segunda-feira, 14 de abril de 2014

FATOS QUE FICARAM NA HISTÓRIA DA BAHIA

“Nunca liguei muito para o negócio das duas polegadas a mais”
DEPOIMENTO DE MARTA ROCHA


“Os jornalistas inventaram que eu só não ganhei o título de Miss Universo em 1954  porque tinha duas polegadas a mais nos quadris.

 Naquele 11 de setembro, domingo, quando cheguei a Los Angeles, a terra dos astros e estrelas do cinema, havia muita gente no aeroporto, esperando as misses latino-americanas. Falei com vários jornalistas brasileiros que trabalhavam em Hollyhood. Nenhum deles me disse nada, mas acho que ficaram bastante impressionados com a Miss Brasil.
Finalmente, no dia 22, começou a eliminatória do concurso. Não me emocionei quando me vi incluída entre as 15 finalistas. Estava tudo bem. Já não dizia o mesmo quanto às cinco classificadas para a decisão. Meus receios eram em relação a Regina, Miss Alemanha, e Miriam Stevenson, dos Estados Unidos, ambas belíssimas.

Houve três desfiles perante o júri, as cinco moças se esmerando em sorrisos e volteios, sob os aplausos da multidão. Eu estava convencida que a vitoriosa seria a Miss Alemanha, embora achasse que tinha a minha chance.
Principalmente, porque lia na cada dos juízes sua admiração por minha pessoa. Mas quando indicaram a alemãzinha para o quinto lugar, fiquei gelada. Estávamos todas nos bastidores, e, à proporção que nos chamavam, subíamos ao palco. Assim ouvi os nomes de Miss Hong Kong e Miss Suécia, seguidos de uma pausa. Só falta a segunda e a primeira colocadas. Foi quando os microfones gritaram: Miss Brasil! Confesso que não me decepcionei com o resultado. Apenas me lembrei do meu país, do Brasil, que tanto precisava de alguma coisa boa.
Durante estes últimos anos fui uma mulher preocupada em fazer as coisas direito. Desde que cheguei ao Brasil, trazendo o título de vice-Miss Universo, sabia que não mais me pertencia inteiramente. O concurso revolucionou minha vida. Apesar de muito jovem, tive maturidade suficiente para escolher o caminho certo. Além disso, sempre tive uma grande dose de esportividade para encarar o movimento que se formou ao meu redor.
Hoje, tanto tempo depois, confesso que jamais liguei para o negócio das duas polegadas. Eu, na época era ambiciosa, mas o título de Miss Universo não era tudo para mim. O segundo lugar, sem dúvida, foi maravilhoso o suficiente para me dar enorme alegria. Meus amigos costumam dizer que as pessoas param numa determinada idade. Eu, espiritualmente, parei nos 19 anos. Minha cabeça é a mesma. O coração? Ah, vai muito bem. Graças a Deus, não tenho taquicardia.”

  

“Por duas polegadas a mais,/ Passaram a baiana pra trás./ Por duas polegadas,/ E logo nos quadris./ Tem dó, tem dó, seu juiz”. Essa marcha, de Pedro Caetano e Acir, foi gravada pela própria Marta Rocha, Misse Brasil de 1954, para comemorar com charme e humor, sua derrota no concurso de Miss Universo, no carnaval desse mesmo ano.  

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