Literatura: Imprensa
Por Danilo Brandão
(É)
“estudante de jornalismo. Literatura e cinema. Escreve para matar o tempo.
Escreve para engolir o ócio. Escreve para falar. Escreve para pensar. Na
dúvida, escreve. Não sabe até onde irá escrever, mas, em vão ou não, continua.”
Roberto Marinho (1904 -
2003) foi o maior "político" brasileiro. Dono de umas das maiores
emissoras do mundo, Roberto consegue ecoar pelos quatro cantos do país seu
crivo ideológico, até os dias de hoje. Suas lágrimas, cínicas ou não, revelam a
vitória do monopólio midiático do país.
Roberto foi vitorioso. Seu
objetivo era claro: o monopólio da mídia.
2 de Outubro de 1995. Zona Oeste de Rio de
Janeiro. Uma da tarde. Uma camada privilegiada de empresários da comunicação e
artistas brasileiros estavam reunidos para celebrar. Os homens com ternos muito
bem alinhados, as mulheres com longos vestidos de gala, apesar do calor
corriqueiro da cidade carioca. Em um determinado momento da celebração, todos
os convivas olham para a porta principal.
Dela, entrava o homem responsável pela
gloriosa tarde. Um senhor de 91 anos caminhava com o olhar altivo, em direção
ao palanque. O seu terno era o mais alinhado. Ao subir parece querer discursar.
Não consegue. Treme, tem dificuldades, mas dá inicio ao seu discurso, com uma
lágrima escorrendo pelo seu rosto. Roberto Marinho tinha aquela tarde como a
conclusão da sua busca pelo monopólio da comunicação no Brasil. A data marcava
a inauguração do Projac (Um terreno de mais de um milhão de metros quadrados)
sonho de Roberto. Uma Disney das comunicações. A lágrima que escorria naquele 2
de Outubro é, por muitos a mais azeda da história das nossas comunicações, por
outros, a mais doce.
Quando Marinho nasceu, em 1904, sua família
já estava no patronato das comunicações. Seu pai, Irineu Marinho, já tinha
fundado o jornal O Globo em meio a uma imprensa ainda semi amadora no país. Seu
pai morreu, O Globo não, Roberto não. Iniciou muito jovem sua vida nas
redações, desde sempre, muito conservador, o empresário estava lá, todos os
dias, “cuidando” de seu jornal negócio.
A política sempre impregnou nos ares que
Marinho tocava seus pés. Sempre foi um homem ambicioso, que, como todo membro
de uma oligarquia, não queria abrir espaço para os subordinados. Roberto não
queria outras famílias no comando da comunicação brasileira. Eram poucas,
sempre foram, ainda são. Aprendeu com o governo getulista uma importante lição:
Deve-se ficar do lado dos governos, da ordem vigente. Afinal, ele fazia parte
dela. Sempre avesso às esquerdas e ao comunismo. Saudou o golpe de 1964 se
apoiado na retórica macarthista, em um suposto avanço do comunismo do país.
Hoje sabemos que um lado era bem mais poderoso que o outro. Marinho também
percebeu, mas se calou.
Enquanto o país sangrava nas mãos militares,
a fortuna da família Marinho multiplicava-se progressivamente. Suas empresas
também. Veio a Rádio Globo, Tv Globo. De repente, em meados dos anos 80, a
Globo chegava à 99% dos televisores do país. A emissora "roubou" o
Brasil. As novelas, o Jornal Nacional, Fantástico, Xuxa, a emissora moldava
toda uma nação. Do café da manhã até a hora de dormir.
Marinho não parou. Chegou em 2 de outubro de
1995 sendo o homem mais poderosos do pais. Todos os candidatos à cadeira
presidencial que a família apoiou se elegeram, de um jeito ou de outro.
Documentário sobre Roberto Marinho foi censurado (Além do Cidadão Kane). A
desculpa pelo apoiou ao golpe veio somente 50 anos depois. Com Marinho já
morto. É certo que as organizações Globo nasceram com uma imprensa ainda
amadora no país, prosperou em meio de um governo ditatorial e se manteve desde
então. Elevou o nível das comunicações brasileiras. As lágrimas daquela tarde
ensolarada de 1995 podem até ser misturadas. Mas as azedas pesam mais para a
nossa história do que as salgadas.
© obvious: http://obviousmag.org/fragmentos_publicos/2016/a-lagrima-de-roberto-marinho.html#ixzz49cHLbTpM
Follow us: @obvious on Twitter | obviousmagazine on Facebook
Nenhum comentário:
Postar um comentário