segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

OS SAVEIROS DA BAHIA

NR/ Já se foi o tempo em que os saveiros eram os grandes vetores da economia baiana. Foram, por largo período, os responsáveis pelo abastecimento de Salvador e dos municípios do recôncavo baiano. Para a capital traziam materiais de construção (areia, telhas, tijolos), peixes, camarões, frutas, verduras e carnes em geral, caxixis (talhas, pratos, travessas e caldeirões de barro). De
volta as suas origens levavam tecidos, enlatados, produtos industrializados. Enfim, passageiros. Isso aconteceu até o final da década de cinquenta do século passado, quando as estradas apareceram e os veículos a motor (caminhões, ônibus, caminhonetes) se tornaram seus adversários mais implacáveis, numa luta com a parecença da de Davi contra Golias, mas, desta vez, com a vitória do Golias.
De lá para cá, deles só nos restam as lembranças de suas velas enfunadas singrando a Baía de Todos-os-Santos, num ir e vir incessante, que chamávamos de procissão da paz. Um espetáculo belíssimo que alegrava nosso dia a dia.
Hoje, eles são raros. Seus esqueletos jazem nas praias do nosso litoral. Os que escaparam da morte inglória viraram escunas, ou meros barcos de lazer.
Saudade é tudo quanto deles nos restou.

A procissão da paz
Saveiro é um tipo de embarcação construída exclusivamente em madeira. Nas originais e mais antigas até os pregos eram feitos de madeira. É também um termo genérico que engloba vários tipos de embarcações muito diferentes entre si, todas em

Eram garbosos, elegantes, imponentes...

madeira, com envergaduras assombrosas, e aerodinâmica naval esmerada, procurando aproveitar o máximo de aerodinâmica que a madeira pode proporcionar.
Tanto em Portugal como no Brasil, esse trabalho teve início com a Escola de Sagres, onde o graminho ou a régua de cálculos era muito utilizada.
Normalmente a construção de um saveiro é primitiva, medieval; e dispensa o uso de um complicado projeto de engenharia que envolve muitos cálculos matemáticos para chegar nas curvaturas das cavernas (ou galerias), que nunca são repetitivas, obviamente, o que faz do saveiro objeto único de arte artesanal. Embora não existam saveiros iguais, como as digitais, pois são objetos únicos na sua individualidade acadêmica; todos são embarcações marinheiras, cujo objeto é a boa navegação.
A técnica usada no cálculo das cavernas também dispensa o uso do sistema métrico decimal, digital ou qualquer emprego de equações algébricas ou integral, aplicadas individualmente em trigonometria esférica, como seno e cosseno já que na maioria das vezes seus construtores não possuem formação técnica em metalurgia avançada e de tonelagem mecânica seja manual ou digital, em escola altamente especializada; e sim em madeira e suas diversas procedências, da sua natividade, umidade natural, essa teorizações é que são sua maximização acadêmica especializada e restrita, bem como também a necessária capacidade artística, de poder com arte atingir seu objetivo final.
 As suas ferramentas são buscadas na geometria euclidiana fundamental e nas inspiradas pelo conhecimento da nave em si que vão construir e o objeto que irão
Singravam as águas das mares mansas ou encapeladas, sem medo de serem felizes
enfrentar que é o mar bravio; como se fosse uma mãe cheia de amor e arte, dando à luz a um filho.
Indo contra o vento “sem lenço, sem documento”
Enfim, a ferramentaria é a mais simples possível quase toscas como o graminho (ou régua de cálculos antiga), que consiste em uma tipo de tábua onde estão marcadas todas as relações funcionais geométricas e trigonométricas de comprimentos, curvaturas e proporções de cada peça da embarcação a serem relacionadas entre si, sendo que através do graminho é possível construir embarcações virtualmente idênticas no desempenho, porém diferentes na aparência.
Na verdade os saveiros são engenhos únicos da criatividade humana.





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