Mundo: economia/personalidade
Griffin, fundador e
presidente do fundo Citadel, recebeu 1,7 bilhão de dólares em 2015
Por DAVID FERNÁNDEZ
De Madri para El País – O jornal Global
Kenneth Griffin, presidente do fundo Citadel. DAVID MORRIS BLOOMBERG |
O negócio dos fundos de alto risco, ou fundos de hedge, é um mundo de excessos. Grandes operações
são seguidas por retumbantes fracassos, e vice-versa. Um dos maiores exemplos
deste ecossistema pendular é o Citadel, fundo criado e dirigido por Kenneth
Griffin. Em 2008, esteve à beira da quebra. A crise financeira fez com que em
apenas quatro meses sua carteira perdesse quase oito bilhões de dólares (28,6
bilhões de reais, pelo câmbio atual). Desesperadamente, Griffin proibiu os
investidores de retirarem seu dinheiro durante 10 meses. Uma medida audaz e
polêmica, que lhe permitiu ganhar tempo e evitar a extrema-unção. Oito anos
depois, o Citadel multiplicou os ativos sob sua gestão – são agora 26 bilhões
de dólares –, e Griffin é o profissional mais bem pago do mundo, com uma
remuneração de 1,7 bilhão de dólares (seis bilhões de reais) em 2015, segundo a
publicação especializada Institutional Investor’s Alpha.
“Não antecipei o colapso do sistema financeiro.
Simplesmente não vi o que estava para acontecer. Jamais poderia imaginar que os
bancos só sobreviveriam graças à injeção de capital público. Desde então,
precisei lutar contra a corrente. Levei três anos e 17 dias para recuperar os prejuízos
que sofri em apenas 16 semanas”, recorda ele numa entrevista ao The Wall Street Journal.
A história de Griffin (Daytona Beach, Flórida,
1968) mostra alguém com uma carreira precoce e uma mente privilegiada para
ganhar dinheiro. Sua relação com o mercado financeiro teve início aos 19 anos.
Estudava em Harvard e instalou no seu quarto uma antena parabólica para
acompanhar a Bolsa e investir em títulos conversíveis. Pouco a pouco, ganhou fama
no pregão e, ao concluir os estudos — e após rejeitar uma oferta de um
grande banco de investimentos —, optou por fundar sua própria firma. O Citadel
surgiu em 1990 com apenas quatro milhões de dólares em ativos e estabeleceu sua
sede em Chicago, cidade onde continua operando, apesar dos cantos de sereia que
tentam seduzi-lo a se transferir para Wall Street. O
fundo demorou pouco para conquistar um nicho no hipercompetitivo negócio dos
fundos de hedge, graças à sua aposta em papéis de empresas semifalidas,
conhecidos como distressed assets (ativos em
apuros).
Obsessão pelo talento
O homem mais rico do Estado de Illinois acredita
que a chave do sucesso do Citadel é a sua política de recursos humanos. No ano
passado, quando o fundo completou 25 anos — não poupou gastos e contratou
a estrela pop Katy Perry para
fazer um show, eBill Clinton para
dar uma palestra sobre liderança —, Griffin aproveitou a ocasião para enviar
uma carta aos seus clientes. “Durante os primeiros 10 anos entrevistei 5.000
candidatos em busca do melhor talento possível para assegurar nosso futuro”,
diz ele no texto. O rei do hedge tem
fama de ser um chefe exigente e ter um caráter vulcânico, e sempre que quer
conversar com um funcionário o leva para almoçar no McDonald’s.
Os postos de trabalho no Citadel — que tem
hoje 1.600 funcionários — continuam sendo disputados com furor. No ano
passado, a empresa abriu 300 vagas, às quais 10.000 pessoas se candidataram.
“Uma das grandes vantagens da minha carreira é que comecei a operar na Bolsa 24
horas por dia quanto tinha 20 anos, e precisei aprender a delegar e confiar em
outras pessoas. Aí percebi que a chave do sucesso é contratar profissionais
brilhantes, com paixão pelas finanças e capazes de tomar decisões dia sim e no
outro também”, disse Griffin à CNBC. Até Ben Bernanke, ex-presidente do Federal Reserve (banco
central) dos EUA, sucumbiu aos encantos (e ao talonário) do Citadel, onde foi
contratado como assessor.
O
primeiro trimestre de 2016 não começou bem para o fundo, com um prejuízo médio
de 6%. Entretanto, entre 2009 e 2015 o Citadel foi capaz de oferecer
rentabilidades superiores a 10% todos os anos. O Wellington, seu fundo estrela,
rendeu 15% em 2015, uma temporada bastante ruim para o setor, quando muitos
fundos de hedge tiveram fortes quedas. Diferentemente de outros fundos de alto
risco, que se especializam em uma determinada estratégia, o Citadel tem como
filosofia de investimento apostar em um amplo leque de ativos: ações, bônus,
crédito empresarial, matérias primas, divisas, estratégias macro... Além disso,
opera com um alto nível de alavancagem: a cada dólar que os clientes
disponibilizam, o fundo investe outros sete dólares emprestados, tentado assim
maximizar as lucros (embora também correndo o risco de multiplicar os
prejuízos).
Outras das chaves do sucesso do Citadel é sua
aposta em técnicas quantitativas de investimento. Griffin é um pioneiro na
contratação de matemáticos e na introdução de sofisticados algoritmos
informáticos para prever o comportamento dos mercados. Uma das suas últimas
investidas foi a contratação de um ex-funcionário da Amazon que
ensinou como o gigante da distribuição gere as chamadas que recebe. “Acredito
que as técnicas matemáticas que a Amazon usa para gerir as chamadas de forma
mais eficiente e melhorar a experiência dos seus clientes tenha uma aplicação
nos mercados financeiros”, diz ele.
Griffin participa de forma ativa na política.
Apesar de mais próximo do Partido Republicano — declarou publicamente seu
apoio ao senador Marco Rubio nas primárias —, também colabora em casos
concretos com os democratas. Assim, doou milhões de dólares a Bruce Rauner
(republicano) na disputa pelo Governo de Illinois, mas manifestou apoio a Rahm
Emanuel (democrata) como prefeito de Chicago. “Não posso me identificar
plenamente com determinado lado, já que nos EUA as distâncias entre os dois
grandes partidos são muito pequenas”, disse ele ao Wall Street Journal.
Tudo o que cerca Griffin, dono de uma fortuna
estimada pela Forbes em 7,3 bilhões de dólares (26 bilhões de reais), tem um
toque de ouro. Em 2014, ele doou 150 milhões a Harvard; em fevereiro deste
ano, pulverizou todos os recordes do mercado da arte ao comprar dois quadros, de Jackson
Pollock e Willem de Kooning, por 469 milhões de dólares; tem um tríplex
no midtown de Mannhatan avaliado em 200 milhões...
Entretanto, a cifra mais bem guardada é a do acordo de separação com sua
ex-mulher, Anne Dias, também gestora de fundos, com quem se casou em 2003, num
evento que incluiu uma festa no palácio de Versalhes e um show de Donna Summer.
O divórcio levou Griffin às capas da imprensa de celebridades, resultando na
exposição da sua roupa suja conjugal. Ele minimiza o divórcio, porque já
visitou o inferno de outra forma. “As 16 semanas que vivi em 2008 fazem com que
isto pareça um passeio no parque.”
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