NR/ Já se foi o tempo em que os
saveiros eram os grandes vetores da economia baiana. Foram, por largo período,
os responsáveis pelo abastecimento de Salvador e dos municípios do recôncavo
baiano. Para a capital traziam materiais de construção (areia, telhas,
tijolos), peixes, camarões, frutas, verduras e carnes em geral, caxixis
(talhas, pratos, travessas e caldeirões de barro). De
volta as suas origens
levavam tecidos, enlatados, produtos industrializados. Enfim, passageiros. Isso
aconteceu até o final da década de cinquenta do século passado, quando as
estradas apareceram e os veículos a motor (caminhões, ônibus, caminhonetes) se
tornaram seus adversários mais implacáveis, numa luta com a parecença da de
Davi contra Golias, mas, desta vez, com a vitória do Golias.
De lá para cá, deles só nos restam
as lembranças de suas velas enfunadas singrando a Baía de Todos-os-Santos, num
ir e vir incessante, que chamávamos de procissão da paz. Um espetáculo
belíssimo que alegrava nosso dia a dia.
Hoje, eles são raros. Seus
esqueletos jazem nas praias do nosso litoral. Os que escaparam da morte
inglória viraram escunas, ou meros barcos de lazer.
Saudade é tudo quanto deles nos
restou.
A procissão da paz
Saveiro é
um tipo de embarcação construída exclusivamente em madeira. Nas originais e
mais antigas até os pregos eram feitos de madeira. É também um termo genérico
que engloba vários tipos de embarcações muito diferentes entre si, todas em
Eram garbosos, elegantes,
imponentes...
madeira, com envergaduras assombrosas, e aerodinâmica
naval esmerada, procurando aproveitar o máximo de aerodinâmica que a madeira
pode proporcionar.
Tanto em Portugal como no Brasil, esse trabalho teve início com a Escola de Sagres,
onde o graminho ou a régua de cálculos era muito utilizada.
Normalmente a construção de um saveiro é primitiva,
medieval; e dispensa o uso de um complicado projeto de engenharia que envolve muitos cálculos matemáticos para chegar
nas curvaturas das cavernas (ou galerias), que nunca são repetitivas,
obviamente, o que faz do saveiro objeto único de arte artesanal. Embora não
existam saveiros iguais, como as digitais, pois são objetos únicos na sua
individualidade acadêmica; todos são embarcações marinheiras, cujo objeto é a
boa navegação.
A técnica usada no cálculo das cavernas também
dispensa o uso do sistema métrico decimal, digital ou qualquer emprego de
equações algébricas ou integral, aplicadas individualmente em trigonometria
esférica, como seno e cosseno já que na maioria das vezes seus construtores não
possuem formação técnica em metalurgia avançada e de tonelagem mecânica seja
manual ou digital, em escola altamente especializada; e sim em madeira e suas
diversas procedências, da sua natividade, umidade natural, essa teorizações é
que são sua maximização acadêmica especializada e restrita, bem como também a
necessária capacidade artística, de poder com arte atingir seu objetivo final.
As suas
ferramentas são buscadas na geometria euclidiana fundamental e nas inspiradas
pelo conhecimento da nave em si que vão construir e o objeto que irão
Singravam as águas das
mares mansas ou encapeladas, sem medo de serem felizes
enfrentar que é o mar bravio; como se fosse uma mãe
cheia de amor e arte, dando à luz a um filho.
Indo contra o vento “sem
lenço, sem documento”
Enfim, a ferramentaria é a mais simples possível quase
toscas como o graminho (ou régua de cálculos antiga), que consiste em uma tipo
de tábua onde estão marcadas todas as relações funcionais geométricas e
trigonométricas de comprimentos, curvaturas e proporções de cada peça da
embarcação a serem relacionadas entre si, sendo que através do graminho é
possível construir embarcações virtualmente idênticas no desempenho, porém
diferentes na aparência.
Na verdade os saveiros são engenhos únicos da
criatividade humana.
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