Política
brasileira
Por Josias de Souza
16/09/2016 04:02
É
um jornalista brasileiro. Exerce o jornalismo desde 1984. Trabalha na Folha de
S.Paulo desde 1985. Nesse período, ocupou diferentes funções - de repórter a
secretário de redação do jornal.
Com o luxuoso auxílio dos seus advogados, Lula
desperdiça tempo numa cruzada contra Sérgio Moro. Para estigmatizá-lo, recorreu
até às Nações Unidas. Denunciado, o ex-presidente passou a demonizar também o
procurador da República Deltan Dellagnol e os outros “meninos” da Lava Jato.
Lula procede assim por acreditar que, tachando seus investigadores de demônios,
fica eximido de todo exame do mal. A começar pelo mais difícil: o autoexame.
Nesta quinta-feira, no comício privê que convocou
para politizar a denúncia de que foi alvo, Lula potencializou a impressão de
que se tornou um típico político brasileiro— grosso modo falando. Ele discursou
por uma hora e oito minutos. A certa altura, a pretexto de criticar os
procuradores que têm a mania de procurar e o juiz que cultiva o hábito de
julgar, Lula saiu em defesa da classe política, sua corporação. Pronunciou a
seguinte frase:
“Eu, de vez em quando, falo que as pessoas
achincalham muito a política. Mas a profissão mais honesta é a do político.
Sabe por quê? Porque todo ano, por mais ladrão que ele seja, ele tem que ir
para a rua encarar o povo, e pedir voto. O concursado não. Se forma na
universidade, faz um concurso e está com emprego garantido o resto da vida. O
político não. Ele é chamado de ladrão, é chamado de filho da mãe, é chamado de
filho do pai, é chamado de tudo, mas ele tá lá, encarando, pedindo outra vez o
seu emprego”.
O raciocínio de Lula é límpido como água de bica.
Mas vale a pena clareá-lo um pouco mais. Para o morubixaba do PT, política não
é sacerdócio, mas profissão. E se parece muito com a profissão mais antiga do
mundo. O político, ainda que seja um biltre, um pulha, um larápio será sempre
mais honesto do que alguém capaz de molhar a camisa numa universidade para
ingressar por concurso no Ministério Público ou na magistratura. Toda vilania,
toda calhordice, toda ladroagem será perdoada se o político for para a rua
“encarar o povo e pedir voto.”
De acordo com a força-tarefa de Curitiba, Lula é o
“comandante máximo” da corrupção. Presidiu uma ‘propinocracia’ urdida para
assegurar o enriquecimento ilícito, a governabilidade corrompida e a
perpetuação no poder. Lula abespinhou-se com a acusação de que comprou apoio
congressual.
“Ontem eu vi eles falarem dos partidos políticos,
dos governos de coalisão, vocês sabem que muita gente que tem diploma
universitário, que fez concurso, é analfabeto político”, declarou. “O cara não
entende do mundo da política. Não tem noção do que é um governo de coalizão.
Ele não tem noção do que é um partido ser eleito com 50 deputados de 513 e que
tem que montar maioria.” Foi como se o pajé petista dissesse: “Num Legislativo
em que todos os gatunos são pardos, mensalões e ‘petrolões’ não são opcionais,
mas imperativos.”
A esse ponto chegou o mito. Assumira o poder
federal, em 2003, ostentando uma biografia que empolgava o mundo. Imaginou-se
que reformaria os maus costumes. Hoje, convoca a imprensa nacional e
estrangeira para informar que foi reformado por eles. E concluiu: 1) que a oligarquia política com
o rabo preso no alçapão da Lava Jato é inimputável. Recebeu licença das urnas
para roubar. 2) que ‘governabilidade’ virou uma grande negociata para
justificar qualquer aliança ou malandragem destinada a fazer da discussão
política uma operação de compra e venda.
No fim das contas, um comício que serviria para
contestar acabou confirmando as formulações dos analfabetos políticos da Lava
Jato. Enquanto procura demônios de ocasião para os quais possa transferir suas
culpas, Lula revela o porquê do surgimento de fenômenos como o mensalão e o
petrolão. Se a urna é um sabão em pó moral, nada mais natural que políticos
como Collor, Renan, Cunha e um incômodo etecetera recebessem, sob Lula, licença
para plantar bananeira dentro dos cofres da Petrobras e adjacências.
Lula gosta de citar sua mãe, dona Lindu, para
informar que aprendeu com ela a “andar de cabeça erguida por esse país.” Está
claro que Lula não apreendeu os ensinamentos de sua mãe. Um governante pode até
conviver com certos políticos por obrigação protocolar. Qualquer mãe entenderia
isso. Mas ir atrás do Collor, adular o Cunha, entregar a viabilidade do seu
governo à conveniência de tipos como Renan… Está na cara que Dellagnol e os
outros ''meninos'' de Curitiba precisam assumir a função da mãe de Lula,
denunciando-o de vez em quando, nem que seja para dizer: “Olha as companhias,
meu filho. É para o seu próprio bem. Certos confortos podem acabar na cadeia.”
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