segunda-feira, 14 de abril de 2014

HISTÓRIAS DE SEBASTIÃO NERY

Seis frades perdidos


A Bahia é uma história de magias, até nas coisas de  Deus. Em 1960, seis frades portugueses, carmelitas descalços, vinham de Lisboa para criar um convento em Angola por ordem do rei de Portugal. Desceram aqui em Salvador, capital do Brasil de 1549 a 1759. Por falta de barcos, ficaram oito meses na Bahia, sofrendo provações e doenças, e voltaram para Portugal.
Cinco anos depois, em 1665, os carmelitas descalços conseguiram uma Carta Régia, autorizando-os a fundarem um convento em Salvador.
Desembarcaram na Bahia Freio José do Espírito Santo – prior e responsável pela fundação -, três monges e dois irmãos leigos.
Instalaram-se na Ladeira da Preguiça – a mesma da bela canção de Gilberto Gil – e criaram um pequeno hospício, diante e acima do mar, em terreno doado pelo rei de Portugal Dom Afonso VI. Pedindo e ganhando esmolas e ajudas, em 1667, começaram a construir ao lado o majestoso convento Tereza D’Ávila, para onde se mudaram em 1686. Dez anos depois, em outubro de 1697, foi inaugurada a igreja.

CONVENTO E BANCO

“Belíssimo monumento arquitetônico, um dos maiores em todo mundo português, dos mais belos monumentos da arte colonial brasileira, o mais representativo da arquitetura de além-mar, de grande semelhança com o convento dos Remédios e Évora, em Portugal”.
É assim que a Universidade Federal da Bahia (UFBA) o define. Os religiosos se dedicavam  sobretudo “à defesa dos indígenas”. Como não podiam trazer mais frades de Portugal, criaram o colégio de estudos para formar missionários..
O século XVIII foi o grande apogeu pelas inúmeras obras artísticas, com altares e paineis. Por segurança, o convento virou banco. Ali eram depositadas grandes somas de dinheiro, emprestado a terceiros, cujos juros permitiam as obras. Eram comuns as doações, sobretudo, para túmulos das famílias.

SEMINÁRIO E MUSEU

No século XIX, veio à decadência. Em 1822, na Independência, o convento serviu de alojamento para as tropas portuguesas durante a luta pela independência da Bahia, até 2 de julho de 1823. A Câmara de Vereadores de Salvador pediu ao Imperador a expulsão dos monges para Portugal. O imperador não expulsou, mas, aos poucos, o convento foi morrendo, restando apenas um velho padre e dois leigos, quando em 1840 uma lei provincial extinguiu a ordem. O convento virou seminário Arquiepiscopal da Bahia. Daí surgiram lendas sobre riquezas escondidas nos subterrâneos, algumas confirmadas no começo do século XX, em que foram encontrados vários tesouros, como a soberba de ouro, de um metro, toda cravejada de brilhantes, quando o assoalho de madeira foi substituído por ladrilhos.
Um túnel misterioso de um metro de diâmetro, sempre com água, e que acabava nos primeiros 50 metros, era o fascínio de nossos longos anos de Seminário, porque a lenda conta que ele levava os monges na fuga para o mar.

Em 1953, o seminário saiu de lá e, em 1958, a Universidade Federal da Bahia UFBA) o assumiu e o transformou nesse magnífico Museu de Arte Sacra, “relicário da arte religiosa, um dos mais importantes museus da América”. 

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