Literatura: história infantil
Publicado por Adriana Vieira.
“Escrita
sem emoção e sem técnica cai no labirinto do esquecimento. Necessário emocionar
sem ser piegas e reinventar aquilo que já foi dito.”
Pinóquio é um romance
atemporal. A história de um pedaço de madeira que se transforma em boneco, nas
mãos de um carpinteiro, traduz o universo humano do homem, sempre em busca de
sua verdade interior. O livro vai além quando através do personagem, traduz a
importância da educação para que possamos nos inserir no mundo. O livro é um
clássico, pois há todos os elementos da narrativa, como a redenção do
personagem graças ao sofrimento e as aventuras que terá que passar. Uma jornada
de auto conhecimento.
De tempos em tempos há em mim uma necessidade
quase que urgente em reler alguns livros. Foi esse desejo que me fez reler a
história do boneco Pinóquio. Apesar de ser taxado como literatura infantil, há
em Pinóquio a metáfora do que significa a humanidade. Da madeira esculpe-se o
bonequinho que anda, chora, ri, dança, fala e mais do que isso- mente. O
clássico escrito por Carlo Collodi foi lançado em 1883. A história de “Como foi
que o mestre Cereja, carpinteiro, encontrou um pedaço de madeira que chorava e
ria como um menino", inicia como todos os contos de fada.
Era uma vez... -Um rei!-dirão imediatamente
os meus pequenos leitores. Não, meninos, vocês erraram. Era uma vez um pedaço
de madeira. Não era uma madeira de luxo, mas um simples pedaço de lenha, daqueles
que no inverno, colocamos na estufa ou na lareira para acender o fogo e aquecer
a casa.”(Primeiro capítulo)
(...) –Quero usá-la para fazer uma perna de
mesa. Dito e feito, pegou logo o machado afiado para tirar as lascas e esculpir
o pedaço de madeira, mas estava para dar o primeiro golpe, ficou com o braço
suspenso no ar porque ouviu uma vozinha bem fina que dizia suplicante: -Não me
bata com tanta força! Imaginem só como ficou o bom e velho mestre Cereja! Olhou
atônito por toda a oficina para ver de onde podia ter saído aquela vozinha e
não encontrou ninguém! Olhou embaixo do banco, e ninguém; olhou dentro de um
armário que estava sempre fechado, e ninguém; olhou na cesta de lascas e
serragem, e ninguém; abriu a porta da oficina para dar uma olhada na rua
também, e ninguém! Mas, então, quem poderia ter sido?
Ao iniciar o romance focando no era uma vez,
imagina o leitor que o narrador contaria uma estória de reis, mas é
surpreendido com o pedaço de madeira. Deu voz o escritor a um pedaço de
madeira, uma madeira que sente, uma madeira. Dessa madeira surgirá um ser, um
menino. Ao surpreender o leitor, Collodi, numa linguagem infantil, coloca uma
questão muito interessante : o carpinteiro tenta moldar a madeira . Ela se
ressente, ela chora porque dói. Nesse momento deixa de ser madeira e se
transforma em ser. O educador, está na figura do carpinteiro. As vezes somos
educados para agir dessa ou de outra maneira, manipulados como o pedaço de
madeira. Para viver em sociedade precisamos nos moldar. Nossa natureza às vezes
não obedece ao que nos propuseram a ser e a construir. Dói nascer. Muito mais
crescer...
A madeira se transforma em Pinóquio. Sem
saber o que fazer Mestre Cereja presenteia o amigo Gepeto no capítulo dois.
“Mestre Antônio, muito contente, foi pegar imediatamente pegar sobre o balcão
aquele pedaço de madeira que lhe causara tanto sustos. Mas quando foi
entregá-lo ao amigo, o pedaço de madeira deu um impulso e escapou violentamente
das suas mãos, indo bater com força nas grossas canelas do pobre Gepetto. ” No
momento surrealista a madeira humanizada rejeitada sofre pelo fato de ter sido
rejeitada pelo seu primeiro dono.
No capítulo três, para mim um dos mais
significativos, Gepeto constrói Pinóquio. Ensina Pinóquio a andar. Gepeto /o
pai –o criador . Como às vezes culpamos nossos pais por ter agido daquela forma
ou de outra. Quando Gepeto pega Pinóquio pelo cangote e os curiosos o julgam.
Igualzinho como somos julgados pelo olhar do outro. Quando somos mães ou pai
estamos sendo autoritários demais ou tentando educar? Pinóquio se joga no chão,
ganha com isso a comoção de todos, enquanto Gepetto é pré-julgado e enviado
para a prisão.
O romance inteiro é feito de lições, de
reflexões como da importância dos valores. Valores perdidos. Valores
resgatados.
Já no derradeiro capítulo, quando Pinóquio
deixa de ser marionete e vira um menino, há entremeada na bela passagem, o
sentimento de Solidariedade. O encontro com Atum na praia. A amizade dos dois.
Eles seguem famintos e fracos, até se depararem com uma cabana onde o dono era
o Grilo Falante , o mesmo que Pinóquio tinha tratado mal no inicio da historia.
Uma lição linda e esquecida quando o grilo tem piedade de Gepeto e de seu
filho, o Pinóquio – e diz com bastante propriedade, que- quando se pode “ se
deve demonstrar cortesia se queremos que nos retribuam da mesma forma nos
nossos dias de necessidade”.
A fada aparece e faz o discurso “ (...) os
meninos que cuidam amorosamente dos próprios pais na sua miséria e nas suas
enfermidades merecem sempre muito reconhecimento e muito afeto... Nesse
momento, “ o sonho acabou e Pinóquio acordou com os olhos arregalados” Pinóquio
se viu na figura de um menino. Procurou o Pinóquio, a marionete, e o observou.
Encontrou as quarenta moedas e o bilhete da fada dos cabelos azuis. No lugar
das quarenta moedas, havia quarenta moedas de ouro pelo fato de ter se
transformado em um bom menino. Um menino trabalhador e cônscio de sua
realidade. Ao se transformar, o menino transforma o ambiente, amado se sente
aceito e por fim incluído no mundo . No final, a pérola das pérolas, ser
marionete era ser engraçado- todo personagem sem muita bondade tem um tom
engraçado e os bons são contentes, mas não são engraçados. Realmente.
CONCLUSÃO
O livro inteiro é lindo, além dos princípios
que os bons contos de fada possuem, tem o romance a preocupação em tocar em
assuntos como a fome,a educação , e a transformação do homem. Sim, é possível
mudar, para isso haverá a necessidade da transformação, com pitadas de
generosidade e de trabalho. Como é trabalhoso e muitas vezes lento o processo
de mudança.
E aquele bonequinho que se chama Pinóquio
está no imaginário de todos nós. O nariz dele crescia quando mentia, e para
isso foi necessário sofrer, passar por aventuras, sentir-se cerceado em sua
liberdade para aprender. Quando ele sai do universo da oficina do pai Gepeto,
conhece as angústias do mundo e por si só recolhe-se ao conforto da companhia
do velho construtor. Sai liberto e por fim se transforma num menino de verdade.
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