quarta-feira, 25 de maio de 2016

A LÁGRIMA DE ROBERTO MARINHO



Literatura: Imprensa


(É) “estudante de jornalismo. Literatura e cinema. Escreve para matar o tempo. Escreve para engolir o ócio. Escreve para falar. Escreve para pensar. Na dúvida, escreve. Não sabe até onde irá escrever, mas, em vão ou não, continua.”


 
Roberto Marinho (1904 - 2003) foi o maior "político" brasileiro. Dono de umas das maiores emissoras do mundo, Roberto consegue ecoar pelos quatro cantos do país seu crivo ideológico, até os dias de hoje. Suas lágrimas, cínicas ou não, revelam a vitória do monopólio midiático do país.

Roberto foi vitorioso. Seu objetivo era claro: o monopólio da mídia.
2 de Outubro de 1995. Zona Oeste de Rio de Janeiro. Uma da tarde. Uma camada privilegiada de empresários da comunicação e artistas brasileiros estavam reunidos para celebrar. Os homens com ternos muito bem alinhados, as mulheres com longos vestidos de gala, apesar do calor corriqueiro da cidade carioca. Em um determinado momento da celebração, todos os convivas olham para a porta principal.
Dela, entrava o homem responsável pela gloriosa tarde. Um senhor de 91 anos caminhava com o olhar altivo, em direção ao palanque. O seu terno era o mais alinhado. Ao subir parece querer discursar. Não consegue. Treme, tem dificuldades, mas dá inicio ao seu discurso, com uma lágrima escorrendo pelo seu rosto. Roberto Marinho tinha aquela tarde como a conclusão da sua busca pelo monopólio da comunicação no Brasil. A data marcava a inauguração do Projac (Um terreno de mais de um milhão de metros quadrados) sonho de Roberto. Uma Disney das comunicações. A lágrima que escorria naquele 2 de Outubro é, por muitos a mais azeda da história das nossas comunicações, por outros, a mais doce.

Quando Marinho nasceu, em 1904, sua família já estava no patronato das comunicações. Seu pai, Irineu Marinho, já tinha fundado o jornal O Globo em meio a uma imprensa ainda semi amadora no país. Seu pai morreu, O Globo não, Roberto não. Iniciou muito jovem sua vida nas redações, desde sempre, muito conservador, o empresário estava lá, todos os dias, “cuidando” de seu jornal negócio.
A política sempre impregnou nos ares que Marinho tocava seus pés. Sempre foi um homem ambicioso, que, como todo membro de uma oligarquia, não queria abrir espaço para os subordinados. Roberto não queria outras famílias no comando da comunicação brasileira. Eram poucas, sempre foram, ainda são. Aprendeu com o governo getulista uma importante lição: Deve-se ficar do lado dos governos, da ordem vigente. Afinal, ele fazia parte dela. Sempre avesso às esquerdas e ao comunismo. Saudou o golpe de 1964 se apoiado na retórica macarthista, em um suposto avanço do comunismo do país. Hoje sabemos que um lado era bem mais poderoso que o outro. Marinho também percebeu, mas se calou.
Enquanto o país sangrava nas mãos militares, a fortuna da família Marinho multiplicava-se progressivamente. Suas empresas também. Veio a Rádio Globo, Tv Globo. De repente, em meados dos anos 80, a Globo chegava à 99% dos televisores do país. A emissora "roubou" o Brasil. As novelas, o Jornal Nacional, Fantástico, Xuxa, a emissora moldava toda uma nação. Do café da manhã até a hora de dormir.
Marinho não parou. Chegou em 2 de outubro de 1995 sendo o homem mais poderosos do pais. Todos os candidatos à cadeira presidencial que a família apoiou se elegeram, de um jeito ou de outro. Documentário sobre Roberto Marinho foi censurado (Além do Cidadão Kane). A desculpa pelo apoiou ao golpe veio somente 50 anos depois. Com Marinho já morto. É certo que as organizações Globo nasceram com uma imprensa ainda amadora no país, prosperou em meio de um governo ditatorial e se manteve desde então. Elevou o nível das comunicações brasileiras. As lágrimas daquela tarde ensolarada de 1995 podem até ser misturadas. Mas as azedas pesam mais para a nossa história do que as salgadas.


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