Seis frades perdidos
A Bahia é
uma história de magias, até nas coisas de
Deus. Em 1960, seis frades portugueses, carmelitas descalços, vinham de
Lisboa para criar um convento em Angola por ordem do rei de Portugal. Desceram
aqui em Salvador, capital do Brasil de 1549 a 1759. Por falta de barcos,
ficaram oito meses na Bahia, sofrendo provações e doenças, e voltaram para
Portugal.
Cinco anos
depois, em 1665, os carmelitas descalços conseguiram uma Carta Régia, autorizando-os
a fundarem um convento em Salvador.
Desembarcaram
na Bahia Freio José do Espírito Santo – prior e responsável pela fundação -,
três monges e dois irmãos leigos.
Instalaram-se
na Ladeira da Preguiça – a mesma da bela canção de Gilberto Gil – e criaram um
pequeno hospício, diante e acima do mar, em terreno doado pelo rei de Portugal
Dom Afonso VI. Pedindo e ganhando esmolas e ajudas, em 1667, começaram a
construir ao lado o majestoso convento Tereza D’Ávila, para onde se mudaram em
1686. Dez anos depois, em outubro de 1697, foi inaugurada a igreja.
CONVENTO E BANCO
“Belíssimo
monumento arquitetônico, um dos maiores em todo mundo português, dos mais belos
monumentos da arte colonial brasileira, o mais representativo da arquitetura de
além-mar, de grande semelhança com o convento dos Remédios e Évora, em
Portugal”.
É assim que
a Universidade Federal da Bahia (UFBA) o define. Os religiosos se
dedicavam sobretudo “à defesa dos
indígenas”. Como não podiam trazer mais frades de Portugal, criaram o colégio de
estudos para formar missionários..
O século
XVIII foi o grande apogeu pelas inúmeras obras artísticas, com altares e
paineis. Por segurança, o convento virou banco. Ali eram depositadas grandes
somas de dinheiro, emprestado a terceiros, cujos juros permitiam as obras. Eram
comuns as doações, sobretudo, para túmulos das famílias.
SEMINÁRIO E MUSEU
No século
XIX, veio à decadência. Em 1822, na Independência, o convento serviu de
alojamento para as tropas portuguesas durante a luta pela independência da Bahia,
até 2 de julho de 1823. A Câmara de Vereadores de Salvador pediu ao Imperador a
expulsão dos monges para Portugal. O imperador não expulsou, mas, aos poucos, o convento foi
morrendo, restando apenas um velho padre e dois leigos, quando em 1840 uma lei
provincial extinguiu a ordem. O convento virou seminário Arquiepiscopal da
Bahia. Daí surgiram lendas sobre riquezas escondidas nos subterrâneos, algumas
confirmadas no começo do século XX, em que foram encontrados vários tesouros,
como a soberba de ouro, de um metro, toda cravejada de brilhantes, quando o
assoalho de madeira foi substituído por ladrilhos.
Um túnel
misterioso de um metro de diâmetro, sempre com água, e que acabava nos
primeiros 50 metros, era o fascínio de nossos longos anos de Seminário, porque
a lenda conta que ele levava os monges na fuga para o mar.
Em 1953, o
seminário saiu de lá e, em 1958, a Universidade Federal da Bahia UFBA) o
assumiu e o transformou nesse magnífico Museu de Arte Sacra, “relicário da arte
religiosa, um dos mais importantes museus da América”.
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