sábado, 12 de novembro de 2016

O MISTERIOSO LAGO GIGANTE ESCONDIDO EM BAIXO DE VULCÃO NOS ANDES

  Ciência/tecnologia












O reservatório se encontra a 15 quilômetros de profundidade do vulcão Uturuncu, na Bolívia

Uma espécie de lago gigantesco foi descoberta na Bolívia - mas não é possível chegar até ele.



Isso porque o reservatório de água fica a 15 quilômetros de profundidade, embaixo do vulcão Uturuncu, nos Andes.
A água do lago está misturada com magma, massa mineral em estado de fusão que determina as erupções vulcânicas. Sua análise poderia ajudar a compreender por que e como as erupções acontecem.
O lago também poderia ser uma evidência de que a água da Terra não é proveniente de cometas ou asteroides - ela já estaria no interior do planeta desde sua formação.
Volume extraordinário
A descoberta foi realizada por Jon Blundy, da Universidade de Bristol, na Inglaterra, e por cientistas franceses, alemães e canadenses enquanto estudavam uma estranha anomalia embaixo do vulcão Uturuncu.
Esse vulcão semiadormecido, que expele fumaça de forma ativa, tem mais de 6 mil metros de altura e fica no departamento de Potosí, no sul da Bolívia.
A anomalia pesquisada é um corpo de magma que, diferente do magma achado normalmente sob os vulcões, é capaz de conduzir eletricidade.

Uturuncu é um vulcão semiadormecido que tem mais de 6 mil metros de altura
Estudando essa condutividade elétrica, os cientistas constataram o tamanho do reservatório de água: 1,5 milhão de quilômetros cúbicos - volume comparável ao do maior lago da América do Norte, o Superior.
Mil graus Celsius
A equipe de Blundy examinou rochas expelidas em uma erupção do Uturuncu há 500 mil anos. Elas foram misturadas com água e submetidas a condições similares às presentes a 15 quilômetros de profundidade.
Essas condições incluem uma pressão 30 mil vezes maior que a atmosférica e temperaturas superiores a 1 mil graus Celsius.
"Reproduzimos em laboratório o que acontece a grandes profundidades na Terra", explicou Blundy.
Os pesquisadores determinaram a porcentagem de água em que a condutividade da rocha era a mesma que no magma abaixo do Uturuncu.
"Calculamos que a anomalia contém entre 8% e 10% de água", afirmou.
Mas essa água não pode ser extraída.
"Ela está misturada com rocha parcialmente derretida a uma temperatura entre 950 e 1 mil graus Celsius, por isso não é acessível."
Microcosmos
A água no magma pode ajudar a explicar a composição da crosta do planeta.
Essa água ajuda na formação de rochas como a andesina - que recebeu este nome por ser encontrada na região dos Andes. Isso ocorre quando o magma no manto terrestre, composto de basalto, sobe até a crosta.


Água embaixo do Uturuncu não é acessível
A andesina é uma rocha ígnea vulcânica, e o magma andesítico é muito rico em água - embora ela se transforme em vapor durante a erupção.
"O processo no Uturuncu é um microcosmo da formação da crosta continental", disse Blundy.
'O pouco que sabemos'
Blundy e seus colegas ainda não sabem exatamente o papel da condutividade nas erupções.
Mas detectaram misteriosos casos similares de condutividade na zona vulcânica Taupo, na Nova Zelândia, e no Monte Santa Helena, no Estado de Washington, nos Estados Unidos.

Magma que conduz eletricidade também foi detectado sob o Monte Santa Helena, nos EUA
É provável que a condutividade nesses casos também seja indício de reservatórios secretos como o do Uturuncu.
"O estudo nos faz lembrar o pouco que sabemos sobre a água na crosta e no manto terrestres", disse Steve Jacobsen, da Universidade Northwestern, em Illinois.
De onde veio a água da Terra?
Jacobsen e sua equipe descobriram em 2014 um reservatório de água que corresponde a três vezes o volume do oceano, situado a 700 quilômetros de profundidade.
Essas descobertas são novos indícios de que há grandes quantidades de água no interior da Terra - e que podem ter dado origem aos oceanos.
E é possível que a água que torna o planeta habitável já estivesse presente na nuvem de pó que se condensou para formar o planeta. Assim, ela não teria chegado à Terra em cometas ou asteroides com gelo, como apontam algumas teorias.
Os cientistas dizem que a água e a condutividade no magma podem ter um impacto crucial.
"Esperamos que nossos resultados melhorem nossa capacidade de interpretar os sinais de atividade sísmica", disse Jacobsen.
E essa interpretação poderia resultar em uma capacidade maior para prever erupções devastadoras.


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