segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

COMO UM CIENTISTA DE HITLER AJUDOU A LEVAR OS ESTADOS UNIDOS À LUA

Ciência/tecnologia

(Wernher Von Braun)


Richard HollinghamDa BBC

Wernher Von Braun ajudou a projetar famosos mísseis usados pelo nazismo





Em 9 de março de 1955, 42 milhões de americanos – cerca de um quarto da população dos Estados Unidos na época – ligaram a TV para assistir a uma série produzida por Walt Disney.

Ela não tinha camundongos animados, princesas em perigo ou cervos órfãos. Man in Space tinha como apresentador um homem boa-pinta e carismático. Um jovem engenheiro aeronáutico que expunha sua visão para o futuro da exploração espacial.

Cercado por lindos modelos de espaçonaves e obras de arte futuristas, Wernher Von Braun conversava com os telespectadores e avisava que, em 10 anos, seus planos para um foguete carregando passageiros seriam viáveis. O programa incluía animações dramáticas e uma trilha sonora instrumental cheia de suspense, bem como modelos de como seriam os trajes espaciais.

Opiniões divididas

Pouca gente sabia que, 10 anos antes, Von Braun estava no comando do programa de mísseis de longo alcance de Adolf Hitler na Segunda Guerra Mundial. Foi sob sua supervisão que os nazistas produziram os temíveis V2, construídos com trabalho escravo em campos de concentração e usado contra populações civis da Europa.
Uma vida bem diferente para quem agora virava o garoto-propaganda do programa espacial americano e uma celebridade nacional - Von Braun fez parte de um grupo de 1.500 cientistas, engenheiros e técnicos alemães que recebeu refúgio nos EUA após o conflito.

O alemão comandou o programa aeroespacial de Hitler

Mas as opiniões sobre o engenheiro aeroespacial alemão são ainda mais divididas nos dias de hoje do que nos anos 50. Alguns historiadores descrevem-no como um oportunista amoral – e que, ironicamente, teria se aproveitado do desejo de Hitler por uma arma futurista para alimentar suas próprias ambições em relação à exploração espacial.

Para outros, Von Braun é um herói, um visionário que ajudou os americanos a vencerem a corrida para a Lua e apresentou aos americanos o mapa para as estrelas. O fato é que, passados 60 anos de Man In Space, as pessoas ainda falam no Paradigma de Von Braun. Em termos simplificados, trata-se dos passos que o alemão estabeleceu como necessários para que o homem fosse ao espaço, construísse ônibus e estações espaciais, e que sonhasse com a Lua e Marte.

 “Ele tentou apresentar a arquitetura para tornar as viagens possíveis”, explica Michael Neufeld, curador-sênior do Museu Aeroespacial Smithsonian, em Washington, e autor de nada menos que três livros sobre Von Braun. “Ele era obcecado com a Lua. Era sua ambição desde criança”.

Von Braun traçou planos para a chegada do homem à Lua

Os planos de Von Braun foram extremamente influentes no momento em que o sonho espacial americano virou sério e foi anunciado com toda pompa pelo então presidente John Fitzgerald Kennedy, em 1962. Mesmo que os designs de Von Braun não tenham sido levados ao pé da letra. “Para muitos engenheiros da Nasa (a agência especial americana), as ideias dele eram o programa lógico para a corrida espacial”, acrescenta Neufeld.

Lua

Durante a década de 60, o alemão coordenou o desenvolvimento do gigantesco foguete Saturno V, que levaria o homem à Lua. Von Braun morreu de câncer em 1977, aos 65 anos, e não viu o primeiro voo da Columbia, o ônibus espacial inspirado em suas ideias. Mas elas continuam inspirando a corrida espacial.

No momento, a Nasa está às voltas com o projeto SLS, nome provisório dado ao foguete que promete ser o primeiro desde o Saturno V capaz de levar o homem para além da órbita da Terra e, potencialmente, à Lua e a Marte. O Paradigma de Von Braun parece estar mais vivo do que nunca.

O ônibus espacial evoluiu a partir das ideias do alemão

As circunstâncias, porém, mudaram. Diferente dos tempos em que o alemão andava pelos corredores da Nasa, em plena Guerra Fria, a exploração espacial do futuro parece fadada a ser multinacional em vez de uma corrida.

Americanos, russos, europeus – quem sabe, até indianos e chineses – participarão do próximo capítulo. Essa visão conjunta parece ser bem mais sólida para o futuro. Von Braun certamente estaria feliz em saber que sua visão ainda tem importância no século 21, mas talvez bem mais feliz por saber que o homem voltou a se interessar em ir para Marte.

Mas talvez fosse o primeiro a defender um orçamento mais generoso para as empreitadas. Mesmo em tempos de custos ainda mais proibitivos para governos.


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