Publicado por Pedro Henrique Alves.
“Aqui será um lugar onde você ira ler opiniões conservadoras. Sim, conservadoras, porém, incrivelmente novas. Pois o conservadorismo não é um armário que cheira a bolor, mas sim uma janela que mostra o mundo tal como é, com suas belezas e aporias, com seu frescor humano e seu inquietante desumanismo. Não escontrará aqui maquiagens da realidade nem opiniões prostituídas com ideologias. Aqui é um espaço de terra firme em meio a utopias disformes.”
O aborto, seja em qual situação for, é uma porta que depois de aberta dificilmente será fechada. Comece decidindo que um anencéfalo não deve nascer e termine determinando que um judeu não merece viver!
O aborto tornou-se um assunto de disputas acaloradas entre “prós” e contras. E, se tiverem o cuidado de lerem meus artigos anteriores, perceberão que sou conservador e cristão, logo, totalmente contra a qualquer tipo de aborto em qualquer situação que possa se pôr. Com isto já adianto minha posição e caso queiram desistir de ler o artigo, fiquem à vontade. Todavia, meu alerta aqui atravessa a mera casca dos achismos e das opiniões inflamadas e irrefletidas dadas pelo fanatismo religioso ou ideológico. Gostaria de, com toda seriedade e caridade, expor um fato que todos estão ignorando no debate sobre o aborto de anéncéfalos e microcéfalos, seja por inocência ou por apego ideológico. Para isto, sigam-me nas exposições a seguir.
Estamos em uma época de casos crescentes de anencefalia (má formação no tubo neural) e/ou microcefalia (crânio e cérebro relativamente menores que os dos parâmetros normais); com toda certeza estes casos reacendem o debate: até onde uma vida deve ser levada e a partir de que momento podemos considerar um feto uma vida. Neste meio tempo de debates assistimos o STF decidir pela permissão legal do aborto em caso de anencefalia, agora discute-se se esta decisão deveria incluir também os casos de microcefalia. Não obstante, em todos os trâmites jurídicos e acalorados embates sobre este tema, o discurso dos que defendem o aborto nestes casos específicos possui uma aporia que torna esta defesa simplesmente assustadora, se analisarmos pela lupa do bom senso histórico e não somente pelos pedantes apelos emocionais de ambos os lados.
Quando o tribunal do STF decide o que é ou não uma vida, ele ultrapassa sua competência determinada, pior se torna quando, mesmo reconhecendo haver uma vida, ele autoriza a morte desta mesma em troca de uma pseudo-liberdade da mãe sobre um corpo que não é o dela, já que do feto não é um prolongamento de seu corpo e muito menos o próprio corpo da mãe, o feto é dependente, todavia, diferente do corpo de sua progenitora.
Este tribunal, fazendo o que foi dito acima, está colocando-se acima da vida humana, legislando como sendo um ser supremo que autoriza ou não a vida e a morte de outrem. Quando tratamos de deficiências — como anencefalia e microcefalia — chegamos a um grau ainda mais profundo de espanto, onde os tribunais legais agem como "purificadores sociais", eles julgam aqueles que terão menos ou mais chances de viver como se possuíssem um termômetro vital. Não foi raro assistirmos um verdadeiro palacete de argumentos que variavam entre: os sofrimentos das mães, até os gastos estatais “inúteis com vidas que não hão de durar”. Sem perceber — ou mesmo percebendo — estão eles a usar dos mesmos argumentos eugenistas contemplados no século passado pelos nazistas e fascistas; aqui jaz o ponto central do meu texto. Estamos a criar uma espécie de eugenia a brasileira.
A mesma eugenia largamente condenada após o fim da segunda grande guerra está de volta envolta em discursos emocionais revolucionários. Estamos escolhendo, via jurisdições, quem são dignos ou não de nascer, decidindo se eles atrapalharão os demais cidadãos com seus déficits físicos ou mentais, se gastarão recursos estatais em vão, se causarão transtornos psicológicos aos seus pais, ou se simplesmente poderão, “perigosamente”, procriar deixando um rastro de deficiência via hereditariedade. Ou seja, estamos cuidando de fetos humanos que possuem alguma limitação como se fossem insetos ou animais peçonhentos. Estamos eliminando-os para não obter gastos ou preocupações futuras indevidas? É sério que chegamos a este ponto de insanidade moral? Os que são a favor do aborto nestes casos — de deficiência cerebral — poderão até advogar que não são esses seus argumentos, mas não poderão negar que são estas a suas “práxis” (práticas).
Este texto não quer entrar no âmago do debate do aborto no sentindo mais amplo do tema, pretendo fazer isto em breve em outro texto mais abrangente, levando em conta ambos as argumentações e meu ponto de vista, entretanto, o que saliento aqui é que: estão usando de táticas eugenistas de limpeza social para defender o aborto no Brasil. Na Alemanha nazista, por exemplo, defendia-se a castração e esterilização de deficientes e até mesmo de gays; em outros lugares, como na Finlândia, ocorreram abortos em massa em busca de uma sociedade de pessoas “sãs”. Percebamos o caminho que estamos tomando, os argumentos que estamos utilizando e, por fim, aquilo que conseguiremos com os rumos destas ideias. O que, na minha opinião, findará numa sociedade com as mãos sujas de sangue inocente.
Na sede de legalizar o aborto estamos usando de táticas nojentas e até mesmo nazistas; se hoje posso decidir que um deficiente cerebral não é digno de nascer, o que será para gerações futuras decidirem isto sobre os que possuem demais deficiências físicas? Quem poderá impedir que as jurisdições futuras impeçam as gestações de moças pobres? (Aliás, esta é uma das argumentações mais recorrentes dos “pró-aborto”). Quem sabe no futuro o claudicar dos passos de um homem defeituoso não seja sua sentença de morte? Estamos vivendo sob um governo eugenistas que acredita ser menos deficientes do que aqueles que nascem sem cérebro. No entanto, a única diferença constatável é que os anencéfalos não usam os seus cérebros por uma deficiência físico-estrutural, enquanto nossos juízes e defensores do aborto não os usam por uma deficiência moral!
Querem liberar o aborto de anencéfalos e microcéfalos, assim o faça, mas faça consciente de que, quem o aplaudirá será uma plateia lotada de tiranos nazistas, fascistas e comunistas de todos os tipos e épocas. No fim, quando somente os “dignos” tiverem a honra de nascer, teremos uma sociedade de cérebros intactos e de uma moral pútrida; uma sociedade de aristocratas do nascimento: aqueles que, depois de nascidos, adquiriram o monopólio das vidas que poderão ou não nascer também. Decisão baseada tão somente em seus caprichos ideológicos. São estes seres amorais que criaram o holocausto dos não-nascidos; colocando fetos em câmaras mortíferas onde os gases que os matarão são os argumentos piedosos e os decretos justos de nossos doutos juízes eugenistas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário