Turismo
Publicado por Profeta do
Arauto
“Recostado
no tronco de uma árvore, cujo sombreado lembra uma saia pinçada, contemplo o
sol e ponho-me a zombar de minha sombra. Se a conheço em pormenores, ela só
existirá, só se manifestará positivamente se ironizada. Então leitor, por
favor, dê a sua contribuição para minha existência.”
Ao longe cai a tarde;
O dia se despede morno;
No sol que morre, enviesado.
O céu acompanhado de seus misteriosos
coadjuvantes não cobre, não aquece, não refrigera, não acalenta um pedaço de
terra mais belo do que a “Pátria amada, Brasil”.
O Brasil é o principal país da América do Sul
e territorialmente, um “continente” dentro do planeta. Impossível não
reverenciá-lo com toda sua diversidade cultural e múltiplas riquezas. Em cada
grão de terra, um ser ultrapassado de chapéu de palha, com a pele avermelhada
pelo sol ou esbranquiçada pelo frio, com um toco de cigarro de palha no canto
da boca, conta as reminiscências do passado. Assim é do Oiapoque ao Chuí, e
quem quiser se localizar no Tempo, deve conectar os ouvidos com a paciência do
ouvir; porque, para obter conhecimento histórico, apenas os livros não bastam.
Aliás quem rumina somente as palavras escritas nos livros, dando total e
completa veracidade à elas, perde a indelével oportunidade de conhecer-se.
Houve uma época na história do país que
diziam pejorativamente que o Brasil era terra de índios. Talvez dissessem isto
por causa dos nativos de cara pintada que, abrindo as águas, rema(va)m suas
canoas pelos inúmeros igapós e ilhas do país; e embora os homens brancos
alimentem a ilusão do: “sou eu o legítimo dono dessa porção de terra”, são eles
os povos que habitavam a imensidão das matas verdes quando os portugueses e
demais invasores chegaram em solo tupiniquim.
Porém, nem toda falácia é aderida universalmente,
principalmente, quando os falantes dependem daquilo que está sendo alvo de
chacota. E é o período de tragédia, de depressão causada pela guerra, de
disseminação de doenças, de escassez de alimentos que melhor representa esta
realidade; aliás, por sinal, em determinados casos, alteram radicalmente os
conceitos e nomenclaturas. Vão do fel ao mel, do inferno ao céu em segundos.
As dores das feridas abertas pelas guerras
atormentavam os neurônios dos europeus. Prevendo tais acontecimentos, uns já
haviam se debandado para terras distantes. Entretanto, outros tantos menos
lúcidos de visão futura padeciam sob o fogo cruzado, carecendo de apoio e
socorro. Em situação de extremo estresse e sofrimento, contrário do conceito
físico, a tendência natural é que os humanos de iguais pensamentos se atraiam.
Foi o que fizeram. E após noites e noites mal
dormidas, meses e meses acotovelando-se em espaço reduzido, famílias e mais
famílias desembarcaram nos portos da “Terra Prometida”; pois a terra boa é
aquela em que a fertilidade do solo não cobra pelos grãos de trigo germinados,
o clima da região lembra as origens, o mel é a fluidez e abundância das águas
que descem aos borbotões da ribanceira e os nativos são harmoniosos e
pacíficos. Portanto, para os europeus recém-chegados, o refúgio chamado Brasil
deixava de ser “terra de índios”, para ser a “nova Jerusalém”. E se as
condições geográficas e climatológicas são preponderantes para o assentamento
de vidas, o Sul foi a “Meca” e esconderijo do povo europeu. Naquele espraiado
pedaço de chão, entre praias paradisíacas e serras miraculosas, eles estariam -
como estão - são e salvos da miséria da fome, das doenças endêmicas europeias e
provavelmente, guerra nunca mais.
Vale Itajaí. Santa Catarina. Foi lá que
recentemente uma brava e feroz enchente alagou casas, arrastou carros, sufocou
plantações, dizimou gente. Por certo período, a Natureza não foi nada amigável
com os ribeirinhos e citadinos, deixando parte do vale alagado, feito pântano.
Esquecendo as atrocidades, contudo, também é por aquelas bandas que a
exuberante Natureza e oásis de gente simples e faladora convidam os arredios de
natureza para darem uma volta nos mais de 300 km de estradas que alternam entre
os aproximados 10% do negro do asfalto e os outros 90%, sobre o
avermelhado-pedregulhoso de terra.
Acerca de 10 anos, talvez orientado pelos
exemplos europeus, um esportista inquieto teve a brilhante ideia de unificar as
nove pequenas, porém aconchegantes cidades, na criação do primeiro traçado a
ser percorrido sobre as duas rodas de uma bicicleta, também conhecida
popularmente como “magrela”. Pelo percurso originalmente mapeado, a viagem
começa e termina na cidade de Timbó; o que não deve ser tomado como traçado
único, pois os municípios são retalhados por estradas e desvios de terra
secundários e podem servir de socorro para os pedaleiros despreparados para
este tipo de aventura.
Embora a altitude seja bastante variável e em
alguns pontos chegue aos 700 ou 800 metros de subida em 10 km, o percurso,
conforme definido em projeto, é para ser feito em uma semana; porém, além da
experiência, o que mais conta é a condição física do ciclista. Todavia, a cada
30 ou 40 km, uma cidade desponta nos baixios para desafogar o estradeiro do
cansaço e ao mesmo tempo, oferecer farta alimentação, um banho relaxante e uma
cama reconfortante para espojar o corpo na madrugada e bocejar o prazer de
despertar ao som dos pássaros.
Entretanto, as belezas e divagações da viagem
não morrem por aí; ao contrário, renascem ao observar o multicolorido dos
jardins e pomares. Ao abrir a janela e se deparar com as aves em arribação em
busca de alimentos; encontrar pelos caminhos copas de árvores repletas de doces
frutos. E estando no topo mais alto do cume, contemplar o despertar ou o pôr do
sol, mistérios divinos que sobrepõem o sobrenatural.
Falando em divino, o Pico dos Anjos é parada
obrigatória para uma foto. Ali, bem no alto, a artesão Seu Paulo, um veterano
agricultor de tempos idos plantou uma coleção de anjos, que segundo ele, foi o
primeiro projeto de Deus; e assim sendo, o homem foi a segunda criação a ser
esculpida pelas benévolas mãos do Criador. Atualmente, a coleção conta com mais
de 65 anjos ao redor da estátua de Cristo, que inspirada no Cristo Redentor do
Rio de Janeiro, a obra em argila foi também laboriosamente trabalhada pelas
suas mãos. Todo o conjunto foi denominado pelo matuto como "Portal do
Paraíso", o que não é para menos. Deus vaga por toda parte, protege todos
os seis continentes, mas não é de se admirar que vá se recolher em alguma
cabana por ali; pois naquele grotão harmonioso, onde as Criaturas da Noite,
mais conhecido como pássaros curiangos, são os sentinela, fé e mistério é o que
faltam.
E se por acaso faltar-lhe fôlego para relatar
parte da história do Valeu Europeu, fixe os olhos nas fotos, veja e reveja,
viaje e regresse, provavelmente, elas o motive a mil palavras.
Pois no silêncio absoluto do vazio não se
ouve a Natureza grasnando, sibilando, coaxando, trinando. Os sons da Natureza
são finos e exige perspicácia de sentidos. Entretanto, em cima de duas rodas de
uma "magrela" os sentidos sentem-se mais leves, mais embriagados,
mais absortos, concentrados aos sons.
Trovões ribombam / Ruídos demais.
Nesse gigantesco mundo / Sobre duas rodas /
Pequenas e silenciosas miudezas.
Ademais, ao pedalar a bicicleta no chamado
P.C.E: Pedal de Corrente Esticada, as longas distâncias encurtam e o agônico
padecimento histórico das estradas percorridas alargam a visão, ampliam os
conhecimentos na memória do viajante.
Fotos pertencentes ao autor do artigo.
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