segunda-feira, 30 de maio de 2016

MUSASHI - A LEVEZA DO SER



Literatura: livro (resenha)

“Reflexões, chatice, críticas, ironia, dicas e opinião.
Enfim, de tudo um pouco. Ter a escrita como uma forma de expressão e entretenimento. Afinal, por que estamos aqui senão para nos divertir?
Músico frustrado e administrador insatisfeito. Tenta correr atrás das coisas que fazem bem. Observa, reflete e escreve.”

Quando as andanças e aventuras de um samurai começam a descrever mais do que suas batalhas e artes marciais.
Musashi é um grande ídolo e sua história tem muito o que ensinar.






Nunca fui uma pessoa que gostou de ler livros muito grandes. Acho que por que tenho a tendência de ser um pouco imediatista, então sempre quis ler historias mais rápidas. No entanto, como um bom descendente nipônico, as histórias do Japão antigo sempre me encantaram. Decidi então tomar coragem e comprar o box de livros do Musashi, de Eiji Yoshikawa.
Musashi foi um grande samurai que viveu no Japão entre 1584 e 1645. Foi ele quem desenvolveu a técnica de luta com duas espadas e quem escreveu “O Livro dos Cinco Anéis”, onde trata sobre artes marciais e estratégia militar. Foi um grande espadachim, e dizem que enfrentou cerca de 60 duelos sem perder algum. A versão escrita por Yoshikawa conta parte da vida de Musashi imersa em uma adaptação romântica com a adição de alguns personagens fictícios. Embora tenha romantizado alguns elementos de sua história, a saga e os feitos de Musashi descritos no livro são reais.
Interessante! No entanto todas essas informações podemos encontrar na internet facilmente. O que torna a saga do mais famoso samurai do Japão uma referência, não somente no que toca as artes marciais, mas também sobre um olhar mais detalhado sobre o aperfeiçoamento da mente e do espirito?
Musashi nasceu como qualquer pessoa: cru e ignorante. Quando jovem era obcecado por lutar, mas era agressivo e arrogante. Como geralmente somos quando estamos na fase da puberdade. Ele só começou mudar seu caminho quando foi forçado a estudar diversos assuntos, como artes, literatura e estratégia. Já nesse momento, sua percepção sobre o mundo havia mudado. Não era mais o garoto agressivo e ignorante. Possuía um objetivo, uma razão para sua vida. A partir de então ele começou sua jornada para aperfeiçoar suas habilidades com a espada. Desafiou grandes mestres, seus discípulos e simpatizantes. Fez amigos, inimigos e seguidores. Aprendeu e ensinou muitas coisas. Pintou quadros, escreveu e fez cerâmica. Se apaixonou.
Contando dessa forma parece apenas mais uma história comum, sem muitas diferenças com a vida de outras pessoas daquela época. Mas posso dizer que existe muita reflexão acerca de sua história. Não pelos fatos que aconteceram em sua vida, mas pelo modo com que Musashi lidava com eles.

Em torno de sua vida, existiam todos os tipos de sentimentos, personificados em diversas pessoas. Musashi, durante sua jornada, encontra amizade, ódio, amor, respeito, arrogância.
A primeira reflexão que tive foi como Musashi mudou seu modo de pensar depois que foi forçado a estudar. Estudar abre a mente. Faz-te pensar sobre novos assuntos e novas maneiras de observar as coisas ao seu redor. Faz-te compreender questões que nem imaginava que poderiam ser compreendidas. Muitas vezes podemos acreditar que já temos vasta experiência e sabedoria, e pouco nos preocupamos em adquirir novos conhecimentos, deixando nossa mente sempre do mesmo tamanho. A questão que encontrei em Musashi foi a aprendizagem contínua para crescimento contínuo.
E muito importante, além de ter aprendido a teoria de diversas coisas, Musashi as coloca em prática. Como ele mesmo ensina, temos que colocar a ciência em prática, pois o caminho está no treinamento.
Este é o segundo ponto de reflexão que posso retirar desse livro. Não há meios de chegar na perfeição sem ser imperfeito muitas vezes. Musashi treinava diversas vezes e aprendia com cada erro que cometia. O foco e a concentração que possuía em prol da busca de seus objetivos eram fantásticos. Não se deixava desanimar e encontrava motivação sempre que necessário, ou por meio de seus amigos e mestres, ou pela filosofia zen budista que adquirira. Não podemos esquecer que se desejamos algo, temos que nos concentrar e praticar o tanto que for necessário para que possamos alcançar nossos objetivos.
O terceiro ponto que me surpreendeu no modo de vida de Musashi foi todo o respeito que ele tinha por tudo e por todos, inclusive por seus adversários. Depois de ter estudado, deixou toda aquela arrogância juvenil para trás. Ele não menosprezava seus adversários, ele os olhava de igual para igual. A minha opinião é que esse é um conceito básico mas que muitas vezes tem se perdido no mundo moderno. Cada pessoa tem seus objetivos e suas razões para estar trilhando aquele caminho. Não temos o direito de julgar ninguém, ou tratar com arrogância ou desrespeito.
Apesar de Musashi trilhar seu caminho sozinho, ele acabou conhecendo outras pessoas que o ajudaram a continuar sua jornada. E é interessante pensar que sem a ajuda dessas pessoas, ele talvez não tivesse chegado onde chegou. Exatamente por esse motivo, coloco a amizade como minha próxima reflexão. Podemos não perceber à primeira vista, mas estamos cercados de pessoas que se importam conosco e se preocupam com a gente. Eles sempre estão por perto, e talvez por isso muitas vezes não damos a devida atenção a eles. A verdade é que uma jornada sempre vai ser difícil, mas é sempre bom poder ter pessoas do nosso lado que nos fazem bem simplesmente pelo fato de estarem lá. Temos que valorizar mais as nossas amizades.
Como última reflexão, citarei a parte onde Musashi obtém um discípulo e começa a lhe ensinar seus pensamentos e filosofias. Não importa o quanto foi difícil para Musashi conseguir trilhar seu caminho, ele nunca tomou seus conhecimentos somente para si. Se adquirimos a experiência, por que não podemos compartilhá-la com aqueles que também desejam se aperfeiçoar? Acredito que uma das melhores coisas que existem é a vontade de ensinar e ter a responsabilidade de ser visto como um mestre, professor ou ídolo. Um dia nada restará de nós senão o nosso conhecimento compartilhado.
Ao final de tudo, o que posso dizer é que Miyamoto Musashi, por Eiji Yoshikawa, realmente é um livro que vale a pena e recomendo fortemente para todos. No final do livro o que restará é o sentimento de que aquilo tudo foi um grande aprendizado para a vida e que sempre podemos ser melhor do que já somos.

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