O Santíssimo
Sacramento (também conhecido apenas por Sacramento)
foi
um galeão português do século XVII.
Naufragou trágicamente a 5 de
maio de 1668 nos baixios do rio Vermelho,
em Salvador,
na capitania da Bahia, no Estado do Brasil.
Construído
na cidade do Porto por
Francisco Bento, em 1650 havia
sido a capitânia da Armada que tinha defendido a costa portuguesa dos piratas da Barbária, quando esteve artilhado com 60 canhões e guarnecido por 824
marinheiros e soldados. Logo na viagem inaugural, desbaratou três navios corsários de Dunquerque, que tentaram atacá-lo.
A
embarcação zarpou do porto de Lisboa em fevereiro de 1668, sob o comando
do general Francisco
Correia da Silva, na qualidade de capitânea da
escolta de uma frota de 50 embarcações armadas pela Companhia
Geral do Comércio do Brasil.
Embora
haja divergências entre os autores acerca do número de tripulantes, os números
variam de 400 a 600, repartidos entre marinheiros e soldados (a maioria) e
passageiros, predominando comerciantes e religiosos.
A
5 de maio, após uma viagem sem incidentes, o Sacramento chegou
à vista do porto de Salvador, na Bahia, com mau tempo. Ventos Sul, de grande
intensidade, impediam a entrada da frota na barra, levando a embarcação a
colidir contra o banco de Santo Antônio, submerso a cerca de cinco metros da
superfície, por volta das sete horas da noite.
Apesar
dos insistentes pedidos de socorro, fazendo disparar todas as suas peças de
artilharia, o galeão permaneceu por algumas horas à deriva, vindo a naufragar
por vota das onze horas da noite.
Assim
que foi informado do acidente, o governador da Capitania da Bahia, Alexandre
de Sousa Freire, remeteu todos os recursos e
pessoas disponíveis na Ribeira, mas diante do mau tempo e da distância, os
socorros só chegaram ao local do naufrágio na alvorada do dia seguinte:
"Acharam
feita em pedaços a nau,
e grande número de corpos, uns ainda vivos, vagando pelos mares, outros jazendo
já mortos nas areias (...), e só salvaram as vidas algumas pessoas, às quais se
pôs em salvo a sua fortuna e a diligência dos pescadores daquelas praias (...), e algumas poucas que sobre as
tábuas piedosamente despedaçadas no seu remédio se puseram em terra." (ROCHA PITA,
Sebastião da. História da América
Portuguesa, 1730.)
Das
centenas de tripulantes e passageiros, apenas se salvaram 70. O corpo do
general Correia da Silva, juntamente com o de centenas de outros, acabou por
dar à costa no dia seguinte.
Em
1973, os destroços do naufrágio do Santíssimo Sacramento foram
localizados por mergulhadores amadores, pescadores que averiguavam o motivo
pelo qual suas redes ficavam presas no fundo, nas geocoordenadas de 13° 02'
16 S e 30° 30' 14 O Gr, que comunicaram o achado tanto ao
Ministério da Marinha quanto ao Ministério da Educação e Cultura brasileiros. O
que restava do casco encontrava-se a 15 metros de profundidade, próximo a um
declive acentuado. Posteriormente, este vestígio deslizou pelo declive,
estabilizando-se a uma profundidade que varia entre vinte e cinco e trinta
metros.
A pesquisa da Marinha do Brasil
Após
uma sucessão de mergulhos não autorizados para a recuperação de artefatos, em
setembro de 1976 a polícia do Recife apreendeu seis canhões de bronze que iriam ser transportados ilegalmente
para São Paulo.
O fato despertou a atenção da opinião pública e das autoridades para a
importância do afundamento, fazendo com que se organizasse, pelo Ministério da
Marinha, uma operação de exploração detalhada e sistemática, de arqueologia
submarina.
A
tarefa ficou a cargo de uma equipe de trinta mergulhadores da arma, sob a
direção do arqueólogo Ulysses
Pernambucano de Mello,
com o apoio do NSS Gastão
Moutinho, estendendo-se de 1976 a
1978.
A
equipe procedeu a uma prospecção preliminar do sítio, nas geocoordenadas de 13º
12' 18S e 38º 30' 04 O Gr, identificando, a cerca de trinta e três
metros de profundidade, um aglomerado de pedras de lastro com cerca de trinta metros de extensão por treze de largura,
elevando-se a cerca de três metros do fundo. Este aglomerado estava cercado por
trinta e seis canhões de ferro e de bronze, assim como por cinco âncoras
e diversos restos de cerâmica.
Tendo
se procedido à identificação do afundamento, com base nas datas das peças de
artilharia mais recentes, na identificação, em diversas delas, da divisa Spero
in Deo, da Companhia Geral de Comércio do Brazil, e de moedas
portuguesas contra-marcadas, foram recuperados centenas de itens durante essa
campanha.
Posteriormente,
uma nova campanha foi desenvolvida, no local, de 1982 a 1983. Entre os itens
recuperados em ambas as campanhas, destacam-se:
34
canhões de bronze e oito de ferro fundido, de várias procedências, com datas
que variam de 1590 a 1653;
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