sábado, 25 de janeiro de 2014

ONU NA FLORESTA DE CHOCOLATE DA BAHIA

Eduardo Athayde
Diretor do WWI-Worldwatch Institute no Brasil
eduathayde@gmail.com

Floresta de Chocolate foi o nome cunhado
pelo Worldwatch Institute

(WWI) para exibir internacionalmente
a região cacaueira da Bahia, plantada
na mega diversa e ameaçada mata
atlântica. Rica, esquecida, mal percebida
e única no mundo, produz cerca de 4% do
cacau do planeta, sediando recordes
mundiais em biodiversidade, registrados
pelo Jardim Botânico de Nova York, e
produz chocolate em estado natural (semente
do cacau seca), guloseima cara e
altamente nutritiva, hoje muito consumida
na Europa, EUA e Japão.
A Organização Internacional do Cacau
(Icco), que classifica o Brasil em sexto
lugar no ranking dos países produtores,
não o destaca, como deveria, no primeiro
lugar como maior produtor de cacau em
ambiente de alta biodiversidade, chamando
a atenção dos
amantes do chocolate
e dos fundos verdes.
Como será que a
Icco se manifestará
agora com a força da
economia verde jorrando
dinheiro novo
nas florestas produtoras
de cacau/chocolate?
O Fundo Verde para
o Clima, aprovado
pela COP-19 (19ª Conferência
das Partes
da Convenção da
ONU sobre Mudança
do Clima), encerrada
em 22/11, em Varsóvia, poderá destinar
bilhões de dólares para projetos em países
em desenvolvimento, onde a Bahia é
destaque (não mostrado) com a sua Floresta
de Chocolate. O acordo prevê financiamento
de Redução de Emissões
por Desmatamento e Degradação de Florestas
(Redd), abrindo novos caminhos
para investimentos multibilionários de
governos, órgãos de fomento e empresas
privadas para deter o desmatamento.
Recente estudo piloto da mineradora
Vale levantou o valor dos serviços ambientais
de uma reserva florestal de 230
km² na pequena zona cacaueira do Espírito
Santo. Espécies, estoque de carbono,
fornecimento de água, regulação
do ar e do clima, entre outros, foram
precificados, revelando o valor do ativo
para a Vale e para a sociedade. O estudo
foi desenvolvido por um grupo multidisciplinar
de profissionais do Brasil,
EUA e Espanha, envolvendo o IBGE, a
Universidade de Berkeley e cientistas do
IPCC/ONU encarregados de mudanças
climáticas. O valor final encontrado foi
de US$ 1 bilhão.
Estava prevista para a primeira quinzena
deste mês a publicação, pelo Espírito
Santo, de uma instrução normativa
que permitirá computar o cacau cabruca
(produzido em sistema agroflorestal) como
área de reserva legal. Será o primeiro
entre os estados produtores de cacau a
oficializar tal condição. Se apenas 230
km² de floresta valem US$ 1 bilhão, quanto
vale a Floresta de Chocolate da Bahia
com 90 mil km², 89 municípios e suas
ricas, deliciosas e turísticas fazendas de
chocolate, recheadas desses valiosos ativos
ambientais?
Governos estão investindo em programas
de incentivo à rotulagem ambiental,
levando o mercado consumidor a privilegiar
os produtos com cuidados ambientais.
O governo alemão lançou o programa
de rotulagem ambiental, chamado
de Blue Engel, para estimular a e cooeficiência
nas empresas. O Canadá lançou
o Environmental Choice, logo seguido
pelo Japão, como Ecomark, pela Noruega,
Suécia e Finlândia,
com o Nordic Swan,
e pelos EUA, com o
Green Seal.
Hoje dezenas de
países conduzem
programas de rotulagem
ambiental,
formando o GEN
(Global Ecolabelling
Network). Sem ecorrotulagem,
as ricas
matas chocolateiras
da Bahia são comoditizadas
e sangradas
pela mão invisível
do mercado, sob
a forma de sacas de
cacau, cheias de riqueza e ignorância.
Organizações como a SOS Mata Atlântica,
Instituto Arapyaú, Instituto Cabruca e
Floresta Viva ajudam a romper a casca do
casulo que brota do ultrapassado conceito
de “região cacaueira” e a bater asas rumo
à nova equação “eco-nômica”. Os novos
chocolateiros da mata atlântica estão descobrindo
que as matas das fazendas de
chocolate são uma nova grife cobiçada pelo
mercado internacional e entendem que, na
economia verde, a preservação funciona
como uma poupança renovável de ativos
geradores de rendas in natura.
Descobriram ainda que o verdadeiro
chocolate e seus derivados têm alto teor
de cacau e, além de nutritivos, podem ser
produzidos localmente e vendidos mais
caro – com denominação de origem controlada
– por embutir o valor da biodiversidade

preservada.

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