Arte cinematográfica
Publicado por Bruno
Knott
Bruno Knott
escreve aqui sobre o seu assunto preferido: cinema. Acredita que o bom cinema
está acima de qualquer gênero.
O diretor russo Andrei
Tarkovsky foi um dos grandes diretores que o cinema já viu. São apenas 7
filmes, mas todos possuem vários aspectos marcantes. Gênio, poeta visual,
artista!
Filho do poeta Arseny Tarkovsky, o
russo Andrei Tarkovsky é um cineasta com marca própria.
Adotando um ritmo peculiar, o diretor preferia utilizar longas tomadas e
conseguia explorar a beleza da fotografia como poucos. Seus filmes não terminam
com a última cena, pois ele praticamente nos obriga a pensar e muito sobre o
que acabamos de ver. Podemos dizer que alguns dos seus filmes exigem uma certa
paciência, mas assim que você se acostuma com o estilo dele, vai entender os
motivos que o fazem ser considerado um dos grandes nomes do cinema
Que tal um passeio pela filmografia de um dos
mestres da Sétima Arte?
A Infância de Ivan (Ivanovo detstvo, 1962)
O trabalho mais acessível do diretor
mostra a participação do garoto Ivan na Segunda Guerra. É uma
reafirmação da crueldade e imbecilidade da guerra, que serve apenas para
destroçar famílias e sonhos. A Infância de Ivan é sobre a
perda precoce da inocência, sobre uma criança que ao invés de brincar de
esconde-esconde e admirar a beleza de uma borboleta, ajuda o exército a
reconhecer o território inimigo. É um material bem forte, que ainda conta com
uma cena extremamente tensa e cheia de suspense que envolve uma travessia de
barco em uma escuridão sufocante.
Andrei Roublev - O Artista Maldito (Andrey Rublyov, 1966)
Esta é a visão de Tarkovsky sobre
a vida de Andrei Roublev, um pintor de ícones religiosos que viveu
no fim da idade média. Eis um verdadeiro épico medieval com 3 horas e meia de
duração, dividido em 8 capítulos. Cada capítulo mostra situações e
acontecimentos que influenciaram Roublev e que também são
retratos da História da Rússia. A fotografia em preto e branco reforça ainda
mais a beleza da obra.
Solaris (Solyaris, 1972)
Considerado um filme preparatório para
a realização de Stalker, Solaris é uma ficção científica contemplativa e de
ritmo lento. O mistério está presente do começo ao fim. Ele levanta algumas
questões filosóficas, mas não as responde. Um personagem fala que felizes são
aqueles que não se questionam sobre coisas importantes, o que dá uma boa ideia
do clima do filme. De qualquer forma, ele exige bastante atenção, pois não é
fácil de ser absorvido.
O Espelho (Zerkalo, 1975)
Imagens fortes, poderosas e cheias de
simbolismos são usadas para contar a história de um homem que relembra toda a
sua vida. Salta aos olhos o teor autobiográfico do filme, que muitas vezes é
bem confuso graças a uma mistura um tanto caótica de flashbacks, filmes
históricos e poesias recitadas. Este é daqueles que pede mais do que uma
assistida. É considerado por muitos o trabalho mais impenetrável do diretor,
algo que concordo.
Stalker (Сталкер, 1979)
Tarkovsky faz da Zona um
local com uma atmosfera perigosa. É uma área natural gigante que possui alguns
objetos que a tornam assustadora, como tanques enferrujados, seringas, símbolos
religiosos na água e assim por diante. O diretor russo cria imagens de beleza
extrema. É possível apertar o pause em qualquer cena que você terá uma
verdadeira obra de arte. As longas tomadas e os movimentos de câmera peculiares
de Tarkovsky nos passam a ideia de que estamos vendo um sonho.
Somos hipnotizados por aquele mundo. Antes de tentar compreender o filme,
devemos senti-lo. Mas o que é A Zona? O resultado de um meteorito? Algo feito
por seres alienígenas? E o que leva as pessoas a se arriscarem lá dentro?
Autoconhecimento, desejo de aventura ou a simples ambição de ter seus desejos
realizados? As conversas dos personagens parecem sem propósito, porém estão
repletas de significado. Um deles se pergunta sobre a arte, sobre a música,
sobre o altruísmo e sobre a fé. Enfim, é uma reflexão sobre o ser humano e sua
relação com o mundo.
Nostalgia (Nostalghia, 1983)
Não é uma experiência fácil de ser
compreendia. É sobre um poeta que viaja até a Itália para pesquisar a vida de
um compositor russo do século 18. O destaque aqui também são as imagens e o
grande teor metafórico de algumas cenas, mas é o único filme do diretor que não
me comoveu tanto, apesar do trágico final.
O Sacrifício (Offret, 1986)
Há um clima de melancolia reforçado
pela fotografia espetacular do habitual colaborador de Bergman, Sven Nykvist. O
personagem principal tem longos monólogos em que discorre sobre o medo da
morte, sobre o fato de passar a vida esperando algo acontecer e sobre o
sentimento de que existe algo de errado com a civilização, tão errado que não
há mais tempo para consertar. Assim como os personagens, somos surpreendidos
pelo início de uma provável terceira Guerra Mundial e a única maneira de evitar
o fim do mundo é o tal sacrifício do título, que não revelarei, apenas digo que
envolve uma feiticeira local.
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