sobre a humanidade, mas a abertura do sétimo é o que leva efetivamente ao fim dos tempos. No desenrolar do enredo torna-se clara a preocupação do diretor em buscar, no passado, um período que traga à tona questões ainda presentes no mundo contemporâneo. Ao fazê-lo, Bergman reconstruiu a Idade Média sueca não para lematizá-la em si, ainda que o trabalho de pesquisa histórica e de reconstrução da sociedade daquela época tenha sido cuidadosamente preparado, mas, principalmente, para expor as aflições do mundo em que vivia. Bergman busca no mundo medieval o medo apocalíptico, seja ele o temor de que o mundo pode acabar de repente ou de que ele seja dizimado gradualmente pela peste, o que acaba por expor a preocupação própria do diretor com essa mesma questão.

O Sétimo Selo tem por tema, fundamentalmente, a questão do medo da morte; um cavaleiro que volta da Cruzada da Fé para encontrar em sua terra a peste e morte. Quando ele mesmo se depara com a personificação da morte, aceita-a como um visitante esperado, mas propõe-lhe uma negociação – numa disputa de xadrez - para que possa ganhar tempo e indagar sobre o sentido da vida e, consequentemente, o sentido da morte. Dessa forma, abre-se uma pausa no caminho da morte para vermos qual é o sentido da aflição que está sendo promovida e qual o caminho possível para fugir desse destino. O jogo de xadrez aparece talvez como uma alegoria da busca do cavaleiro a um entendimento da vida através da racionalidade que, ao final do filme, fica evidente que não seria possível, assim como, o cavaleiro mesmo percebe, não seria possível vencer a Morte.
No mundo medieval tudo era entendido através da religião, então o sentido da indagação do cavaleiro é questionar a religiosidade, incluindo o papel de Deus e do Diabo na vida humana. No filme, todos os aspectos da religiosidade são questionados, porém nunca é dada nenhuma resposta sobre sua veracidade. Nem Deus nem o Diabo se manifestam para o cavaleiro ou durante todo o filme, porém homens aparecem pregando, teatralizando e punindo em nome do sagrado. O personagem que sempre aparece para falar em nome de Deus é o homem que roubava joias dos Mortos e que encabeça a procissão de flagelados, também foi aquele que convenceu o cavaleiro a partir para a cruzada, dez anos antes. Dessa forma, vemos como o sagrado é mudo neste filme; tanto Deus como o Diabo apenas existem na voz dos charlatães, em nome de uma igreja decadente - porque não consegue explicar a peste - e como formas de opressão.

O Sétimo Selo e o Dom Quixote chamado Juiz Sergio Moro

Remetendo ao Juiz Sergio Moro (Dom Quixote), temos o cavaleiro e seus escudeiros que chamaremos Grupo dos Nove Procuradores do Ministério Público Federal (Sancho's Pança's)* como contrapontos da forma de encarar o mundo. Assim como na Constituição Federal, o pragmatismo crítico dos escudeiros revela um conhecimento do mundo distante dos questionamentos e indagações do cavaleiro sobre a Morte (Corrupção) e o sagrado. Com uma visão ácida, porém justa, os escudeiros não procuram respostas, já as possuí pela experiência de vida, portanto não tem medo de enfrentar a própria Morte (Corrupção). Assim como Grupo dos Nove Procuradores do Ministério Público Federal (Sancho's Pança's) sabem transitar como no filme entre o mundo da taverna, das brigas, da Morte (Corrupção), nesta analogia de Supremo Federal, Senado Federal e Câmara dos Deputados do Brasil etc., e o mundo quase sublimado e filosófico em que está o cavaleiro.

*Deltan Dallagnol, Antonio Carlos Welter, Henrique Pozzobon, Carlos Fernando dos Santos Lima, Orlando Martello Júnior, Antonio Carlos Welter, Athayde Ribeiro Costa, Paulo Roberto Galvão e Januário Paludo.

Apesar do filme retratar o tempo inteiro uma humanidade desesperada e moribunda, sob o agouro implacável da Morte, Bergman apresenta-nos um final onde é possível ter esperanças. A família de artistas ou “ família de brasileiros” são os únicos personagens que sobrevivem à “caçada” da Morte (Corrupção). A arte aqui tratada é aquela do malabarista ingênuo, puro; não a “arte” do homem que se proclamava o diretor da companhia, nem a encenação da procissão de flagelados, mas apenas aquela da família que vive pela arte e para levá-la para as pessoas. Somente esses artistas conseguem escapar da Morte (Corrupção), ajudados pelo cavaleiro, que a distrai para que estes fujam. O sentido da continuidade da humanidade aparece claramente dado pela salvação através da arte; todos os demais personagens que representam outras categorias sociais perecem ou estão condenados. Ao final de uma tormentosa tempestade, no momento seguinte ao da visita da Morte (Corrupção) ao cavaleiro, a família de artistas ou “família de brasileiros” e aos companheiros, o sol surge brilhante, abrindo um caminho de esperança no horizonte por onde a família de artistas ou brasileiros vai seguir.


Antonius Block é o exemplo ímpar deste homem questionador. Bergman gênio!


Esperando que Sergio Moro não seja o protagonista da obra como Dom Quixote, um pequeno fidalgo castelhano que perdeu a razão por muita leitura de romances de cavalaria e pretende imitar seus heróis preferidos. O romance narra as suas aventuras em companhia de Sancho Pança, seu fiel amigo e companheiro, que tem uma visão mais realista. A ação gira em torno das três incursões da dupla por terras de La Mancha, de Aragão e da Catalunha. Nessas incursões, ele se envolve em uma série de aventuras, mas suas fantasias são sempre desmentidas pela dura realidade. O efeito é altamente humorístico. O encanto da obra nasce do descompasso entre o idealismo do protagonista e a realidade na qual ele atua. Cem anos antes, Quixote teria sido um herói a mais nas crônicas ou romances de cavalaria, mas ele havia se enganado de século. Sua loucura residia no anacronismo. Isso permitiu ao autor fazer uma sátira de sua época, usando a figura de um cavaleiro medieval em plena Idade Moderna para retratar uma Espanha que, após um século de glórias, começava a duvidar de si mesma.

Sétimo Selo é um filme maravilhoso... Obra prima em todos os sentidos... Ler Cervantes é um primor da literatura através de Dom Quixote... Acima de tudo observar o Brasil e os novos caminhos que estão nos apresentando por uma nova geração de pessoas em busca de uns pais pelo seu Estado de direito, no qual cada um é submetido ao respeito do direito, do simples indivíduo até a potência pública. O estado de direito é assim ligado ao respeito da hierarquia das normas, da separação dos poderes e dos direitos fundamentais. Em outras palavras, o estado de direito é aquele no qual os mandatários políticos (na democracia: os eleitos) são submissos às leis promulgadas. Para que nossos sonhos não se transformem em Moinhos de Ventos.


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