Política internacional
João Fellet
Da BBC Brasil em Washington
Renata Castro Alves, Margareth Shepard, José Peixoto e Cláudia
Mariaca (da esq.para dir.) são candidatos nos EUA
A eleição americana, marcada para o
dia 8 de novembro, deverá ter participação recorde tanto de eleitores como de
candidatos brasileiros.
Na Flórida e em Massachusetts, ao
menos quatro membros da comunidade concorrem a cargos públicos. Os dois Estados
abrigam as maiores parcelas de imigrantes brasileiros nos EUA, estimados em
pelo menos 1 milhão de pessoas.
Boa parte do grupo mora no país
irregularmente e não vota, mas o número de brasileiros com cidadania americana
tem crescido e faz com que alguns já sonhem até com a eleição de um
representante brasileiro para o Congresso - apesar de queixas de alguns
candidatos sobre a falta de apoio entre os concidadãos.
Conheça quatro membros da comunidade
que estão se lançando na política americana:
Renata Castro Alves, candidata a vereadora em
Margate (Flórida)
Renata Castro Alves é candidata
a vereadora na Flórida
Natural de São Gonçalo (RJ), Alves é
advogada especializada em imigração e concorrerá ao posto de vereadora em
Margate, cidade com 58 mil habitantes. Ela diz que ficou impressionada
"com a falta de apoio da comunidade brasileira" na campanha.
"Recebi muita ligação de
brasileiros perguntando se poderiam ser meus assessores, se eu poderia arrumar
emprego para eles, mas doação quase não veio", diz a advogada, que mora
nos EUA há 15 anos.
A advogada afirma, por outro lado,
que sua candidatura tem sido muito bem recebida por imigrantes de outros países
latino-americanos (ela fala espanhol fluentemente). "Sempre perguntam se
sou cubana, isso me ajudou bastante."
Alves é a única candidata em Margate
pertencente a uma minoria racial, embora negros e latinos sejam 46% da
população da cidade. Se eleita, será a primeira latina a assumir o posto. Na
Flórida, candidatos a vereador não concorrem por partidos.
Renata é advogada especialista
em imigração
Ela diz que sua principal proposta é modernizar
a cidade. No futuro, pretende se lançar a deputada estadual, cargo que lhe
permitiria tornar as leis da Flórida mais favoráveis a imigrantes.
Alves conta que em reunião recente
com autoridades da Flórida perguntou por que a comunidade brasileira não
recebia a mesma atenção destinada a outros grupos de imigrantes. "Eles
respondiam: 'vocês não têm nenhum deputado, nenhum senador eleito'. E sempre
citavam os haitianos, que estão aqui há menos tempo que a gente mas já têm
vários representantes."
Segundo Alves, os haitianos são
politicamente mais unidos que os brasileiros: quando um deles se candidata, até
haitianos de cidades vizinhas o ajudam na campanha. "Os brasileiros ainda
não entenderam a importância de ter um representante eleito, mesmo que seja um
vereador."
Margareth Shepard, representante eleita em
Framingham (Massachusetts)
Margareth Shepard é candidata
no estado de Massachusetts
Goiana de Inhumas, Shepard se elegeu
no fim do ano passado como representante em Framingham, município que fica numa
das áreas com maior presença de brasileiros em Massachusetts (nordeste dos
EUA).
O município, de 68 mil habitantes,
não tem prefeitura e é administrado por um conselho de 160 cidadãos, modelo de
gestão que vigora em partes dos EUA.
Shepard também é tesoureira do comitê
local do Partido Democrata e ajudou a organizar a primeira reunião entre
imigrantes brasileiros para arrecadar fundos para a eleição presidencial. Ela
diz que mais de 200 brasileiros participaram e que as doações a Hillary Clinton
(a candidata democrata à Casa Branca) somaram U$S 4 mil (mais de R$ 12 mil).
Dona de uma empresa de limpeza, ela
afirma que a comunidade brasileira terá uma participação recorde nesta eleição
e que o grupo foi o "fiel da balança" na prévia que escolheu o
candidato democrata à assembleia estadual.
Segundo ela, cerca de 200 brasileiros
que nunca tinham votado nas prévias endossaram o candidato Jack Patrick Lewis,
que derrotou o rival por 63 votos. Ele agora disputa a eleição para deputado
estadual com uma representante do Partido Republicano e um candidato
independente.
Margareth Shepard arrecadou
fundos para a campanha de Hillary Clinton
Na campanha, Lewis apoiou uma das
principais demandas da comunidade brasileira: a aprovação de uma lei estadual
que autorizaria a emissão de carteiras de motorista para imigrantes sem vistos.
Além de permitir dirigir, a
habilitação tem a função de um RG: o portador pode usá-la, por exemplo, para
embarcar em voos domésticos. Hoje, muitos brasileiros sem vistos não têm
qualquer documento reconhecido nos EUA, o que limita suas vidas.
Shepard diz que a comunidade
brasileira apta a votar nos EUA (incluindo filhos e netos de imigrantes já
nascidos no país) é numerosa o suficiente para eleger um representante para o
Congresso em Washington, mas que para isso "falta criar um lastro de
história, porque você não elege candidatos para cargos majoritários sem uma
estrutura local".
Ela conta que nos próximos anos
pretende se candidatar a cargos eletivos mais altos ou apoiar outros candidatos
brasileiros. Ao menos dois brasileiros já se candidataram a vereador em
Massachusetts e uma brasileira disputou uma prévia para concorrer à eleição
para a assembleia estadual, mas nenhum teve sucesso.
José Peixoto, candidato a deputado federal por Key
Largo (Flórida)
José Peixoto é candidato a
deputado federal por Key Largo
Há 31 anos nos EUA, Peixoto nasceu em
Ipanema (MG) e é o único dos candidatos entrevistados a apoiar o republicano
Donald Trump para a Casa Branca. "Ele não tem rabo preso com ninguém, não
deve um centavo, não tem lobby nenhum atrás dele", afirma o brasileiro,
que trabalha com construção civil e mora em Key Largo, ilha ao sul de Miami.
O brasileiro também é filiado ao
Partido Republicano, mas concorrerá como independente a uma vaga no Congresso
porque não participou da prévia que definiu o candidato republicano em seu
distrito eleitoral. É a segunda vez que ele disputa o posto. Em 2012, perdeu ao
ficar em quarto lugar, com 2.717 votos (1,1% do total). O vencedor, o democrata
Joe Garcia, recebeu 136 mil votos (53,6%).
Peixoto diz que alguns brasileiros na
Flórida o censuram por pedir votos para Trump (o empresário promete deportar
todos os imigrantes sem vistos), mas que "em meia hora de conversa muitas
pessoas mudam de opinião".
Segundo ele, a proposta de Hillary
Clinton para regularizar imigrantes sem documentos vai "abranger muita
gente que não deveria estar aqui", como criminosos e estrangeiros que não
conseguem se sustentar sem o apoio do Estado.
José Peixoto apoia o candidato
republicano Donald Trump
Membro da maçonaria, ele diz que uma
de suas principais propostas é limitar o mandato de congressistas a uma única
reeleição (hoje não há limite ao número de mandatos).
Peixoto diz que Hillary é a
"Dilma americana" e compara o Partido Democrata ao PT. "Os
democratas têm esse negócio de querer dar bolsas para tudo, como o PT, mas nós
já vimos que isso não deu certo no Brasil."
Cláudia Mariaca, candidata a vereadora em Doral
(Flórida)
Claudia Mariaca é candidata a
vereadora na Flórida
Nascida em Buenos Aires, Mariaca
morou doze anos em São Paulo, terra do seu marido e onde nasceu um de seus dois
filhos. Nos EUA há mais de 20 anos, fala português com sotaque paulistano e se
considera "meio argentina, meio brasileira, meio americana".
Ela começou a se envolver com a
política ao presidir uma associação de pais e professores em Doral, cidade com
56 mil habitantes. Na época, ficou impressionada com o acesso que cidadãos
tinham às autoridades. "A gente que vem de países latino-americanos não está
acostumada com a possibilidade de ir na prefeitura e falar para o prefeito o
que você acha que está certo ou errado."
Gostou tanto da experiência que
resolveu se candidatar. Como Renata, ela concorre sem partido, já que
candidatos a vereador não concorrem por legendas na Flórida.
Formada em economia e especialista em
marketing, ela diz que uma de suas preocupações é "trazer de volta a
sensação de comunidade que tínhamos". Segundo ela, a população de Doral
cresceu muito nos últimos anos com a chegada de imigrantes, muitos dos quais
brasileiros.
Ao mesmo tempo em que corteja os
moradores receosos dos novos vizinhos, ela tenta atrair os votos da crescente
população latina. "Não sei se é porque tenho essa mistura cultural, mas
tenho recebido um pouco de apoio de cada grupo."
Claudia quer resgatar o
sentimento de comunidade em Doral
Mariaca também tenta se equilibrar
entre os eleitores favoráveis e contrários a Trump em Doral, sede de três
campos de golfe e um resort do empresário.
Mariaca diz que muitos moradores
ficaram decepcionados com Trump quando seus campos de golfe perderam a licença
para sediar um campeonato que rendia muitas receitas para a cidade. "Falar
em Trump por aqui é complicado, ele deixou um gosto meio amargo na
população."
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