Literatura:
artigo
Publicado por José
Silveira
Professor universitário, “bon vivant”, hedonista e feliz com
a vida. Escrevi Sob o signo da Fênix pela Canal 6 editora; A tragédia da
política em Ricardo III pela Beco do Azougue editora e eventos; A tragédia da
política em Ricardo II pelo Beco do Azougue editora e eventos; Sob o signo das
Valquírias pela editora MouraSA. .
Ser uma metamorfose ambulante é ter consciência de que as ideias podem
ser mudadas e modificadas conforme as experiências e a forma de se relacionar
com os outros e com o mundo. “Triste não é mudar de ideia. Triste é não ter
ideias para mudar”. Francis Bacon
"Nós, seres humanos, desenvolvemos
sistemas de memória que têm falhas, fragilidades e imperfeições", escreveu
Oliver Sacks.
Muito o que lemos, o que nos contam, o que os
outros dizem, pensam, escrevem, pintam, em alguns momentos da nossa existência,
dada a riqueza e a intensidade do fato em si, podem nos parecer como
experiências primárias.
É como se tivéssemos vivenciado as situações
com os olhos e ouvidos dos outros. Assimilamos valores, sonhos, projetos,
ideais ou opiniões, ou seja, "entramos na mente dos demais".
Por exemplo, recordo-me de uma história
narrada por minha mãe, em sua inolvidável infância.
Como num sonho, eu mergulhei naquele mundo
extraordinário descrito com uma riqueza de detalhes e emoções. Por alguns
momentos, acreditei ter visto, sentindo e contemplado os mesmos sentimentos e
sensações de minha progenitora.
Um dado que é essencial, no qual é um
"óbvio ululante", é evidente que cada ser humano possui sua visão de
mundo, conceitos, preconceitos, opiniões, palpites, conclusões e achismos.
Somos um ser único no planeta.
Fico surpreso quando leio e pesquiso sobre o
nosso inconsciente. E noto como ele é decisivo em determinada ação ou
pensamento.
Muitos conflitos de opiniões são
influenciados por nosso inconsciente.
Por exemplo, um casal que briga pela forma de
como deve ser espremida a pasta dental: no início, meio ou fim? Ou a
preferência pela cor do tapete: verde ou vermelho? Ou como deve ser organizado
as roupas no armário: por cores ou por peças?
Nesse ponto, parece clichê insistir que o
diálogo é fundamental em situações de conflito, de tensão, de arrebatamento das
paixões. "O diálogo só é diálogo se todos os lados envolvidos admitirem
que não dominam a verdade absoluta sobre todas as coisas", pondera José
Francisco Botelho.
Ainda segundo Botelho, "é um acordo
tácito, pelo qual todas as visões de mundo são colocadas sob escrutínio".
Diálogo significa encarar o nosso reflexo - o outro - sem desviar os olhos.
Realmente não é uma tarefa fácil, é um processo incômodo e às vezes enervante.
Mas numa pretensa cultura de paz, o diálogo e
a cooperação deveriam estar mais presentes que o julgamento e as divergências.
Adotar uma posição de abrandamento, em que
nos tornamos mais generosos, abertos e receptivos, em que admitimos que não é
vergonhoso querer mudar de ideia quando há uma boa razão para isso.
Porque, afinal, ideias são ideias. São
mutáveis.
Pois, então, vamos assumir a famosa sentença
de Raul Seixas: "Eu prefiro ser uma metamorfose ambulante do que ter
aquela velha ideia formada sobre tudo..."
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