Literatura
Publicado por Sílvia Marques.
Paulistana,
escritora, idealista em crise, bacharel em Cinema, cinéfila, professora
universitária com alma de aluna, doutora em Comunicação e Semiótica, autodidata
na vida, filósofa de botequim, com a alma tatuada de experiências trágicas,
amante das artes , da boa mesa, dos vinhos, de papos loucos e ideias
inusitadas.
As transformações
acontecem durante a “maratona” vivida no feriado de Ação de Graças. Muitos
filmes usam como metáfora uma viagem física para falar sobre nossas viagens
íntimas. Para falar sobre a busca de nós mesmos ou de algum sentido para a vida
dentro ou fora de nós. Personagens que viajam nunca são os mesmos ao
regressarem ao ponto de partida da narrativa.
Em perfume de mulher, dirigido por Martin
Brest e protagonizado por ninguém mais, ninguém menos que Al Pacino,
encontramos uma das cenas mais antológicas do cinema: o tango dançado pelo
protagonista com uma linda e tímida jovem que se depara com uma lição de vida
nos braços de um desconhecido.
Muito mais do que matar a vontade de dançar
tango, desejo negado por seu namorado, a personagem vivida por Gabrielle Anwar
entra em contato com um homem extremamente passional, que transforma os menores
detalhes cotidianos em algo surpreendente e fascinante. Se a história fosse
real, provavelmente a moça em questão jamais seria a mesma depois do tango, da
mesma forma que os espectadores jamais se esquecem deste momento belo e
poético, em que sentimos nitidamente a possibilidade de realizarmos sonhos,
mesmo que de forma fugaz.
Porém, o personagem de Al Pacino não é só
charme e improviso. Ele pode ser bem rabugento e amargo também. Cego por uma
negligência sua, desbocado e desiludido, carrega uma série de mágoas e
histórias mal resolvidas dentro de si. Tem uma relação péssima com a sua família
e perdeu a fé na vida. Decide gastar todas as suas economias em um feriado
suntuoso, regado a tango, champanhe, muito luxo , aventuras e prazer antes de
estourar os miolos.
Por mais trágico que pareça o seu plano, ele
faz bastante sentido no contexto do filme e da vida do Coronel reformado Frank
Slade, que perdeu a visão brincando com granadas, totalmente alcoolizado.
Um homem que passou por grandes experiências
e teve uma vida intensa está limitado a uma edícula nos fundos da casa de uma
sobrinha generosa, porém de nível cultural inferior ao seu. Durante o feriado
de Ação de graças, a sobrinha quer viajar com o marido e os filhos, mas o tio
não aceita acompanhá-los e ela teme deixá-lo sozinho. Contrata um jovem
estudante para tomar conta do tio.
O que deveria ser um sossegado feriado para o
garoto, transforma-se numa aventura angustiante e ao mesmo tempo a sua
salvação. Na realidade, um salva o outro de formas diferentes. O personagem de
Al Pacino faz as vezes do pai que o garoto perdeu para ajudá-lo na resolução de
um problema na escola, resposta generosa e ardente que oferece como gratidão
pelo garoto tê-lo feito recuperar a fé na vida.
As transformações acontecem durante a
“maratona” vivida no feriado de Ação de Graças. Muitos filmes usam como
metáfora uma viagem física para falar sobre nossas viagens íntimas. Para falar
sobre a busca de nós mesmos ou de algum sentido para a vida dentro ou fora de
nós. Personagens que viajam nunca são os mesmos ao regressarem ao ponto de
partida da narrativa.
O tema principal de Perfume de mulher é a
amizade e como ela pode operar transformações homéricas em nossa vida. Outro
tema abordado é a vontade e a necessidade de encontrar o amor.
O personagem de Al Pacino é um expert em
mulheres capaz de deduzir muitas características femininas pela fragrância do
perfume. Porém, o perfume de mulher que ele anseia realmente sentir é outro. Um
cheiro que só pode ser apreciado na intimidade de uma relação verdadeiramente
amorosa. Frank Slade afirma que dançar tango é muito mais simples do que viver
porque no tango, se erramos, podemos recomeçar. Na vida não. Será mesmo?
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