Arte pictórica: museu
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Tintoretto
Tintoretto, como era conhecido Jacopo Robusti, (Veneza, ca. 1518 — 31 de maio de 1594) foi
um dos pintores mais radicais do maneirismo. Por sua energia fenomenal em pintar, foi
chamado Il Furioso, e sua dramática utilização da perspectiva e dos
efeitos da luz fez dele um dos precursores do Barroco. Seu pai, Battista Comin, eratintore (tingia
seda), o que lhe valeu o apelido.
Marte e Vênus surpreendidos por
Vulcano
Na infância, Jacopo, um pintor nato, começou a
decorar as paredes da tinturaria paterna. Vendo seu talento, seu pai levou-o à
oficina de Ticiano, na época com mais de cinquenta anos, para
aprender o ofício. Dizem que o mestre ficou pouco tempo com ele, por ter
percebido o talento e a independência do menino, o que faria dele um pintor,
mas não um bom aprendiz. Tintoretto estudou então por conta própria, observando
as obras dos grandes mestres. Mas continuou admirador, nunca um amigo de
Ticiano, e mais tarde adotou como lema em seu estúdio a frase O desenho
de Michelangelo e a cor de Ticiano.
As Musas
Ele estudou especialmente alguns modelos de
Michelangelo, e se tornou especialista em modelagem no método de cera e clay.
Seus modelos eram às vezes, corpos usados em aulas de anatomia.
Tintoretto começou ajudando o pintor Schiavone, seu
amigo, a decorar paredes. Na sequência conseguiu encomendas para seu próprio
trabalho. Seus dois primeiros trabalhos foram murais descritos como A
Festa de Balthasar e Carga de Cavalaria, sem maiores
notícias. Seu primeiro trabalho a ter repercussão foi um retrato dele e seu
irmão com um efeito noturno, como os anteriores também perdido. Uma das
pinturas iniciais ainda existentes está na igreja de Carmine, em Veneza, a Apresentação de Jesus no Templo. Em São Benedito estão A Anunciação e Cristo e a Mulher de Samaria. Para a Escola da Trindade (na verdade um
hospital e asilo em Veneza) ele pintou quatro passagens do Gênesis, duas delas, Adão e Eva e Morte de Abel,
atualmente na Academia Veneziana, mostram um trabalho nobre de alta maestria,
que não deixam dúvidas que Tintoretto nessa época já era um pintor consumado,
um dos poucos que conseguiram reconhecimento sem um aprendizado formal.
Maria
Magdalena
Durante o ano de 1546, Tintoretto pintou para a
igreja da Madona do Horto três de seus melhores trabalhos, A Confecção
do Calf Dourado, Apresentação da Virgem no Templo e Último
Julgamento (vergonhosamente repintada). Esta igreja em estilo gótico em
Fondamenta dei Mori, próxima a Murano, Veneza,
existe ainda. Em 1548, recebeu a encomenda de quatro quadros para a Escola
de São Marcos, Encontrando o Corpo de São Marcos
em Alexandria (atualmente em Murano), O corpo do Santo trazido
a Veneza e Votos do Santo (ambos em Veneza, na
biblioteca do palácio real). Finalmente O Milagre do Escravo,
celebrada obra que é uma das glórias da Academia Veneziana, representa a lenda
de um escravo cristão torturado em punição por devoção ao santo e salvo por um
milagre.
Estes quatro trabalhos foram recebidos com geral
aplauso. Seus tempos de obscuridade terminaram. Era notável o suficiente para
casar com Faustina de Vescovi, filha de um nobre veneziano. Ela foi uma boa
esposa, que aturava seu gênio intratável e lhe deu dois filhos e cinco filhas.
A próxima encomenda foi pintar as paredes e tetos
da Escola de São Marcos, obra de enorme esforço e auto aprendizado para
Tintoretto, que pode ainda ser vista como uma homenagem brilhante a seu próprio
gênio. O prédio foi iniciado em 1525 e era deficiente em iluminação. A pintura
começou em 1560, após vários pintores, incluindo Veronese terem sido consultados. Tintoretto assegurou
a obra doando um quadro, São Rocco recebido no Céu. Completou então
a primeira sala. Em 1565 reiniciou os trabalhos com Crucificação, A
Praga das Serpentes, Festividades da Páscoa e Moisés
quebrando as Tábuas.
Nascimento de João Batista
a escola adjacente à igreja de São Roque.
Descontando alguns detalhes menores, os edifícios contém sessenta e cinco
memoráveis pinturas, que podem ser descritas como cenas variadas e sugestivas,
com maestria e adaptadas para serem vistas a meia-luz. Adão e Eva, Visitação,Adoração
dos Magos, O Massacre dos inocentes, Agonia no Horto, Cristo
ante Pilatos, Cristo carregando a Cruz e Assunção
da Virgem são as melhores.
O milagre do escravo
Paralelamente Tintoretto começou vários afrescos no palácio ducal, Excomunhão de
Barbarrosa e Vitória de Lepanto, que foram destruídos no
grande incêndio de 1577, e um retrato do duque Girolamo e várias obras menores.
Entre as obras de Tintoretto, destaca-se “Paraíso”,
por apresentar uma enorme estrutura e a utilização das mais diversas técnicas
que lhe diferencia dos demais artistas da época.
Paraíso destaca um grande contraste de luz e
sombra, com a presença de grandes conflitos entre as cores fortes e vibrantes
presente na tela, como o vermelho, o branco, o vinho e o marrom, por
contrapartida, destaca-se os tons de claro escuro em constante presença na
obra. Pode-se afirmar a participação de uma entre as maiores características
expressadas no período barroco, a pintura ocasiona efeitos ilusionistas, pois
se tem a impressão de uma longa viagem ao céu.
A origem da Via Láctea
Violentas pinceladas também estão presentes na
obra, pois por consequência torna-se a impossível percepção da expressão de
cada indivíduo pertencente da tela. Entre as nuvens destacadas pela dinâmica
entre o branco e o cinza tem-se a percepção de anjos, deuses, homes, mulheres e
crianças no meio do caminho que levaria ao encontro de Jesus e Maria rodeado
pelos doze apóstolos.
Danae (1570)
Depois de completar o Paraíso, Jacopo
Robusti tomou uma vida mais descansada, não realizando mais nenhum trabalho
relevante, e passou um final de vida tranquilo. Morreu em 31 de maio de 1594 de
uma doença que começou como uma dor de estômago, seguida de febre. Foi
enterrado na igreja da madona do Horto, ao lado de sua filha Marietta, ela
mesma retratista e música, que trabalhou como assistente do pai vestida como um
menino. Em 1866 a tumba dos Vescovi e Robusti foi exumada e encontrados restos
de nove membros da família.
Além dos filhos, teve poucos pupilos, valendo ser
citado Martin de Vos. Existem influências de Tintoretto na obra do
contemporâneo Veronese e na do espanhol El Greco, que conheceu sua obra numa viagem a Veneza.
Tintoretto saiu pouco de Veneza. Ele amava todas as
artes, tocava vários instrumentos musicais, alguns de sua invenção, desenhou
roupas e adereços para o teatro, era versado em mecânica e era uma companhia
agradável. Dificilmente admitia algum amigo no local de trabalho e mantinha
suas ideias e modelos escondidas dos olhares, mesmo de seus assistentes. Usava,
por insistência da esposa, a roupa de um cidadão de Veneza.
Músicas
A obra de Tintoretto é desigual, às vezes pintava
muito rápido, com uma capacidade impressionante de trabalho. Seus
contemporâneos diziam que Tintoretto em algumas obras era igual a Ticiano, em
outras era pior que Tintoretto.
A comparação da Última Ceia de Tintoretto com a de Leonardo dá uma demonstração instrutiva sobre como o
estilo artístico moveu-se durante o Renascimento. Leonardo é todo clássico reponse. A disciplina se
irradia de Cristo em simetria matemática. Nas mãos de Tintoretto, o mesmo
evento é dramaticamente distorcido, enquanto as figuras humanas são elevadas
pela erupção do espírito humano. Pelo dinamismo de sua composição, seu uso
dramático da luz e seus efeitos de perspectiva, parece um artista barroco antes da hora.
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