quinta-feira, 3 de março de 2016

FALTA DE EDUCAÇÃO

Brasil


Publicado por William Felipe Zacarias
“Teólogo, assíduo leitor do grande e polêmico filósofo Friedrich Nietzsche. Filosofia é meu hobby, meu esporte. Gosto de refletir levando outros a pensar e repensar sua vida e suas ideias.”

Brasil fica em 60º em ranking mundial da educação.


O Brasil ficou na 60ª posição em educação em um ranking que avaliou 72 países. A má qualidade no ensino público não prejudica apenas o futuro da nação, mas demonstra sinais claros de prejuízo já no presente. Um deles é a de que a educação vem pela lei, um dogma tipicamente brasileiro. Este texto ira apontar para uma das consequências práticas da falta de educação no Brasil.





Para os brasileiros a educação não é prioridade. Quando é, é exceção. Os brasileiros não são educados para terem conhecimentos e desenvolverem ideias ou filosofias, mas são educados para o trabalho visando o melhor salário possível. A maioria dos brasileiros enxerga a escola como um mal necessário e se contentam a saber ler ou a resolver as quatro operações fundamentais da matemática (quando sabem).

As raízes da atual conjuntura está diretamente ligada à colonização católica. Com isso não desejo menosprezar a cultura educacional católica diante da protestante, pois ambas são matrizes culturais distintas e que não precisam, necessariamente, serem excludentes uma à outra. Ambas devem ser respeitadas. Mas fato é que a igreja católica educava a elite.

Martinho Lutero (1483-1546) traduziu a Bíblia para o alemão. Contudo, isso pouco adiantou pelo fato de poucos alemães saberem ler e escrever. Além da tradução, foi necessária a criação de escolas de alfabetização das massas que tiveram um papel fundamental na moldagem dos países desenvolvidos, especialmente por causa do capitalismo subsequente ao protestantismo. A modernidade foi gerada da educação protestante. O sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) percebeu que a prosperidade das nações do norte da Europa estava estreitamente ligada à “ética protestante.” Este antagonismo entre norte e sul do globo terrestre infelizmente permanece até os dias atuais, embora os países do hemisfério norte estejam sofrendo uma dura secularização do protestantismo que se aproveita dos benefícios da ética protestante (educação, cultura, trabalho) desconsiderando suas raízes cristãs.

No Brasil a educação não é prioridade. Ela não vem da escola ou do lar, mas pela lei e não a lei pela educação. No dia 22 de Janeiro de 2016 a prefeitura de Manaus/AM sancionou a lei Nº 2094 que torna preferencial todos os bancos dos transportes coletivos do município. O decreto afirma que “esta Lei é de caráter educacional.” Ou seja, criou-se uma lei que obriga a população a ser educada enquanto a própria educação, respeito e bom senso deveriam ser mais que o suficiente para que o cidadão se levante e conceda seu lugar a quem precisa. Isso não significa apenas a ausência da educação escolar, mas também a falta de uma sadia educação doméstica que ensine desde a infância os bons valores e não o “jeitinho brasileiro” que procura tirar vantagem em todas as situações.
Por conseguinte, a mesma falta de educação que não considera justo conceder lugar a quem dele precisa, gera, futuramente, a mesma falta de educação que rouba e subverte o dinheiro público que pagamos com impostos tão caros. Basta olhar para a “operação lava-jato.

A educação não é para o trabalho, não é para conquistar o dinheiro. “Lutero argumentou que o dinheiro investido em educação seria menor que o gasto com armas e traria mais benefícios.”. Sendo você cristão ou não, o que interessa secularmente nesta frase é que a educação não visa o bem e a satisfação do próprio ego com salários altos ou um bom cargo/ocupação, mas a própria instrução é um valor em si mesmo e que fortalece a nação. É assim que grandes nações como Alemanha, Suécia, Inglaterra e Estados Unidos se ergueram.

Enquanto o Brasil e o brasileiro desconsiderarem a importância da educação como meio se servir ao outro pelos conhecimentos adquiridos na vocação secular, a nação nunca obterá uma verdadeira qualidade de vida. É preciso dar valor àquilo que merece valor. Pais precisam ensinar aos filhos valores que moldem seu caráter e que serão levados por toda a vida. Lembrando a bem dita frase de Epicuro, “Caráter é aquilo que você é quando ninguém está olhando.” É interessante notar que este filósofo clássico não colocou o verbo “faz”, mas “é” indicando que aquilo que fazemos às escuras é resultado daquilo que somos e não o contrário. O ladrão não é ladrão porque rouba, mas rouba porque é ladrão, por exemplo.

A chave para o Brasil que todos queremos é dar valor aos verdadeiros valores, à educação, ao bem estar alheio e não somente próprio. O Brasil possui um amplo território e tem um grande potencial. Quem faz uma nação é o seu próprio povo. Quem pode fazer o Brasil que queremos são os próprios brasileiros. A educação não deve vir pela lei, mas pelo caráter. Se o brasileiro não mudar, o Brasil não muda. O Brasil e os brasileiros precisam ser repensados.

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