Literatura: crônica
Por Sílvia Marques
Sou
paulistana , escritora , bacharel em Cinema, professora universitária e doutora
em Comunicação e Semiótica. Entre meus livros estão "Como identificar e se
livrar de um babaca: Guia de sobrevivência feminina, "Hispanismo e
erotismo: O cinema de Luis Buñuel", "O cinema da paixão: Cultura
espanhola nas telas" e "Sociologia da Educação", indicado ao
Jabuti 2013. Defendo a ideia de que filmes inteligentes e críticos podem
estimular a longo prazo novas atitudes, pensamentos e sentimentos. Autora do
blog Garota desbocada. Lancei recentemente em versão e-book pela Cia do ebook o
romance O corpo nu.
Filosofamos e fazemos poesia
como nos deixamos levar por um dia bonito ou por um dia de inverno. Como nos
deixamos molhar pela chuva. Como nos deixamos seduzir pelo vento, pelo sol, por
tudo que invade os sentidos , fazendo a alma dançar.
Por que filosofamos e fazemos poesia?
Desculpem-me o tom meio professoral...vício da profissão. Filosofamos e fazemos
poesia ( E quando falo poesia , não me refiro apenas ao gênero literário, mas a
todo tipo de elaboração sensível que formulamos para tornar a vida menos cinza)
porque somos humanos. Caso contrário, restringiríamos tudo à mera satisfação
das funções biológicas.
Filosofamos e fazemos poesia como bebemos.
Não bebemos apenas para matar a sede. Bebemos por prazer. Bebemos para
comemorar. Brindamos, olhos nos olhos. Cumplicidade.
Filosofamos e fazemos poesia como comemos.
Não comemos apenas para saciar a fome e obter a energia necessária para a
manutenção da vida. Comemos porque é gostoso. Comemos com quem amamos para
fortalecer laços, estreitar vínculos. Preparar uma comida com carinho é uma
declaração de amor regada à temperos variados: pimenta dedo de moça, queimando
suavemente , orégano a gosto, salsinha enfeitando...
Filosofamos e fazemos poesia como fazemos
amor. Não fazemos sexo apenas para procriar ou relaxar as tensões. Fazemos amor
porque é íntimo, aconchegante , revelador. Porque nos faz nos reconectar
conosco mesmo, com o ente amado, com tudo que há de mais miraculoso e insondável
no universo...
Filosofamos e fazemos poesia como nos
deixamos levar por um dia bonito ou por um dia de inverno. Como nos deixamos
molhar pela chuva. Como nos deixamos seduzir pelo vento, pelo sol, por tudo que
invade os sentidos , fazendo a alma dançar.
Filosofamos e fazemos poesia quando nos
deixamos encantar pelo outro. Filosofamos e fazemos poesia quando nos deixamos
encantar por nós mesmos.
Filosofamos e fazemos poesia porque somos
humanos , porque o nosso afeto é racional, porque não somos movidos à base de
instintos. Porque precisamos entender o mundo . Entender faz parte da nossa
natureza. Porque não nos basta beber , comer e respirar. Porque não nos basta
dormir e procriar. Porque não nos basta existir. Porque sabemos que o mundo
material é apenas o começo de uma longa história...são as pessoas e os
sentimentos e pensamentos que as movem que transformam um dia banal num dia
especial.
São os sentimentos e pensamentos que fazem um
lugar simples parecer lindo e outro sofisticado parecer triste. Existe toda uma
subjetividade interna que transforma , que reconfigura este mundo físico...
Filosofamos e fazemos poesia porque queremos
aspirar o perfume das flores, ouvir a melodia do vento, enxergar a alma do ser
amado por meio de seus olhos...filosofamos e fazemos poesia porque olhamos a
lua e vemos muito mais do que um satélite. Filosofamos e fazemos poesia porque
somos inteligentes, criativos. Porque amamos de forma muitas vezes incoerente.
Sim, filosofamos e fazemos poesia porque
queremos viver intensamente e plenamente.
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