quinta-feira, 3 de março de 2016

O JUIZ E O RIO

Literatura: jornalismo

Colaboração de Luiz Eduardo Costa
O grande nome do jornalismo sergipano


O São Francisco na sua agônica transmigração para o porte dos inexpressivos cursos intermitentes sacrificados pela aridez, e por tantos outros agravantes, vem recebendo a solidária piedade dos que estão perto a acompanhar o seu calvário, e de tantos outros,  mesmo distantes, que  compreendem a importância de um  rio, o que significam as suas águas para a vida, para  o alento e a esperança dos homens, e das terras castigadas; para a sobrevivência do nosso planeta, esta ínfima morada cósmica, onde a inteligência com a qual nos diferenciamos  dos outros moradores, talvez não tenha sido ainda suficiente para nos fazer entender toda a dimensão das nossas fragilidades. Entre os defensores do rio, inclui-se agora o Juiz Federal em Propriá (Sergipe). Que outros, pelas margens do rio extenso, a ele se juntem.



O MAR AVANÇA E O VELHO CHICO ENCOLHE

Nas marés grandes de fevereiro, que antecederam as maiores que ocorrerão agora em março, nos municípios estuarinos de Brejo Grande e Ilha das Flores a DESO (Sergipe) precisou interromper o bombeamento de água durante o período da preamar, evitando-se, assim, que a água salgada entrasse pelas tubulações. Por isso, nas torneiras dos dois municípios não jorrou água salgada. Este mês as precauções aumentam com a previsão de marés mais altas.

 O oceano avança enquanto o rio encolhe, agora, com apenas 800 metros cúbicos por segundo de descarga na foz. Para um rio outrora portentoso, que despejava por segundo mais de 2 mil metros cúbicos de água no mar, a situação  é extremamente critica. Projetos de irrigação da CODEVASF, onde se cultiva basicamente o arroz, estão ameaçados pelo avanço da água salgada.

A tendência é de um progressivo avanço do mar rio a dentro,  e isso afetará  todo o baixo São Francisco,  região que já sofre os impactos das transformações ocorridas em consequência do sucessivo barramento  do curso do rio. O Velho Chico é agredido a partir da sua origem na Serra da Canastra, e segue durante todo o seu curso superior, depois, no médio e no baixo, sofrendo as consequências do descaso como vem sendo tratado ao longo dos séculos.

A recuperação do rio exigirá tempo e um elenco complexo de ações que vêm sendo proteladas, e há duvidas,  se,  mesmo que essas ações sejam rapidamente postas em prática possam  gerar os efeitos almejados.  Os técnicos que estudam o processo de degradação do Velho Chico convergem, agora, em direção à antiga e desprezada ideia da transposição das águas fartas da bacia do Tocantins, para que fortaleçam um outro rio   em agonia. Seria, admitem, a única solução capaz de impedir a progressiva morte anunciada do São Francisco. Trata-se de um projeto complexo que exigirá um investimento da ordem de mais de 15 bilhões de reais e demandará um consenso político dos 3 estados por onde corre o Tocantins,  e dos cinco estados banhados pelo São Francisco. Deverá haver, também, o apoio explicito daqueles outros estados nordestinos que ainda esperam receber um pouco que seja do minguante Velho Chico, através dos canais cujas obras se arrastam. Do debilitado curso d’água não se poderá exigir nenhuma doação, e isso incluiria, também, o tão anunciado e pouco crível Canal de Xingó, que beneficiaria o semiárido sergipano. O eficiente Ministro Gilberto Ochi esteve em Aracaju para assinar o contrato do projeto de engenharia. Trata-se de um primeiro passo, mas, sabe-se muito bem como são lentas essas obras federais. O governador Jackson Barreto festejou a iniciativa, a providência pela qual tanto tem lutado. O ideal seria que se iniciassem, agora, as ações políticas em defesa do projeto de transposição do Tocantins. Assim, seria possível que nos próximos 15 ou 20 anos as duas obras viessem a ser concluídas. 


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