Projeto pioneiro pretende transformar força destruidora dos
vulcões da Islândia em motor de desenvolvimento econômico
Uma empresa na Islândia pretende transformar a
força destruidora dos vulcões em motor de desenvolvimento econômico.
Em busca de uma nova fonte de energia renovável, a Iceland Drilling está
perfurando um poço de cinco quilômetros de profundidade em uma dessas
estruturas geológicas.
A cavidade vai gerar um vapor extremamente
poderoso, capaz de produzir energia elétrica e uma revolução econômica no país
nórdico de pouco mais de 320 mil habitantes, avalia a revista científica New Scientist.
A iniciativa revela que a Islândia não é apenas uma terra de vulcões
traiçoeiros como o Eyjafjallajökull, cujas cinzas provocaram o fechamento de
diversos aeroportos na Europa, em 2010.
Islândia possui 30 vulcões ativos e vastas áreas conhecidas como
'desertos de lava'
Trata-se de uma boa notícia para um país que viu sua economia entrar em
colapso com a crise financeira global de 2008, e acumulou dívidas num valor 12
vezes maior do que o seu PIB (Produto Interno Bruto).
Praticamente toda (85%) a energia elétrica islandesa vem de fontes
renováveis: geotérmica e hidrelétrica.
Nas usinas geotérmicas, o funcionamento das turbinas é produzido pelo
calor das rochas.
Islandeses aproveitam ao máximo as fontes de energia renováveis:
banhistas relaxam nas águas aquecidas por uma usina de energia geotérmica
O poço da Iceland Drilling pretende ultrapassar a camada de rochas e
chegar à lava. Ao longo da extensão da estrutura, a temperatura deverá variar de
400 a 1 mil graus Celsius.
E essa nova fonte de calor é dez vezes mais poderosa do que as rochas
dos poços geotermais.
Esparsamente povoada, Islândia continua enfrentando consequências
do colapso econômico de 2008
O novo processo gerador de energia deve garantir o completo
abastecimento doméstico e industrial da ilha de pouco mais de 100 mil
quilômetros quadrados, área inferior à do Estado do Amapá.
Técnica de perfuração inédita
A perfuração do poço começou há três meses e até o fim do ano pretende
atingir um ponto da Cordilheira Meso-Atlântica ─ a cadeia de montanhas
submarina que se estende sob o Oceano Atlântico e o Oceano Ártico e onde se
encontram as placas tectônicas Norte-Americana e Euroasiática.
Há 30 vulcões na Islândia, que fica em uma região onde a crosta oceânica
é mais fina do que no resto do mundo. Por isso, quando as duas placas
tectônicas se movem, surge uma fissura e o magma chega à superfície por meio de
uma erupção vulcânica.
"Já haviam sido feitas perfurações em rocha sólida, mas nunca nas
condições que agora encontramos", destaca Albert Albertsson, da companhia
islandesa HS Orka, que também participa do projeto.
Erupções vulcânicas são comuns
na Islândia
Os técnicos querem alcançar o ponto onde o lençol de lava sofre
infiltrações de água do mar. É uma região onde o calor e a pressão são 200
vezes maiores do que na superfície e a matéria atinge um estado que não é
líquido nem gás ─ o chamado "vapor supercrítico".
Descoberta acidental
Por incrível que pareça, esse ambicioso projeto surgiu por acidente.
Em 2009, durante a construção de uma central geotérmica, a Iceland
Drilling perfurou um poço e atingiu uma corrente de magma.
Os técnicos resolveram, então, experimentar inundar o poço com água e
analisar quanta energia o vapor poderia gerar.
Nas profundezas dos vulcões islandeses, ambiente seria semelhante
ao que existia quando os dinossauros habitavam o planeta
Resultado: criaram a usina geotérmica mais poderosa da Islândia.
Se tudo correr como planejado, a técnica poderá ser levada a outras
áreas vulcânicas do planeta, tornando-se uma alternativa aos combustíveis
fósseis, um dos responsáveis pelo aquecimento global.
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