Por JOACI
GÓES
Quando rãs são lançadas numa panela
de água fervendo, elas imediatamente saltam em pânico, pois sentem que seu meio
mudou drasticamente e que isso representa um risco para suas vidas.
Entretanto, quando colocadas numa panela com água de temperatura ambiente
e vai se esquentando
a panela, aos poucos terminam por morrer, pois não se dão
conta da gravidade do que está ocorrendo no seu entorno. Elas
literalmente são cozinhadas vivas!
Em nossa Salvador, aprendemos a conviver com a sujeira, a
desorganização, o trânsito caótico, a falta de um transporte público adequado,
a corrupção, a precariedade e falta de saneamento básico e de moradia, os
problemas de saúde, etc... Uma questão, no entanto, tem se destacado ainda mais
com relação às demais nos últimos anos: a da segurança, ou melhor, da falta
dela! Quando comparamos a Salvador de hoje com a dos anos 70 ou até 80, vemos a
situação caótica e inaceitável a que fomos,
gradativamente, obrigados a nos adaptar.
Pelo terceiro ano consecutivo Salvador apresenta o inacreditável número
de 1.500 homicídios/ano, em valores aproximados. A violência, hoje, é tão
parte de nosso cotidiano que, se perguntarmos, numa roda de cerca de 5 ou 6
moradores de nossa cidade, quem daquele grupo nunca sofreu algum assalto ou
tentativa de assalto, veremos que é raro encontrar um que declare nunca nada
ter ocorrido com ele. Se essa parte do raciocínio é verdadeira, logicamente
podemos concluir com alarmante preocupação que nossas crianças de hoje terão
enorme probabilidade de sofrer algum tipo de violência no futuro.
Se nada mudar e pela maneira crescente com que estes índices estão
aumentando em nossa cidade, o azar delas é sensivelmente maior do que o do
grupo dos mais velhos. Impotentes, resta-nos torcer para que nossos
filhos sofram o mínimo quando deste inevitável encontro. Todos já sabemos
que esse problema, há anos, tem feito com que turistas evitem Salvador. Em
razão disso, mais recentemente, um outro fenômeno se iniciou, o de moradores
que estão resolvendo abandonar a capital baiana.
Passando uma temporada em Madri, comecei a conhecer de verdade a cidade.
Apesar de advertido para não esperar muito da cidade, por conta da
gravíssima crise que teimosamente insiste em permanecer desde outubro de 2008,
para minha grata surpresa, tudo o que imaginava encontrar da problemática
social e de carência em infraestrutura, em função da estagnação da economia, se
apresentou exatamente de maneira oposta. Apesar dos altos níveis de desemprego
que bateram recordes no ano passado, os espanhóis não deixaram até o momento a
“peteca cair”. Pelo contrário, a malha rodoviária e ferroviária, os
transportes, a educação, a saúde, o lazer, os serviços em geral, tudo, enfim,
está num patamar de fazer inveja ao mais desenvolvido dos países.
De todos esses aspectos, o que mais me impressionou positivamente foi o
da segurança. Vivendo o ápice de sua crise e com mais do que o dobro de
habitantes que Salvador, Madri registrou no ano de 2012 incríveis trinta e
quatro homicídios. Isso mesmo, 34! Ainda mais espantosa é a taxa de
93.7% de êxito da polícia local no que diz respeito à resolução da autoria
desses crimes.
Recentemente, fui convidado por um amigo policial, Toni Perez, que
trabalha numa delegacia do 15º distrito mais populoso da comunidade autônoma de
Madrid - de um total de 179 -, para conhecer a estrutura de sua delegacia e os
diversos bairros de seu distrito, que se chama Rivas-Vaciamadrid. Lá se
encontra Valdemingoméz, uma das localidades de Madri considerada das mais
perigosas. Valdemingoméz é um centro de distribuição de drogas com
comunidades e clãs de ciganos, marroquinos e romenos. Ela foi ocupando ao
longo dos anos um antigo caminho que desde a época medieval era usado para
abastecer Madrid dos rebanhos a serem abatidos para carne, a Cañada Real.
Curioso, perguntei ao Toni qual foi no ano passado o número de
homicídios de seu distrito de quase 80 mil habitantes e considerado perigoso.
Para meu espanto, ele me respondeu com tranquilidade: “Ano passado não tivemos
um homicídio sequer, aliás, te digo mais, desde que trabalho nesta delegacia,
há exatos 12 anos, nunca tivemos um único caso”.
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