Eduardo
Athayde
Diretor do
WWI-Worldwatch Institute no Brasil
eduathayde@gmail.com
Floresta
de Chocolate foi o nome cunhado
(WWI) para
exibir internacionalmente
a região
cacaueira da Bahia, plantada
na mega diversa
e ameaçada mata
atlântica.
Rica, esquecida, mal percebida
e única no
mundo, produz cerca de 4% do
cacau do
planeta, sediando recordes
mundiais
em biodiversidade, registrados
pelo
Jardim Botânico de Nova York, e
produz
chocolate em estado natural (semente
do cacau
seca), guloseima cara e
altamente
nutritiva, hoje muito consumida
na Europa,
EUA e Japão.
A
Organização Internacional do Cacau
(Icco),
que classifica o Brasil em sexto
lugar no
ranking dos países produtores,
não o
destaca, como deveria, no primeiro
lugar como
maior produtor de cacau em
ambiente
de alta biodiversidade, chamando
a atenção
dos
amantes do
chocolate
e dos
fundos verdes.
Como será
que a
Icco se
manifestará
agora com
a força da
economia
verde jorrando
dinheiro
novo
nas
florestas produtoras
de
cacau/chocolate?
O Fundo
Verde para
o Clima,
aprovado
pela
COP-19 (19ª Conferência
das Partes
da
Convenção da
ONU sobre
Mudança
do Clima),
encerrada
em 22/11,
em Varsóvia, poderá destinar
bilhões de
dólares para projetos em países
em
desenvolvimento, onde a Bahia é
destaque
(não mostrado) com a sua Floresta
de
Chocolate. O acordo prevê financiamento
de Redução
de Emissões
por
Desmatamento e Degradação de Florestas
(Redd),
abrindo novos caminhos
para investimentos
multibilionários de
governos,
órgãos de fomento e empresas
privadas
para deter o desmatamento.
Recente
estudo piloto da mineradora
Vale
levantou o valor dos serviços ambientais
de uma
reserva florestal de 230
km² na
pequena zona cacaueira do Espírito
Santo.
Espécies, estoque de carbono,
fornecimento
de água, regulação
do ar e do
clima, entre outros, foram
precificados,
revelando o valor do ativo
para a
Vale e para a sociedade. O estudo
foi
desenvolvido por um grupo multidisciplinar
de
profissionais do Brasil,
EUA e
Espanha, envolvendo o IBGE, a
Universidade
de Berkeley e cientistas do
IPCC/ONU
encarregados de mudanças
climáticas.
O valor final encontrado foi
de US$ 1
bilhão.
Estava
prevista para a primeira quinzena
deste mês
a publicação, pelo Espírito
Santo, de
uma instrução normativa
que
permitirá computar o cacau cabruca
(produzido
em sistema agroflorestal) como
área de
reserva legal. Será o primeiro
entre os
estados produtores de cacau a
oficializar
tal condição. Se apenas 230
km² de
floresta valem US$ 1 bilhão, quanto
vale a
Floresta de Chocolate da Bahia
com 90 mil
km², 89 municípios e suas
ricas,
deliciosas e turísticas fazendas de
chocolate,
recheadas desses valiosos ativos
ambientais?
Governos
estão investindo em programas
de
incentivo à rotulagem ambiental,
levando o
mercado consumidor a privilegiar
os
produtos com cuidados ambientais.
O governo
alemão lançou o programa
de
rotulagem ambiental, chamado
de Blue
Engel, para estimular a e cooeficiência
nas
empresas. O Canadá lançou
o
Environmental Choice, logo seguido
pelo
Japão, como Ecomark, pela Noruega,
Suécia e
Finlândia,
com o
Nordic Swan,
e pelos
EUA, com o
Green
Seal.
Hoje
dezenas de
países
conduzem
programas
de rotulagem
ambiental,
formando o
GEN
(Global
Ecolabelling
Network).
Sem ecorrotulagem,
as ricas
matas
chocolateiras
da Bahia
são comoditizadas
e
sangradas
pela mão
invisível
do
mercado, sob
a forma de
sacas de
cacau,
cheias de riqueza e ignorância.
Organizações
como a SOS Mata Atlântica,
Instituto
Arapyaú, Instituto Cabruca e
Floresta
Viva ajudam a romper a casca do
casulo que
brota do ultrapassado conceito
de “região
cacaueira” e a bater asas rumo
à nova
equação “eco-nômica”. Os novos
chocolateiros
da mata atlântica estão descobrindo
que as
matas das fazendas de
chocolate
são uma nova grife cobiçada pelo
mercado
internacional e entendem que, na
economia
verde, a preservação funciona
como uma
poupança renovável de ativos
geradores
de rendas in natura.
Descobriram
ainda que o verdadeiro
chocolate
e seus derivados têm alto teor
de cacau
e, além de nutritivos, podem ser
produzidos
localmente e vendidos mais
caro – com
denominação de origem controlada
– por
embutir o valor da biodiversidade
preservada.
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