Brasil: política
POR Josias de Souza
Um comentarista político respeitado
por suas opiniões sensatas
Quando
iniciou a temporada de sondagens para compor o ministério do seu hipotético
governo, Michel Temer balançava entre dois nomes para a pasta da Fazenda:
Armínio Fraga e Henrique Meirelles. O desinteresse de Armínio levou Temer, um
presidente da República esperando para acontecer, a concentrar-se em Henrique
Meirelles. Programou-se para encontrá-lo nesta sexta-feira (22) —dia em que,
ironicamente, estará no exercício da Presidência.
A
eventual conversão de Meirelles em ministro de Temer comporia um enredo crivado
de ironias. “O Lula não terá do que se queixar'', brinca um aliado de Temer.
Ex-presidente do Banco Central nos dois mandatos de Lula, Meirelles constava da
lista tríplice que o cacique do PT sugeriu como alternativas para a Fazenda no
segundo mandato de Dilma. Os outros dois nomes eram Luiz Carlos Trabuco,
presidente do Bradesco, e Nelson Barbosa, ex-secretário executivo do Ministério
da Fazenda.
Dilma
acomodou Nelson Barbosa no Ministério do Planejamento. E convidou Tracuco para
a Fazenda. Ele refugou. Mas sugeriu o nome de Joaquim Levy. Embora Levy tivesse
auxiliado o comitê eleitoral do tucano Aécio Neves, Dilma aquiesceu,
escanteando Meirelles, com quem jamais se deu bem. Nos subterrâneos, Lula virou
sócio-atleta do clube dos puxadores de tapete de Levy.
Puxa
daqui, puxa dali, Lula voltou a empinar a alternativa Meirelles. Chegou mesmo a
sondá-lo. Dilma levou o pé à porta. Pressionada, trocou Levy por Nelson
Barbosa, hoje um ministro-zumbi.
Na
sucessão presidencial de 2010, quando fabricou a candidatura de Dilma, Lula
tentou fazer de Meirelles o segundo da chapa. Estimulou-o a se filiar ao PMDB.
A articulação esbarrou em Temer, que queria ser, ele próprio, o candidato a
vice na chapa encabeçada por Dilma.
Cavalgando
um PMDB dividido, Temer unificou as alas da Câmara e do Senado, impondo-se a
Lula como solução incontornável. Preterido, Meirelles migrou para o PSD de
Gilberto Kassab.
Nesta
sexta, ao dividir com Temer a mesa de refeições, Meirelles talvez passe mal.
Deve descartar a hipótese de indigestão. Logo perceberá que é inveja. Se
tivesse emplacado na chapa de 2010, Meirelles agora talvez convidasse Temer
para ser seu ministro da Justiça.
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