“Nunca liguei muito
para o negócio das duas polegadas a mais”
DEPOIMENTO DE MARTA
ROCHA
“Os
jornalistas inventaram que eu só não ganhei o título de Miss Universo em
1954 porque tinha duas polegadas a mais
nos quadris.
Naquele 11 de setembro, domingo, quando
cheguei a Los Angeles, a terra dos astros e estrelas do cinema, havia muita
gente no aeroporto, esperando as misses latino-americanas. Falei com vários
jornalistas brasileiros que trabalhavam em Hollyhood. Nenhum deles me disse
nada, mas acho que ficaram bastante impressionados com a Miss Brasil.
Finalmente,
no dia 22, começou a eliminatória do concurso. Não me emocionei quando me vi
incluída entre as 15 finalistas. Estava tudo bem. Já não dizia o mesmo quanto
às cinco classificadas para a decisão. Meus receios eram em relação a Regina,
Miss Alemanha, e Miriam Stevenson, dos Estados Unidos, ambas belíssimas.
Houve três
desfiles perante o júri, as cinco moças se esmerando em sorrisos e volteios,
sob os aplausos da multidão. Eu estava convencida que a vitoriosa seria a Miss
Alemanha, embora achasse que tinha a minha chance.
Principalmente,
porque lia na cada dos juízes sua admiração por minha pessoa. Mas quando
indicaram a alemãzinha para o quinto lugar, fiquei gelada. Estávamos todas nos
bastidores, e, à proporção que nos chamavam, subíamos ao palco. Assim ouvi os
nomes de Miss Hong Kong e Miss Suécia, seguidos de uma pausa. Só falta a
segunda e a primeira colocadas. Foi quando os microfones gritaram: Miss Brasil!
Confesso que não me decepcionei com o resultado. Apenas me lembrei do meu país,
do Brasil, que tanto precisava de alguma coisa boa.
Durante
estes últimos anos fui uma mulher preocupada em fazer as coisas direito. Desde
que cheguei ao Brasil, trazendo o título de vice-Miss Universo, sabia que não
mais me pertencia inteiramente. O concurso revolucionou minha vida. Apesar de
muito jovem, tive maturidade suficiente para escolher o caminho certo. Além
disso, sempre tive uma grande dose de esportividade para encarar o movimento
que se formou ao meu redor.
Hoje, tanto
tempo depois, confesso que jamais liguei para o negócio das duas polegadas. Eu,
na época era ambiciosa, mas o título de Miss Universo não era tudo para mim. O
segundo lugar, sem dúvida, foi maravilhoso o suficiente para me dar enorme
alegria. Meus amigos costumam dizer que as pessoas param numa determinada
idade. Eu, espiritualmente, parei nos 19 anos. Minha cabeça é a mesma. O
coração? Ah, vai muito bem. Graças a Deus, não tenho taquicardia.”
“Por duas polegadas a mais,/ Passaram
a baiana pra trás./ Por duas polegadas,/ E logo nos quadris./ Tem dó, tem dó,
seu juiz”. Essa marcha, de Pedro Caetano e Acir, foi gravada pela própria Marta
Rocha, Misse Brasil de 1954, para comemorar com charme e humor, sua derrota no
concurso de Miss Universo, no carnaval desse mesmo ano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário