segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

ARQUITETO, VIAJAR É PRECISO!

Arquitetura


Publicado por Valéria Piassi
Nascida no interior do Paraná, cursou arquitetura e urbanismo na Universidade Estadual de Londrina. Viciada em cinema, livros, músicas e palavras cruzadas. Gosta de viajar, observar o mar e de conversas sinceras. Sonha com um mundo melhor e acredita que a arquitetura pode melhorar a vida do homem.



Viajar nos faz conhecer o novo, estudar a arquitetura e suas diferenças em cada região. O novo nem sempre é o melhor, mas sempre tem algo a ensinar a aqueles que observam. Vai além dos edifícios individuais, a aprendizagem acontece pela forma como os edifícios estão dispostos, pela forma como a paisagem urbana acontece, pelas diferenças climáticas e tudo o que isso acarreta na organização da cidade.




Na faculdade de arquitetura e urbanismo é comum que os professores levem as turmas para viagens em diversas regiões do país, ou até fora dele. Logo que entrei na graduação meus professores apresentaram para a minha turma um plano de viagem de estudos, um roteiro voltado para edifícios de importância nacional que passava por Minas Gerais, Brasília e Rio de Janeiro. Na ocasião não pude participar, por isso, enquanto toda minha turma deixava a sala de aula por alguns dias e embarcava empolgada em um ônibus eu permaneci em casa com uma tarefa simples, estudar (através de um livro) todos os edifícios que meus colegas estavam conhecendo de perto. Gastei muito tempo lendo textos descritivos e analisando imagens de edifícios, fazer a resenha dos textos não era um trabalho tão difícil, mas sentir os ambientes era uma missão muito complicada. Na volta, enquanto todos meus colegas contavam empolgados sobre tudo que conheceram por lá e apresentavam seus croquis de estudos, eu fui tomada por uma vontade imensa de tê-los acompanhado. E aprendi uma das primeiras lições da graduação, arquitetos precisam saber viajar.

Viajar possui uma relação imensa com a arquitetura e todas as formas de enxerga-la, de certa forma tudo o que é novo passa a ser professor para nós. Conhecer uma cidade é conhecer uma paisagem nova, uma cultura distinta e outra estrutura de cidade. Esta sensação é a responsável por causar o bem ou o mal estar no visitante. O novo nem sempre é o melhor, mas sempre tem algo a ensinar a aqueles que observam. Vai além dos edifícios individuais, a aprendizagem acontece pela forma como os edifícios estão dispostos, pela forma como a paisagem urbana acontece, pelas diferenças climáticas e tudo o que isso acarreta na organização da cidade.

O simples trajeto aeroporto-hotel é suficiente para notar as particularidades de uma cidade. Se você já esteve em São Paulo e no Rio de Janeiro sabe do que estou falando. Essas duas cidades possuem cores e formas distintas, das tipologias dos edifícios à presença de vegetação no meio urbano, as diferenças são facilmente percebíveis. Não cabe aqui uma reflexão sobre todas essas diferenças e particularidades, basta perceber que existem e merecem atenção.

Montagem unindo elementos da paisagem de São Paulo e Rio de Janeiro - Fonte: http://blogdojuca.uol.com.br/

Grandes nomes da arquitetura nacional se escondem por cidades do país, e não estão apenas pelas capitais. A arquitetura exige viagens de estudo, exige olhares críticos e faz-se presente em todo lugar. E se um edifício não causa grande prazer aos olhos, ao menos ele pode alavancar diversas discussões em nós. Novamente sobre o Rio de Janeiro, talvez a composição mesclada entre luxuosos prédios e morros preenchidos por pequenas moradias cause espanto a primeira vista. Pode não ser uma paisagem considerada bonita por todos, mas a mim é impossível encarar a cena sem ao menos refletir um pouco.

Talvez seja esse um dos papeis mais esquecidos da arquitetura, fazer refletir. Ela é mais presente em nossa vida do que muitas vezes percebemos, mas viajar nos faz notar os detalhes, nos faz pensar de forma nova e assim aprender. Como diz o filosofo Allain de Botton em seu livro Arquitetura da Felicidade, a arquitetura possui um poder de transformar (mesmo que em detalhes) o homem, e assim o homem modificado pode aprimorar a arquitetura.

Não é possível mensurar o quanto de bagagem cultural e técnica uma viagem vai te proporcionar, mas posso afirmar que ver imagens de um prédio, analisa-lo e até mesmo ler o que os melhores críticos de arquitetura escreveram sobre ele, não se compara com a chance de poder tocar, entrar e sentir o espaço do mesmo. Do mais antigo e clássico ao mais inovador edifício, arquitetura se entende sentindo, percorrendo e tocando.


© obvious: http://obviousmag.org/arquitetura_para_todos/2016/arquitetoviajar-e-preciso.html#ixzz4039VocIK 
Follow us: @obvious on Twitter | obviousmagazine on Facebook

Nenhum comentário:

Postar um comentário