quarta-feira, 25 de maio de 2016

NÃO ALMOCE SOZINHO



Cultura/Arquitetura



"...e os arquitetos que construíram o Vaticano almoçavam com o Papa."





Além de todos os motivos já conhecidos para a eterna insatisfação e desencanto de alguns com a vida de arquiteto terminado o período académico, existem fatores que não são exclusivos desta profissão e que podem ajudar um pouco a perspectivar a “crise” e a alterar o resultado. Os arquitetos são peritos a comunicar entre si, muitos falham na comunicação para fora do círculo restrito. Durante os anos de formação a esmagadora maioria dos arquitectos é treinado a defender com toda a determinação as suas ideias através da construção de conceitos e realidades para aplicar na resolução de um determinado problema/projeto. Esta defesa e argumentação são realizadas em circuito fechado (e provavelmente bem) numa linguagem muitas vezes hermética, citando e utilizando um imaginário que, devido à especialização, só os arquitetos conhecem. Genericamente os cursos são todos iguais na sua estrutura e objetivos. Centram a atenção no desenvolvimento do projeto e apoiam-se numa série de campos paralelos, mas complementares como a história e o desenho. Grande parte do “sucesso” pós-curso vem precisamente daquilo que se fez durante e fora do mesmo. É este percurso que vai marcar a diferença na fase em que se faz a transferência do “modus operandi” académico para o “modus operandi” profissional. É uma tontice pensar que os melhores alunos na academia podem vir a ser os arquitetos com maior e melhor produção profissional. O mundo está cheio de exemplos em que os melhores alunos da turma foram contratados pelo aluno que passava à tangente e que ninguém conhecia muito bem. Há uma justificada demonização dos estágios pelas condições em que muitos deles se desenvolvem. No entanto não se pode subestimar o estágio. É uma oportunidade muitas vezes única de se puder cair na “realidade” e de fazer a mudança necessária. Não é difícil seguir uma certa linha de continuidade entre alguns arquitetos de referência com uma produção intensa e de qualidade, com alguns ateliers mais recentes que se vão destacando e que à sua maneira tentam transpor o modo de funcionamento do atelier onde estagiaram. Tal como se relembram saudosamente os colegas de turma, há muitos casos em que se relembram os colegas do escritório e a partir daí alguns caminhos podem ser seguidos, nomeadamente as “parcerias” e agrupamentos mais ou menos informais para ganhar escala. Obviamente que o título deste texto é uma metáfora para que alguns arquitetos saiam do círculo vicioso de algum queixume e se relacionem com o mundo. Afinal o circuito da encomenda consistente, na maior parte das vezes, sempre foi feito em regime de aconselhamento e proximidade, e os arquitetos que construíram o Vaticano almoçavam com o Papa.




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