quarta-feira, 2 de março de 2016

PERFUME DE MULHER: VIVER É A MAIS FASCINANTE DAS DANÇAS

Literatura
  
  
Publicado por Sílvia Marques.
Paulistana, escritora, idealista em crise, bacharel em Cinema, cinéfila, professora universitária com alma de aluna, doutora em Comunicação e Semiótica, autodidata na vida, filósofa de botequim, com a alma tatuada de experiências trágicas, amante das artes , da boa mesa, dos vinhos, de papos loucos e ideias inusitadas. 


As transformações acontecem durante a “maratona” vivida no feriado de Ação de Graças. Muitos filmes usam como metáfora uma viagem física para falar sobre nossas viagens íntimas. Para falar sobre a busca de nós mesmos ou de algum sentido para a vida dentro ou fora de nós. Personagens que viajam nunca são os mesmos ao regressarem ao ponto de partida da narrativa.




Em perfume de mulher, dirigido por Martin Brest e protagonizado por ninguém mais, ninguém menos que Al Pacino, encontramos uma das cenas mais antológicas do cinema: o tango dançado pelo protagonista com uma linda e tímida jovem que se depara com uma lição de vida nos braços de um desconhecido.
Muito mais do que matar a vontade de dançar tango, desejo negado por seu namorado, a personagem vivida por Gabrielle Anwar entra em contato com um homem extremamente passional, que transforma os menores detalhes cotidianos em algo surpreendente e fascinante. Se a história fosse real, provavelmente a moça em questão jamais seria a mesma depois do tango, da mesma forma que os espectadores jamais se esquecem deste momento belo e poético, em que sentimos nitidamente a possibilidade de realizarmos sonhos, mesmo que de forma fugaz.

Porém, o personagem de Al Pacino não é só charme e improviso. Ele pode ser bem rabugento e amargo também. Cego por uma negligência sua, desbocado e desiludido, carrega uma série de mágoas e histórias mal resolvidas dentro de si. Tem uma relação péssima com a sua família e perdeu a fé na vida. Decide gastar todas as suas economias em um feriado suntuoso, regado a tango, champanhe, muito luxo , aventuras e prazer antes de estourar os miolos.

Por mais trágico que pareça o seu plano, ele faz bastante sentido no contexto do filme e da vida do Coronel reformado Frank Slade, que perdeu a visão brincando com granadas, totalmente alcoolizado.
Um homem que passou por grandes experiências e teve uma vida intensa está limitado a uma edícula nos fundos da casa de uma sobrinha generosa, porém de nível cultural inferior ao seu. Durante o feriado de Ação de graças, a sobrinha quer viajar com o marido e os filhos, mas o tio não aceita acompanhá-los e ela teme deixá-lo sozinho. Contrata um jovem estudante para tomar conta do tio.
O que deveria ser um sossegado feriado para o garoto, transforma-se numa aventura angustiante e ao mesmo tempo a sua salvação. Na realidade, um salva o outro de formas diferentes. O personagem de Al Pacino faz as vezes do pai que o garoto perdeu para ajudá-lo na resolução de um problema na escola, resposta generosa e ardente que oferece como gratidão pelo garoto tê-lo feito recuperar a fé na vida.

As transformações acontecem durante a “maratona” vivida no feriado de Ação de Graças. Muitos filmes usam como metáfora uma viagem física para falar sobre nossas viagens íntimas. Para falar sobre a busca de nós mesmos ou de algum sentido para a vida dentro ou fora de nós. Personagens que viajam nunca são os mesmos ao regressarem ao ponto de partida da narrativa.
O tema principal de Perfume de mulher é a amizade e como ela pode operar transformações homéricas em nossa vida. Outro tema abordado é a vontade e a necessidade de encontrar o amor.
O personagem de Al Pacino é um expert em mulheres capaz de deduzir muitas características femininas pela fragrância do perfume. Porém, o perfume de mulher que ele anseia realmente sentir é outro. Um cheiro que só pode ser apreciado na intimidade de uma relação verdadeiramente amorosa. Frank Slade afirma que dançar tango é muito mais simples do que viver porque no tango, se erramos, podemos recomeçar. Na vida não. Será mesmo?




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