Publicado por Rita Palma Nascimento
Aos 26 anos, Rita tem na escrita a sua alma e verdadeira paixão. Acredita que as palavras são um excelente veículo para fazer chegar as suas mensagens e visões do quotidiano e do Mundo.
Autora do livro 'Quero Escrever-te' editado pela Artelogy, conta também com duas participações (2014 e 2015) na Antologia da Poesia Contemporânea - Entre o Sono e o Sonho - anualmente publicada pela Chiado Editora.
É preciso respirar.
Isso respirar, aquele ato involuntário e livre de inspirar e expirar.
Respirar e pensar fora da caixa.
Sim é verdade, já faz tempo que o desafogo se foi, dando lugar a uma atmosfera pesada. No ar abunda o pessimismo, a revolta e as interrogações, que obrigaram a que respirar deixasse de ser o tal ato livre e involuntário e passasse a ser um ato apenas necessário e ponderado. Aliado a esse facto, é agora de notar um certo cuidado em não inalar mais partículas negativas do que aquelas que a mente e o corpo são capazes de suportar, sob pena de não serem devidamente excretadas e a pessoa possa vir a desenvolver um negativismo crónico. - É assim que levamos os dias, acautelados.
Os locais de culto também se alteraram, sendo que alguns dos ambientes outrora frequentados deixaram de o ser, tudo em prol de uma menor inalação de substâncias nefastas. E não estou a falar de ambientes onde abundam fumadores compulsivos nem em ambientes noturnos, onde o país se refugiava e mais tarde afogava entre copos de preocupações e incertezas. Estou a falar de mentes. Sim dessas mesmas, das mentes contaminadas com pensamentos derrotistas, negativos e sem esperança, ondem abundam ideias depressivas e uma carência vitamínica de esperança. Mentes muitas vezes retrógradas que teimam em viver tempos que já não voltam e são incapazes de se moldar aos tempos que correm, tal é a falta de flexibilidade e a rigidez adquirida. Chego a desconfiar que a austeridade conseguiu livre passe para a entrada em algumas delas, analisado o impedimento de ver mais além e de deixar nascer e crescer novas ideias e alternativas. Ao invés, o combustível de que se alimentam é gasto em pensamentos nefastos, fechados e em revoltas. Certo é que é gasto na mesma, só que inutilmente. - Faz-me lembrar o dinheiro do país.
E isto é perigoso e é preciso cuidado. Mais grave é ainda o bloqueio imposto por estes cérebros à aceitação de novas ideias por parte de quem as sabe criar e desenvolver, de quem alimenta essa capacidade d’ouro – qual encerramento de fronteiras a refugiados sírios, isto é um bloqueio e um encerramento às fronteiras da sua própria existência e sobrevivência.
A verdade é que o país está velho, e os jovens pouco ou nada conseguem fazer quando o tema é Mudança. São-lhes colocadas mordaças e algemam-se-lhes as mãos para que não possam fazer o pino, porque os pés, esses, estão mais do que atados. São fortemente desacreditados pelos “Velhos do Restelo” que não acompanham a evolução das novas gerações, de um país, de uma Europa e de uma parte do Mundo.
Portugal está velho, até a forma de ensinar está velha e aquilo que se ensina também - embora os que ensinem não o sejam - as ideias e ideologias são velhas e é preciso respirar, é preciso inovar e é preciso acompanhar a velocidade a que as mentes dos mais novos avançam. A sede do novo conhecimento não se mata com a água já salobra de há 20 anos atrás, até porque os interesses também já não são os mesmos, nem a sua dinâmica.
Ensinar história sim, mas, sobretudo é importante explicar e debater o agora, o atual, a democracia, os partidos políticos e as sua ideologias, o que cada um defende e quais os caminhos pelos quais se regem. É crucial formar cidadãos capazes de decidir e pensar por si próprios, com mentes autónomas e capazes de levarem a cabo as mudanças necessárias. Em Portugal até a forma de pensar é velha, as lentes com que se olha para a frente precisam de ser renovadas, a forma de governar ganhou rugas porque os rostos são sempre os mesmos desde o tempo dos nossos avós. É tempo de começar a dar crédito a novas vozes que se fazem ouvir dentro de cada partido, porque é de dentro que nasce a mudança.
Portugal respira. Não te quero mais em apneia.
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